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Ana Carolina tenta parecer leve em #AC

Lançado em junho de 2013, o sexto CD de inéditas de Ana Carolina tenta aproximar a obra passional da artista mineira das pistas de dança – algo já ensaiado em trabalhos anteriores, embora em menores doses. Produzido a quatro mãos por Ana e por Alê Siqueira, #AC (Armazém/ Sony Music) conserva a intensidade peculiar que provoca reações igualmente arrebatadas de críticos e fãs. A pretensa aura moderna está na sonoridade obtida pela ausência da bateria, substituída pela trinca de programações (a cargo de Mikael Multi, Dj Cia, Alê Siqueira e da própria Ana), percussão e scratches . Em time que está ganhando não se mexe (muito), como bem sabe a artista, que viu o álbum ‘Nove’ (2009) ser mal recebido por seu público, justamente por (tentar) se afastar das canções de apelo populista. Deste modo o amor passional, tema preferido de Ana, se traveste de baladinha pop em ‘Combustível’ (Ana Carolina/ Edu Krieger), em alta rotação nas rádios do seguimento adulto. Ele reaparece mais (in)tenso e...

Ellen Oléria dispensa sutilezas em CD pós 'The voice'

Ganhadora da primeira edição do programa ‘The voice’, da Rede Globo, Ellen Oléria lança pela gravadora Universal Music seu terceiro CD, como parte da premiação conquistada no grito. Com um timbre bacana, acertando vez por outra nas interpretações, Oléria faz parte da crescente turma de admiradores do estilo vocal exagerado de muitas cantoras norte-americanas. Tal predileção fica evidente logo na primeira faixa, ‘Anunciação’ (Alceu Valença, 1983), que começa muito bem, mas termina alguns tons acima. A prática é recorrente ao longo do disco, como se Ellen quisesse provar sua potência vocal. O ecletismo adotado pelo programa televisivo – e pela quase totalidade de cantoras novatas surgidas a cada semana – reverbera em boa parte do repertório, concebido para agradar aos mais variados gostos. Assim, Ellen alinha ‘Aqui é o país do futebol’ (Milton Nascimento/ Fernando Brant, 1970), tema de viés político renovado pelas manifestações deflagradas país a partir de junho deste ano, e o suce...

Na efêmera cena midiática, Anitta desempenha bem o seu papel

“Eu posso conquistar tudo que eu quero”, avisa Anitta, a poderosa da hora, em ‘Meiga e abusada’ (Anitta/ R. Araújo/ Jefferson Júnior), um dos hits do seu disco de estreia, lançado com alarde pela gravadora Warner Music. Reciclando o discurso feminista presente em sucessos de cantoras de outras gerações, a moça de 20 anos, campeã de visualizações na rede, atualiza o romance sob a ótica da galera que frequenta seus bailes, sempre lotados. A jovem loba também encara o desacato e, se não devolver no ato, amanhã pode esperar: “Se vai ficar não brinca/ sou mais que uma conquista”, diz em ‘Tá na mira’ (Anitta). Contudo, seu discurso não é tão explícito quanto o de estrelas do estilo “proibidão” do funk carioca, o que viabiliza sua música nas rádios. A batida descaradamente pop distancia o álbum, produzido por Umberto Tavares e Mãozinha, do pancadão característico do funk, servindo de eficiente embalagem para a voz (pequena) de Anitta, como evidenciam ‘Achei’ (Anitta/ Umberto Tavares/ J...

Rodrigo Santos faz eficiente pop rock em 'Motel maravilha'

O cantor, compositor e baixista Rodrigo Santos aposta na produção autoral em ‘Motel maravilha’, seu quinto disco solo. Bem produzido por Nilo Romero, que assume o baixo na maioria das faixas, o álbum lançado de forma independente apresenta um pop rock cheio de vigor e sinceridade para embalar canções que abordam os relacionamentos amorosos. O disco começa de forma irregular com os clichês listados em ‘Essa canção é nossa’ (Rodrigo Santos), mas logo em seguida ‘Remédios’ (Rodrigo Santos) desfaz a má impressão. Arranjado por Sacha Amback, o ska ‘Me abraço agora ou nunca mais’ (Rodrigo Santos) segue a trilha de “dois pobres corações em frangalhos” com romantismo bem humorado. A intensidade rítmica de ‘O processo’ faz da faixa um dos destaques do CD, ao lado de ‘Motel maravilha’ (Rodrigo Santos/ George Israel/ Mauro Santa Cecília), samba bem sustentado pela percussão eficiente de Marcos Suzano. A sétima arte também serve de mote para ‘Tela de cinema’ (Rodrigo Santos/ Zé Roberto ...

Toni Ferreira apresenta boas credenciais em seu álbum de estreia

Lançado pela gravadora Universal Music, o disco de estreia do cantor e compositor paulista Toni Ferreira traz seu nome como título. Nada mais natural para quem quer mostrar seu trabalho em um país dominado por vozes femininas. Os jovens cantores estão aí, mas curiosamente poucos conseguem se destacar nacionalmente. A julgar pela apresentação, Toni parece ter as credenciais necessárias para alcançar o sucesso. A voz agradável, cujo timbre moderadamente rascante lembra o de Cazuza (1958 – 1990), conquista. Bem produzido por Pélico e Jesus Sanchez, o CD ‘Toni Ferreira’ apresenta uma sonoridade enxuta e elegante. Entre violões de vários tipos, samplers e firmes delicadezas, a voz do cantor está sempre em primeiro plano. O álbum enfileira potenciais hits radiofônicos como ‘Olha só’ (Pélico), ‘Te falo amanhã’ (Maria Gadú), além da bem escolhida primeira faixa de trabalho, ‘Saber de uma alma’ (João Guarizo) – impregnada por uma sensação de nostalgia que transborda em outros momentos, c...

'Sou eu', primeiro CD da cantora Lu Oliveira, deixa boa impressão

‘Sou eu’, álbum de estreia da cantora fluminense Lu Oliveira, traz apenas dez faixas. Pode parecer pouco, principalmente para uma novata que “precisa” dizer a que veio, mas a opção se mostra acertada logo na primeira audição. A moça, de voz agradável e segura, soa sincera nas faixas arranjadas pelos experientes Arthur Verocai, Leandro Braga, Jacques Morelenbaum, João Carlos Coutinho e Cristovão Bastos, recrutados pelo produtor Zé Renato. A começar pela linda faixa-título assinada pelo maestro Moacir Santos (1926 – 2006) e pelo compositor Nei Lopes, é clara a escolha de um repertório que gira em torno do samba, sem que Lu chegue realmente a pisar no terreiro. Essa sensação fica mais evidente em ‘Baticum de samba’ (Roque Ferreira/ Paulo César Pinheiro, 2004), que carece da “cadência de tambor/ malícia de tantã”, enfim, da batucada reverenciada nos versos de Pinheiro. Paulo César também assina a letra de ‘Dia de graça’, samba que comunga a igualdade entre as etnias, lançado pelo pa...

No tempo de Elza Soares

"Todos juntos vamos/ Pra rua Brasil/ Salvem essa nação", pediu Elza Soares, atualizando os versos do famoso tema de Miguel Gustavo para a Copa de 1970 no show em cartaz no Teatro Rival, no Rio de Janeiro (RJ). Afiada, a cantora criticou o "novo" Maracanã em 'Aqui é o país do futebol' (Milton Nascimento/ Fernando Brant) e 'O campeão' (Neguinho da Beija-Flor): "Não tem mais arquibancada". Acompanhada pelo violonista João de Aquino, Elza ainda sacou a obscura, mas não menos apropriada, 'Dona baratinha' (Almeida Rego/ Newton Ramalho) lá dos anos 1960, para comentar o casamento da neta do empresário Jacob Barata. Elza Soares é cronista de seu tempo. E seu tempo é hoje.