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'Vanusa Santos Flores' marca a tocante volta da cantora ao disco

Frequentadora das paradas de sucesso dos anos 1970, quando lançou seus discos mais interessantes, Vanusa passou duas décadas longe dos estúdios de gravação. Depois desse jejum fonográfico, a intérprete dos sucessos ‘Manhãs de setembro’ (1973) e ‘Paralelas’ (1977) ressurge com o CD ‘Vanusa Santos Flores’, concebido e produzido por Zeca Baleiro para o seu selo ‘Saravá Discos’. O teor autobiográfico do curto e bem escolhido repertório expõe os sentimentos de uma mulher de 68 anos, que passou por poucas e (outras nem tão) boas e, de certa forma, conecta ‘Vanusa Santos Flores’ ao espetacular ‘A mulher do fim do mundo’, de Elza Soares. As imperfeições do canto, por vezes frágil, de Vanusa não são camufladas, tornando suas interpretações ainda mais significativas. Canções contundentes como ‘Compasso’ (“Pra viver eu transformei meu mundo/ Abro feliz o peito, é meu direito”), de Angela Ro Ro e Ricardo MacCord (2006), ou ‘Abre aspas’ (“O mundo anda em linha reta/ Eu ando em linha torta”), de ...

Sem surpresas, Djavan lança o correto 'Vidas pra contar'

Sucessor de ‘ Rua dos amores ’ (2012), ‘Vidas pra contar’, 23º disco de Djavan, assinala os 40 anos de carreira do artista, contados a partir de sua participação no ‘Festival Abertura’ promovido pela Rede Globo em 1975, com o samba ‘Fato Consumado’. Como no CD anterior, Djavan assina, além das 12 faixas inéditas, a produção e os arranjos do novo álbum, lançado por seu selo, Luanda Records, com distribuição da gravadora Sony Music. Um trabalho aparentemente solitário, que ele divide no estúdio com os músicos Carlos Bala (bateria), Marcelo Mariano (baixos), João Castilho (guitarra e violão), Marcelo Martins (flauta, sax tenor e sax soprano), Jessé Sadoc (trompete e flugelhorn), Paulo Calasans (teclados), cujos nomes estão presentes em muitos discos lançados pelo cantor e compositor alagoano ao longo das últimas quatro décadas. As reconhecidas melodias elaboradas, as divisões rítmicas sutis e o jeito característico de dispor das palavras estão lá, impressos a partir da primeira fai...

'Delírio', de Roberta Sá, promete e não cumpre

Ao largo das ousadias musicais de veteranas como Gal Costa e Elza Soares, Roberta Sá está de volta ao samba em ‘Delírio’ (MP,B Discos/ Som Livre), quinto álbum da discografia inaugurada oficialmente com ‘Braseiro’, em 2005, ainda hoje o seu melhor disco. ‘Braseiro’ tinha uma leveza descompromissada que Roberta foi perdendo gradativamente ao longo da carreira. A bela potiguar foi gostando de brincar de diva da canção, posto que, naturalmente, não se ocupa apenas por vontade própria. É esta cantora dada a interpretações pretensiosas que se ouve em ‘Delírio’. Produzido com apuro por Rodrigo Campello que a acompanha desde o primeiro lançamento, o novo trabalho não alça voo. Roberta canta as dez canções do mesmo jeito cálido e afetado que (muito) pouco se assemelha ao ambiente envolvente e (quase sempre) buliçoso do samba. Seja na composição de Adriana Calcanhotto, ‘Me erra’ (2015), ou numa admirável parceria de Baden Powell (1937 – 2000) e Paulo César Pinheiro, ‘Última forma’, lançada p...

Show 'Estratosférica' traz Gal Costa em estado de graça

Gal Costa cantou (muito bem), dançou e até ensaiou uma das suas famosas corridinhas, comuns nos anos 1980, no palco do Vivo Rio, na estreia carioca do show ‘Estratosférica’, na noite de sábado, 10 de outubro de 2015. Irradiando felicidade e segurança, a cantora comemora seus 50 anos de carreira nos braços de uma nova legião de fãs, que se aproximou a partir do disco/show ‘Recanto’. Os 70 anos lembrados por ela em ‘Meu nome é Gal’, primeiro número do bis, parecem não pesar. Sem concessões ao seu passado de excelente intérprete de mestres como Ary Barroso, Dorival Caymmi e Tom Jobim, ou mesmo de alguns medalhões da MPB também associados à sua discografia, como Chico Buarque e Djavan, a baiana priorizou seu lado mais roqueiro no roteiro que inclui a inédita ‘Pelo fio’ (Marcelo Camelo), ‘Cartão postal’ (Rita Lee/ Paulo Coelho) e ‘Os alquimistas estão chegando’ (Jorge Ben Jor), entre outras surpresas. Os arranjos executados pela competente banda formada por Thomas Harres (bateria), Maurí...

Elza Soares volta a ser impactante como 'A mulher do fim do mundo'

Elza Soares traz à luz seus recantos escuros, impregnados de sangue e suor, prazeres e lágrimas no urgente ‘A mulher do fim do mundo’ (Circus/ Natura Musical ), seu 34º disco, o primeiro inteiramente de inéditas em mais de seis décadas de carreira. Conduzida pelo músico e produtor carioca residente em São Paulo, Guilherme Kastrup, a mulata desfila seu enredo entre estranhezas sonoras de uma das turmas da fervilhante cena musical paulistana contemporânea. O resultado é impactante. Linhas de baixo (Marcelo Cabral) bem marcadas, guitarras rascantes (Kiko Dinucci e Rodrigo Campos), percussão (Felipe Roseno) e bateria (Kastrup) sem enfeites formam a áspera base das faixas, algumas delas adensadas por dramáticos naipes de cordas e de metais. No entanto, é a voz solitária da mulher do fim do mundo que se ouve em ‘Coração do mar’, que traz versos de Oswald Andrade musicados por José Miguel Wisnik. Um navio “humano, quente, negreiro do mangue” que aporta na canção-título, composta por Romulo ...

Joias de Beto Guedes e Ronaldo Bastos reluzem na voz de Jussara Silveira

Jussara Silveira reuniu dez composições assinadas por Beto Guedes e Ronaldo Bastos em ‘Pedras que rolam, objetos luminosos’, disco lançado pelo selo Dubas Música, via gravadora Universal Music. Produzido por Marcelo Costa (bateria e percussão) e Sacha Amback (piano, teclados e programação), ‘Pedras que rolam, objetos luminosos’ reafirma a perenidade e a contemporaneidade dos temas escritos sob a ótica agregadora, existencialista e libertária do lendário Clube da Esquina, do qual Guedes e Bastos foram sócio-fundadores. Uma de nossas cantoras mais interessantes, cuja voz toca o timbre de um jovem Beto Guedes em alguns momentos, Jussara espana qualquer possível poeira acumulada na longa estrada do tempo que separa as canções lançadas pelo artista mineiro nos discos ‘A página do relâmpago elétrico’ (1977), ‘Amor de índio’ (1978), ‘Sol de primavera’ (1979), ‘Contos da lua vaga’ (1981) e ‘Viagem das mãos’ (1984). Os belos arranjos de Sacha Amback atualiza...

Musa de qualquer geração, Gal chega aos 70

Nascida no dia 26 de setembro de 1945, no bairro da Graça, na cidade de Salvador, no estado da Bahia, Maria da Graça Costa Pena Burgos surgiu na cena musical soteropolitana na década de 1960. Ainda era Gracinha quando conheceu o futuro parceiro artístico, Caetano Veloso, e o ídolo João Gilberto que, embevecidos pelo frescor e afinação de seu canto moderno, afirmaram que ela era a maior cantora do Brasil. Em 1967, já com o nome artístico de Gal Costa lançou seu primeiro long play , dividido com Caetano. ‘Domingo’ rendeu à dupla o primeiro clássico, ‘Coração vagabundo’. Pouco depois a suavidade bossanovista deu lugar ao canto gutural e roqueiro. Era preciso estar atento e forte. Musa do movimento Tropicalista, Gal viu seus companheiros, Gilberto Gil e Caetano Veloso, partirem para o exílio londrino. Em plena ditadura militar, ela lotava o Teatro Tereza Rachel durante as históricas apresentações do show ‘Fa-Tal, Gal a todo vapor’. “Quero ver de novo a luz do sol!”, cantava naqueles te...