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O samba original - e de fato - de Pedro Miranda

Um amulatado Pedro Miranda estampa a capa de ‘Samba original’, terceiro – e excelente – disco solo deste cantor e músico carioca, que ganhou notoriedade tocando no Grupo Semente, na Lapa. A foto remete à figura romanceada dos sambistas da primeira metade do século passado, de onde, não por acaso vem algumas pérolas do irretocável repertório. Pequenas belezas das quais Pedro espanou a poeira do tempo, restaurando-as com esmero e precisão, e dando-lhes contemporaneidade. De 1932 vem o clássico ‘A razão dá-se a quem tem’, de Ismael Silva e Noel Rosa. Gravado originalmente por Francisco Alves (1898 – 1952) e Mario Reis (1907 – 1981), a nova versão ganha as vozes macias de Pedrinho e de Caetano Veloso, convidado na faixa, num dueto que faz jus aos primeiros intérpretes. Também dos anos 1930, é o engraçado ‘Se passar da hora’, de Baiaco e Boaventura dos Santos, ou melhor, de Osvaldo Vasques, um dos fundadores da primeira escola de samba, a ‘Deixa falar’, e de Ventura, portelense de prime...

'Dorina canta sambas de Aldir & ouvir' atesta a fé na arte de cantar

Em sua estreia fonográfica, em 1996, Dorina já anunciava: “Eu canto samba”. A famosa composição de Paulinho da Viola deu nome ao primeiro disco da cantora carioca. De lá para cá, Dorina lançou mais sete álbuns, entre os quais, ‘Sambas de Almir’ (2003) e ‘Sambas de Luiz’ (2013), dedicados, respectivamente, às obras dos sambistas Almir Guineto e Luiz Carlos da Vila (1949 – 2008). Na noite de quinta-feira, 16 de junho de 2016, Dorina estreou seu novo show no Teatro Ziembinski, ‘Dorina canta sambas de Aldir & ouvir’ que, tomara, ganhe registro em disco. Dedicado ao letrista Aldir Blanc, que comemora 70 anos em setembro, o show traz a cantora em grande forma, surpreendendo o público ao se distanciar momentaneamente dos temas mais buliçosos de quadra e terreiro que pontuam sua discografia. Acompanhada por Paulo 7 Cordas, Ramon Araújo (violão) e Rodrigo Reis (percussão), Dorina amacia seu canto para desfiar o repertório que equilibra sucessos e joias menos conhecidas do mítico comp...

Em boa forma, Fernanda Abreu volta à cena com 'Amor geral'

Precursora do uso de samples e beats eletrônicos na década de 1990, Fernanda Abreu está de volta com ‘Amor geral’ (Garota Sangue Bem/ Sony Music). Doze anos após ‘Na paz’, seu último disco de estúdio, Fernanda atualiza seu suingue, escalando novos parceiros e produtores, sem perder a sonoridade personalíssima, marca indelével de sua carreira solo. Essencialmente romântico, ainda que muitas vezes dançante, ‘Amor geral’ relata partidas e chegadas, romances e cenas cotidianas sob a ótica otimista da cantora e compositora carioca. Produzida por Pedro Bernardes, a faixa ‘Outro sim’ (Fernanda Abreu/ Gabriel Moura/ Jovi Joviniano) abre a pista de dança contemporânea com o sedutor arranjo eletrônico embalando a letra esperta: “Sempre haverá outra esquina/ Outra beleza, outro cara, outra mina/ Sempre haverá um mané, sem noção, um otário/ Querendo atrasar”. Igualmente irresistível é ‘Tambor’ (Fernanda Abreu/ Gabriel Moura/ Jovi Joviniano/ Afrika Bambaataa), na qual Fernanda mais uma vez re...

'Música e maresia' traz à luz o pop de Dulce Quental

  Surgida na década de 1980, como vocalista do grupo feminino Sempre Livre, a cantora e compositora carioca Dulce Quental está lançando ‘Música e maresia’, álbum em que reúne canções gravadas nos anos 1990, principalmente em 1994, que permaneciam inéditas na sua voz. Concebido por Dulce, que também assina a produção juntamente com Mariano Klautau Filho e Leo Bitar, ‘Música e maresia’ sai pelo selo Cafezinho Edições, por ora em formato digital – uma edição em vinil está prevista em junho. Acompanhada por músicos como Nilo Romero (produtor musical do disco embrionário que gerou o novo projeto), Jaques Morelenbaum, Marcelo Costa, Sasha Amback e por seu principal parceiro, Robert Frejat, Dulce Quental desfia um rosário de pérolas pop, que brilham com maior e menor intensidade. Ainda que a compositora seja mais interessante – com seu depurado estilo pop com conteúdo –, a cantora dos antigos sucessos ‘Sou free’ (Ruban/ Patrícia Travassos), ‘Esse seu jeito sexy de ser’ (Patrícia Trav...

Arranjos elegantes revestem 'Nas estâncias de Dzyan'

Cantor, compositor e instrumentista, Juliano Gauche lança ‘Nas estâncias de Dzyan’ pelo selo EAEO. Radicado em São Paulo desde 2010, o artista capixaba parece bem ambientado na cena musical contemporânea paulistana, como indicam os arranjos elegantemente vintages assinados por Junior Boca e Tatá Aeroplano, com destaque para a faixa-título, ‘Nas estâncias de Dyzan’, inspirada nos conceitos de teosofia de Helena Petrovna Blavatsky  (1831 - 1891), escritora russa cuja obra também influenciou o cantor e compositor carioca Jorge Vercillo no disco ‘ Como diria Blavatsky’ (2011).   ‘Clarão’ e ‘Muito esquisito’ são outros bons momentos, realçados pelos arranjos, pontuados por belos timbres.  Juliano (voz e violão), que assina a produção e oito das nove faixas, é acompanhado Junior Boca (guitarra e violão), João Leão (teclados), Daniel Lima (baixo) e Gustavo Souza (bateria).   Gauche explicita sua inadequação existencial em letras diretas, sem floreios. “Sim, tudo isso v...

Dupla atualiza a obra do mestre Ismael Silva

Reformador do seminal samba amaxixado de Donga (1890 – 1974), Sinhô (1888 – 1930) e companhia, Ismael Silva (1905 – 1978) também traz em seu currículo a criação da primeira escola de samba, a Deixa Falar, em 1929. Revelado por Francisco Alves (1898 – 1952), o ‘Rei da voz’, o sambista do Estácio viu suas composições, muitas vezes feitas com os parceiros Nilton Bastos (1899  – 1931)  e Noel Rosa (1910  – 1937) , além do próprio Chico Alves, ganharem registros, com orquestrações de acento... amaxixado. Afinal os músicos do novo samba, vistos com reservas, não transitavam pelos estúdios de gravação. Desilusão amorosa, crônica social bem-humorada, ótica machista e exaltação da malandragem eram temas do novo ritmo/ gênero, que virariam modelos para as futuras gerações. Violonista experiente, que chegou a acompanhar o mestre Ismael em seus últimos anos de vida, Cláudio Jorge se juntou ao cantor Augusto Martins para gravar o CD ‘Ismael Silva: Uma escola de samba’, pela gravad...

CD 'Sambas de enredo 2016' não registra nenhuma joia do gênero

O CD ‘Sambas de Enredo 2016’, distribuído pela Universal Music, marca o benfazejo arrefecimento dos enredos patrocinados. Apesar das variações temáticas, que passam pelo circo, a malandragem, São Jorge, uma cantora de MPB e uma dupla sertaneja, entre outros, não há espaço para leveza (‘O amanhã’, ‘Domingo’), melancolia (‘Os sertões’, ‘E eles verão a Deus’), irreverência (‘E por falar em saudade’, ‘Mamãe eu quero Manaus’), crítica social (‘Seca do Nordeste’, ‘100   anos de liberdade, realidade ou ilusão?’) ou autocrítica (‘Bumbum paticumbum prugurundum’, ‘Hoje tem marmelada?’) na nova safra. Nos parâmetros atuais do gênero, os melhores sambas são: a empolgante “Ópera dos malandros”, da Acadêmicos do Salgueiro, ‘Maria Bethânia, a menina dos olhos de Oyá’, samba homenagem típico da Estação Primeira de Mangueira, e ‘Salve Jorge! O guerreiro da fé’, da querida Estácio de Sá, de volta ao Grupo Especial.  Ok, o hino da Imperatriz Leopoldinense é bom, mas o universo sertanejo já te...