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Vander Lee cai no samba sem deixar o romantismo de lado

“Minas Gerais também balança”, afirmou, de modo gaiato, o cantor e compositor Vander Lee na noite de sábado, 25 de agosto de 2012, no início do show ‘Sambarroco’, no Teatro Rival (RJ). Alinhando composições do recém-lançado CD homônimo, como ‘Boramar’, ‘Sambarroco’ e ‘Lado bamba’ (Vander Lee/ Thiago Delegado), com outras gravadas anteriormente, caso de ‘Passional’ e de ‘Baiana cover’, faixas de ‘No balanço do balaio’ (1999), o romântico Vander Lee explicitou o seu (já) longo flerte com o gênero musical mais identificado com o Rio de Janeiro e a Bahia. Sim, Minas sempre balançou e tem, entre seus expoentes, os notórios compositores Ary Barroso (1903 – 1964) e Geraldo Pereira (1918 – 1935) – este último apropriadamente lembrado por Vander Lee em ‘Falsa baiana’, antepassada de sua ‘Baiana cover’. O bom autor se sobressaiu ao cantor mediano, principalmente nos primeiros números, prejudicados pela dicção linear e pela emissão vocal deficitária do artista, que surgiu meio sem jeito no ...

Áurea Martins, uma senhora cantora

Quatro décadas após o lançamento de seu primeiro disco, ‘O amor em paz’ (1972), como parte da premiação pelo primeiro lugar no programa ‘A grande chance’, em 1969, Áurea Martins chega ao quinto álbum. Editado em CD e DVD pela gravadora Biscoito Fino, ‘Iluminante’ marca o primeiro registro audiovisual da septuagenária cantora escolada nas noites cariocas. “Áurea Martins tem aquela voz que já não existe mais. Voz densa, uterina, insidiosa e doce. As jovens cantoras de hoje são anasaladas, agudas; são gatas, gatinhas, ou então frenéticas. Não existem mais silêncios, suores e lágrimas. Onde ficou o cantar com densidade das moças de hoje?”, pergunta Fernanda Montenegro na apresentação do DVD. Reconhecidamente influenciada por Elizeth Cardoso, Áurea traz na garganta a textura aveludada e a emoção que garantem distinção às canções, seja um clássico de Tom Jobim (1927 – 1994) e Vinicius de Moraes (1913 – 1980) (‘Janelas abertas’, 1958) ou uma balada pop de Herbert Vianna e Paula Tolle...

"Contigo aprendi" mantém qualidade característica do longevo MPB-4

Editado em junho deste ano pela gravadora Biscoito Fino, o álbum ‘Contigo aprendi’ marca a última participação de Magro Waghabi (1943 – 2012) no MPB-4, grupo vocal cuja história se entrelaça com a do próprio termo que lhe serve de nome há 48 anos (embora o trio inicial, Ruy, Aquiles e Miltinho, tenha se reunido em 1962). Com as luxuosas participações do Quarteto Maogani, do Duofel, do Trio Madeira Brasil e de Toninho Horta, o MPB-4 harmoniza boleros famosos. Fonte inequívoca do samba-canção nativo nos anos 1950, a música de raízes espanholas adotada por países latinos ganhou inéditas versões em português de Abel Silva, Caetano Veloso, Carlos Rennó, Fernando Brant, J. C. Costa Netto, Hermínio Bello de Carvalho, Paulo César Pinheiro e Vitor Ramil. Fiéis ao sentido original de cada canção, os letristas realçam o sentimentalismo inerente ao gênero com certa dose de sobriedade. O resultado é satisfatório, sendo a versão de Miltinho para ‘Contigo aprendi’ (Armando Manzanero) menos in...

A coerente diversidade rítmica de Moraes Moreira

Embora tenha dito que originalmente queria fazer um disco só de samba, Moraes Moreira incluiu outras levadas em ‘A revolta dos ritmos’, seu novo CD, lançando em julho deste ano pela gravadora Biscoito Fino. A heterogeneidade rítmica é uma característica dos trabalhos solos de Moraes, como ‘De repente’ (2005), disco de inéditas em que flertou com rap e drumm’n’bass’. Nada mais natural para “quem veio dos Novos Baianos e não nega fogo”, como avisam os versos de ‘Cuidado Moreira’, boa incursão pelo samba de breque, homenagem ao malandro Moreira da Silva, que abre o álbum citando ainda Martinho da Vila, Dona Ivone Lara e Pixinguinha, entre outros. Citações, aliás, são recorrentes em boa parte das doze faixas de ‘A revolta dos ritmos’. O centenário do conterrâneo Jorge Amado (1912 – 2012) é o mote de ‘Feito Jorge ser Amado’ (Moraes Moreira/ Fred Góes), na qual personagens famosos do escritor convivem com outros ícones baianos como Dorival Caymmi e Carybé. O samba também está present...

Power trio carioca se garante no CD "Pra sempre primavera"

Formado por Rodrigo Nogueira (guitarra e voz), Diogo Gameiro (bateria) e Mário Vargas (baixo), o Suricato lança seu primeiro disco, ‘Pra sempre primavera’ (independente), coproduzido pelo guitarrista Jr. Tostoi. Os músicos cariocas mostram personalidade nas canções já experimentadas em shows. Além de assinar (em parceria com Diogo) nove das composições, Rodrigo dá conta dos vocais e põe sua vigorosa guitarra a serviço do rock’n’roll em ‘Justo logo quem’, ‘Inseparáveis’, ‘Por aí’ e ‘Talvez’ – faixa de acento oitentista que abre o CD. A pausa para o respiro acontece na sacana ‘My baby macumba’, levada somente no ukelele.  O Suricato comprova que o clássico formato power trio popularizado nos 1960 continua rendendo bons momentos musicais. 

Em tom maior, Martinho da Vila desfia clássicos em show enxuto

Martinho da Vila subiu ao palco do Vivo Rio na noite de sábado, 28 de julho de 2012, para lançar o CD ‘4.5 atual’, no qual regravou o repertório do seu primeiro disco, de 1969, para comemorar 45 anos de carreira. “Este é um show que só acontece com a participação de vocês”, avisou. Seguindo a estrutura do espetáculo anterior ‘Lambendo a cria’ (2011), o sambista de Duas Barras (RJ) também surge sozinho para cantar ‘Menina moça’, partido-alto que o notabilizou nacionalmente em 1967, e ‘Casa de bamba’, com a adesão do receptivo público que lotou a casa noturna do Aterro do Flamengo.    Com a participação do violonista Gabriel de Aquino, Martinho reviveu a intimista ‘Amor, pra que nasceu?’ e ‘Brasil mulato’, um dos muitos sambas de temática social de sua prodigiosa lavra. Ao descerrar as cortinas, além dos músicos da melhor qualidade, o publico estava representado no palco por convidados do cantor e da banda. O clima familiar foi ressaltado pelas presenças de Maíra Freit...

Zé Ramalho ressurge reflexivo em "Sinais dos tempos"

“Não era pra ser assim/ Era pra ser melhor/ Não foi como planejamos/ Mas fugiu do nosso controle”, constatam os versos da psicodélica ‘Olhar alquimista’, sedutora faixa do CD ‘Sinais dos tempos’, de Zé Ramalho. O repentista de voz messiânica, autor de clássicos visionários como ‘Vila do sossego’ (1978) e ‘Eternas ondas’ (1980), ressurge ainda mais solitário, discorrendo sobre a implacável passagem do tempo, mote dos brilhantes discos de Chico Buarque (‘Chico’) e Gal Costa (‘Recanto’). Vigésimo sexto álbum de Ramalho, ‘Sinais dos tempos’ faz inventário existencial, com doses de autocrítica, de sua carreira. “Me lembro claramente/ De tudo que vivi/ Até a fase negra/ Dela não esqueci”, assume em ‘Indo com o tempo’, faixa que entrega a sonoridade, alusiva aos primeiros discos do artista, que permeia as novas canções. Primeiro CD de inéditas de Zé Ramalho em cinco anos, ‘Sinais dos tempos’ também marca a criação de sua gravadora, a ‘Avôhai Music’. Embaralhando notáveis influências...