Pular para o conteúdo principal

Postagens

O álbum 'Alegria' traz a música sem fronteiras do Barbosa Trio

Ritmos tradicionais da música brasileira como o baião, o xote e o samba ecoam na sonoridade de ‘Alegria | Szczęście’, álbum de estreia do Barbosa Trio, formado pelo paranaense Wagner Barbosa (violão/voz), pelo cearense Rafael Mota Rodrigues (percussão) e pelo polonês Kuba Palys (piano/voz). Os eficazes arranjos assinados por Wagner revelam ainda a influência do rock rural produzido no país nos anos 1970 e 1980. O enxuto repertório bilíngue inclui boas inéditas como ‘Rastapé’ (Wagner Barbosa), ‘Alegria’ (Wagner Barbosa) e, a melhor de todas, ‘Pererê’ (Demetrius Lulo/Wagner Barbosa). O interessante mote de ‘Gaveta’ (Dani Gurgel/Wagner Barbosa), ideias e sentimentos guardados que podem ser esquecidos, parece não ter encontrado a solução mais adequada. A participação do grupo percussionista polonês Ritmodelia ressalta o teor world music contido no maracatu ‘Pata de elefante’ (Wagner Barbosa) e na jazzística ‘Nothing new’ (Wagner Barbosa). O trio recria as clássicas ‘Água de beber’...

A arca de Noé e Vinicius de Moraes navega em mar de almirante

Derradeiro projeto de Vinicius de Moraes (1913 – 1980), ‘A arca de Noé’ ressurge no ano do centenário do poeta e compositor. Misturando canções dos discos de 1980 e 1981, além de poemas musicados para a nova versão, a arca capitaneada por Susana de Moraes navega em mar de almirante. Conduzida pelos timoneiros Dé Palmeira e Adriana Calcanhotto, a lúdica embarcação aposta na segurança das rotas (quase todas) experimentadas pela nau original. Como na arca dos anos 1980, a seleção das espécies cantantes que representam a música popular brasileira, aposta mais em nomes consagrados do que verdadeiramente em novatos, como Tulipa Ruiz e Marcelo Jeneci, por exemplo. A maioria dos artistas naturalmente leva a canção escolhida para o seu habitat e, felizmente, não há pretensiosas “desconstruções” dos clássicos infantis. Contudo, há arrojo nas melhores faixas do CD. A revoada etérea d’As borboletas (Cid Campos/ Vinicius de Moraes) provocada pela interpretação impressionista de Gal Costa, a ...

'Samba dobrado' traz obra de Djavan no canto singular de Rosa Passos

Há tempos Rosa Passos visita a obra de Djavan. Em seu segundo disco, ‘Curare’ (1991), se encontra o registro de ‘Sim ou não’. Dois anos depois a baiana gravou ‘De flor em flor’. Em 1999 foi a vez de ‘Beiral’ ganhar a interpretação cool de Rosa, que em 2002 lançou ‘Azul’, álbum dedicado às composições de Gilberto Gil, João Bosco e... Djavan. Além da faixa-título, entraram no disco ‘Samurai’, ‘Aliás’, ‘Açaí’ e ‘A ilha’. ‘Álibi’ também ganhou sua versão em ‘Romance’, de 2008. Naturalmente todo esse histórico também contribui para a sensação de familiaridade sentida logo à primeira audição de ‘Samba dobrado – As canções de Djavan’, novo CD de Rosa Passos. Distribuído pela gravadora Universal Music, ‘Samba dobrado’ finalmente concretiza o longo namoro musical, com direto a afagos do compositor em texto no encarte, prontamente retribuídos pela cantora na autoral ‘Doce menestrel’, parceria com Fernando de Oliveira, que encerra do disco. Obra que ganha forte acento jazzístico, especialm...

A música sem fronteiras do pianista Pablo Lapidusas

Cosmopolita, o argentino Pablo Lapidusas gravou as faixas de seu segundo disco solo entre as cidades de Lisboa, Rio de Janeiro, Buenos Aires, Maputo, Los Angeles e Londres. Contudo, tais deslocamentos geográficos não interferem na unidade sonora de ‘Estrangeiro’, álbum de som contemporâneo e sofisticado, por ora lançado pelo selo Kalamata Música. Sem negar a influência do jazz, o músico criou belas aberturas para determinadas faixas, que produzem verdadeiro encantamento, caso de ‘Intro’, que precede o tema romântico de ‘Cinema Paradiso’ (Ennio Morricone, 1988) e de ‘Tema para Farida’, que anuncia a bela inédita ‘Baila ballet’ (João Carlos Schwalbach), que encerra o disco. Entre a jazzística ‘Caravan’ (Duke Ellington/ Juan Tizol, 1937) e a pop(ular) ‘Blackbird’ (John Lennon/ Paul McCartney, 1968), Pablo impõe seu elegante dedilhado a clássicos da música popular brasileira. A inquietude original de ‘Sítio do pica-pau amarelo’ (Gilberto Gil, 1977) ganha novas cores. A beleza rítmi...

Carla Visi reaparece com o CD 'Pura claridade', tributo à Clara Nunes

Com passagens pelas bandas Cia. Clic e Cheiro de Amor, nos anos 1990, a baiana Carla Visi põe sua boa e melodiosa voz a serviço de (mais um) tributo à Clara Nunes (1942 – 1983), neste ano que marca as três décadas da morte da Guerreira. ‘Pura Claridade’ (MHP Música/ Sony Music) apresenta repertório composto por regravações de uma faixa de cada álbum lançado por Clara, além dos sambas ‘Mineira’ (João Nogueira/ Paulo César Pinheiro, 1975) e ‘Um ser de luz’ (João Nogueira/ Mauro Duarte/ Paulo César Pinheiro, 1983). Inspiradas em momentos dolorosamente tão distintos, vida e morte da sambista, as composições respectivamente abrem e encerram o CD. Com arranjos assinados por Izaias Marcelo, Pezinho, Didi Pinheiro, Jota Moraes e Rildo Hora, ‘Pura claridade’ aproxima a música (perene) de Clara Nunes do samba contemporâneo com seus tantãs e repiques, além do banjo e do cavaco se revezando como instrumentos-guias. Não por acaso, as faixas assinadas pelo experiente Rildo Hora são destaques:...

Ana Carolina tenta parecer leve em #AC

Lançado em junho de 2013, o sexto CD de inéditas de Ana Carolina tenta aproximar a obra passional da artista mineira das pistas de dança – algo já ensaiado em trabalhos anteriores, embora em menores doses. Produzido a quatro mãos por Ana e por Alê Siqueira, #AC (Armazém/ Sony Music) conserva a intensidade peculiar que provoca reações igualmente arrebatadas de críticos e fãs. A pretensa aura moderna está na sonoridade obtida pela ausência da bateria, substituída pela trinca de programações (a cargo de Mikael Multi, Dj Cia, Alê Siqueira e da própria Ana), percussão e scratches . Em time que está ganhando não se mexe (muito), como bem sabe a artista, que viu o álbum ‘Nove’ (2009) ser mal recebido por seu público, justamente por (tentar) se afastar das canções de apelo populista. Deste modo o amor passional, tema preferido de Ana, se traveste de baladinha pop em ‘Combustível’ (Ana Carolina/ Edu Krieger), em alta rotação nas rádios do seguimento adulto. Ele reaparece mais (in)tenso e...

Ellen Oléria dispensa sutilezas em CD pós 'The voice'

Ganhadora da primeira edição do programa ‘The voice’, da Rede Globo, Ellen Oléria lança pela gravadora Universal Music seu terceiro CD, como parte da premiação conquistada no grito. Com um timbre bacana, acertando vez por outra nas interpretações, Oléria faz parte da crescente turma de admiradores do estilo vocal exagerado de muitas cantoras norte-americanas. Tal predileção fica evidente logo na primeira faixa, ‘Anunciação’ (Alceu Valença, 1983), que começa muito bem, mas termina alguns tons acima. A prática é recorrente ao longo do disco, como se Ellen quisesse provar sua potência vocal. O ecletismo adotado pelo programa televisivo – e pela quase totalidade de cantoras novatas surgidas a cada semana – reverbera em boa parte do repertório, concebido para agradar aos mais variados gostos. Assim, Ellen alinha ‘Aqui é o país do futebol’ (Milton Nascimento/ Fernando Brant, 1970), tema de viés político renovado pelas manifestações deflagradas país a partir de junho deste ano, e o suce...