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'Inversões', de Regina Souza, reitera vertente da MPB

Terceiro disco da cantora mineira Regina Souza, ‘Inversões’ (Vida Urbana/ Biscoito Fino), apresenta clássicos da música norte-americana vertidos para o português. O repertório traz antigas versões feitas por Haroldo Barbosa (‘Beguin the beguine’, de Cole Porter), Aloysio de Oliveira (‘Sol da meia-noite’, para ‘Midnight sun’, de Johnny Mercer, Lionel Hampton e Sonny Burke), Jair Amorim (‘Amor é sempre amor’, para ‘As time goes by’, de Herman Hupfeld) e João de Barro (‘Oh, que dia tão feliz’, para ‘It’s a hap-hap happy day’, de J. Neiburg, Sammy Timberg e Winston Sharples). Todas de um tempo em que os versionistas não se preocupavam com a tradução literal, e conseguiam imprimir sua personalidade artística nas canções. Qualidade herdada por compositores de gerações posteriores como Augusto de Campos (‘Louca me chamam’, para ‘Crazy he calls me’, de Carl Sigman e Sidney Russel), Nelson Motta (‘Como um rio’, para ‘Cry me a river’, de Arthur Hamilton), Rita Lee (‘Blue moon’, de Richard R...

Rosa em preto e branco

Composta num breve espaço de tempo, a extraordinária obra de Noel Rosa (1920 – 1937) continua a seduzir cantoras de variadas gerações e estilos. De Aracy de Almeida (1914 -1988) e Marília Batista (1918 – 1990), intérpretes admiradas pelo próprio compositor carioca, a Maria Bethânia e Gal Costa, cantoras modernas que registraram músicas do poeta da Vila em diferentes fases de suas carreiras. Cronista de costumes de um tempo em que a malandragem ainda era cordial, Noel possuía uma visão peculiar dos acontecimentos e da sociedade, que rendeu composições impregnadas de lirismo e/ ou sarcasmo, joias da música popular brasileira. Vinte e duas destas preciosidades, algumas retiradas do baú do esquecimento, voltam a reluzir em ‘Noel Rosa, preto e branco’, álbum duplo que Valéria Lobão lança pelo selo Tenda da Raposa. A afinada cantora carioca, também idealizadora e produtora executiva do CD, troca a aparente informalidade dos sambas, foxes, modinhas e outros gêneros perpetuados na produção ...

Banda A Fase Rosa expõe MPB contemporânea com 'Leveza'

Surgida em Belo Horizonte, em 2009, a banda A Fase Rosa tem seu nome inspirado na chamada ‘fase rosa’ de Pablo Picasso (1881 – 1973). A mistura de gêneros musicais, como carimbó, forró, samba, bossa nova, maracatu e até marchinha carnavalesca, resulta numa aquarela de cores fortes, que parece refletir o momento criativo do pintor espanhol. Formada por Thales Silva (guitarra/ violão/ cavaco/ voz), Rafael José (guitarra/ viola caipira/ voz), Rodrigo Magalhães (baixo/ voz) e Fernando Monteiro (bateria/ percussão/ voz), A Fase Rosa por ora disponibiliza em seu site (clique aqui ) o segundo álbum da banda, ‘Leveza’. São doze faixas que transbordam experimentalismo na sonoridade realçada por guitarras espertas e universais. A crítica social esta presente em músicas como ‘Guanabara’ (Thales Silva), retrato do antigo distrito federal, onde “a ética derrete ao calor do verão”, nos versos contidos na faixa de forte acento tropicalista. Aliás, é notória a influência da obra de Caetano Veloso,...

De bem com a vida, Bethânia arrebata em 'Abraçar e agradecer'

Com a estreia da turnê ‘Abraçar e agradecer’ na noite de sábado, 10 de janeiro de 2015, no Vivo Rio, Maria Bethânia deu início aos festejos pelos seus 50 anos de carreira. Pisando nos astros distraída, graças à bela cenografia da diretora Bia Lessa, Bethânia parece também pairar sobre águas revoltas, verdes campos ou um mar de rosas vermelhas, que surgem no tablado high-tech onde são projetadas imagens de acordo com o roteiro musical – modernas telas de leds iluminam os quintais da baiana. Bia Lessa finalmente deixou de lado o balé de luzinhas que tão bem compuseram o cenário do antológico ‘Brasileirinho’ (2003), mas que vinha sendo repetido à exaustão. Em 'Abraçar e agradecer',  f eixes de luz se movimentam criando novos espaços na requintada cena iluminada por Binho Schaefer.  Contudo, a inventiva e bonita solução cênica só pode ser vista plenamente do segundo andar da casa de espetáculo do Aterro do Flamengo.  Dos dois figurinos assinados por Gilda Midani, se sobr...

CD 'Sambas de Enredo'2015' registra a controversa jogada da Viradouro

O CD ‘Sambas de Enredo 2015’ (Gravadora Escola de Samba/ Universal Music) traz os 12 hinos que serão cantados na Avenida Marquês de Sapucaí neste carnaval. Uma boa notícia é a ausência das introduções explicativas dos enredos, feitas pelos carnavalescos no disco do ano passado. Ainda que não apresente grandes novidades, as gravações são corretas, embora soem padronizadas. Nenhum dos sambas de enredo é candidato à eternidade, mesmo que ‘Nas veias do Brasil, é a Viradouro em um dia de graça!’, da Unidos de Viradouro, esteja na boca do povo há décadas. Após quatro anos no grupo de Acesso, a escola de Niterói resolveu unir dois belos sambas de Luiz Carlos da Vila (1949 – 2008), ‘Nas veias do Brasil’ e ‘Por um dia de graça’, na volta ao desfile principal. Ao usar os sambas gravados respectivamente por Beth Carvalho, no álbum ‘Beth’ (1986), e por Simone, em ‘Desejos’ (1984), a Unidos de Viradouro cria um perigoso precedente para o gênero que, após vários anos em declínio, vinha apresent...

2014: Shows memoráveis de grandes cantoras

Em 2014 duas estrelas da MPB estrearam shows que renderam turnês inesperadas. Ao revisitar a obra de Luiz Gonzaga (1912 – 1989) e de compositores influenciados pela música do Rei do Baião no projeto Natura Musical, Elba Ramalho exibiu a energia que marcou seus melhores momentos nos palcos, em quase quatro décadas de carreira. Junto com o grupo armorial SaGRAMA e o quarteto de cordas Encore, ambos de Pernambuco, Elba pôs fogo na mistura, gerando um show impactante, cujo registro audiovisual deverá ser lançado em 2015, assim como seu próximo álbum de carreira, ‘Do meu olhar para fora’. Com ‘Espelho D’Água, recital de voz e violão concebido para a inauguração de um novo teatro em São Paulo, Gal Costa revigorou antigas canções e apontou o futuro próximo, ao inserir a inédita canção de Thiago e Marcelo Camelo que dá nome ao espetáculo, e que também estará em seu novo e esperado disco de inéditas. Com músicas especialmente compostas por Caetano Veloso, Gilberto Gil, Adriana Calcanhotto, ...

2014: A pluralidade de ótimos lançamentos musicais

Das 100 músicas mais tocadas nas rádios brasileiras em 2014, 59 são sertanejas. Enquanto o pop rock tupiniquim esta representado apenas por Skank (‘Ela me deixou’, 81ª posição) e Jota Quest (‘Waiting for you’, 98º lugar) a MPB nem aparece na lista divulgada pela empresa de monitoramento Crowley. A falta de pluralidade nas programações das emissoras não reflete a profusão de importantes lançamentos musicais do ano. Um dos grandes compositores da época áurea da MPB, Dori Caymmi festejou 70 anos com um primoroso disco de inéditas parcerias com Paulo César Pinheiro, de onde mais tarde, Maria Bethânia retiraria ‘Alguém cantando’, pérola que abre ‘Meus quintais’, álbum em que a baiana reitera sua coerência artística com requinte. De modo semelhante, Mônica Salmaso brindou o público com o belíssimo ‘Corpo de baile’, CD dedicado às canções de Guinga e Paulo César Pinheiro. Embalado pelo samba e por outras bossas, Luiz Melodia brilhou em ‘Zerima’, ótimo disco de inéditas. Rita Benneditto q...