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Ana Costa acerta ao mirar o samba

Em ‘Hoje é o melhor lugar’, seu terceiro disco, recém-lançado pela gravadora Biscoito Fino, a cantora e compositora Ana Costa deixa de lado o flerte com outros ritmos que pontou ‘Novos alvos’ (2009), o trabalho anterior. Entre muitas inéditas e algumas regravações, a cantora põe sua voz elegante e bem colocada a serviço do samba. Produzido por Carlinhos 7 Cordas, que divide os arranjos com Itamar Assiere, ‘Hoje é o meu melhor lugar’ reúne músicos tarimbados como Cláudio Jorge (violão/ guitarra), Marcio Hulk (cavaco), Dirceu Leite (sax soprano/ flauta) e Alceu Maia (cavaco em ‘O que é o que é’), entre outros. Afilhada musical de Martinho da Vila, Ana escolheu uma desconhecida parceria do sambista com Marcelinho Moreira e Fred Camacho, ‘Filosofia de vida’ (2009), para abrir o álbum. Versos como “Não quero mais do que necessito pra transmitir minha alegria” definem apropriadamente a atmosfera das demais 14 faixas do disco. O nível se mantém elevado nas faixas seguintes, ‘Sou o s...

Alexia suaviza urgências e tristezas das canções de exílio de Caetano

No momento em que uma nova edição de ‘Transa’ (1972) chega às lojas como parte das comemorações dos 70 anos de Caetano Veloso, a gravadora Biscoito Fino lança ‘I just happen to be here’, segundo álbum da cantora Alexia Bomtempo, que reúne dez das canções em inglês feitas pelo baiano, a maioria durante o exílio em Londres (Inglaterra) entre 1969 e 1972. Nascida nos EUA, filha de mãe norte-americana e pai brasileiro, Alexia suaviza urgências e tristezas dos versos compostos por um artista forçosamente afastado de sua terra natal. Auxiliada pelos produtores Felipe Abreu e Dé Palmeira, a jovem cantora comprova a perenidade das canções escritas em um período tão específico e sugere novas interpretações para as mesmas. A oportuna retirada das inúmeras citações em português cunhadas por Caetano à época exime o álbum de qualquer comparação maldosa com as gravações originais. A sonoridade contemporânea de ‘I just happen to be here’ realça a irresistível beleza de ‘You don’t know me’ e ...

Tradição e modernidade realçam a qualidade de 'ClaroEscuro', CD de estreia de Pedro Moraes

Disco de estreia do cantor e compositor Pedro Moraes, ‘ClaroEscuro’ passou por processo de maturação, a partir de 2007, quando saíram as primeiras tiragens, até o lançamento internacional, com sua versão definitiva, em 2010. Somente agora o álbum chega às praias brasileiras via gravadora Rob Digital.   Oriundo do grupo ‘É com esse que eu vou’, que se apresentava na Lapa (RJ), Pedro Moraes aposta em sua ótima produção autoral e segue por um caminho diverso da imediatista – e pueril – cena musical contemporânea. Notadamente influenciada pela MPB feita a partir dos anos 1960, a música do jovem artista incorpora fina ironia, aproxima erudito e popular, sem se deixar contaminar por extremada reverencia ou pedantismo. Passam por seu filtro urbano gêneros musicais como: xote (‘Xote de manhã’), salsa (‘Marcela’), samba (‘Samba de quarta-feira’, ‘Samblefe’), marcha-rancho (‘Carnaval em agosto’), valsa (‘O sonho de Antonieta’) e frevo (‘Coroa e cara’), entre outros comumente ligado...

Não tente rotular Mart'nália

“Mudei de poesia e fui pro pop, sem cuíca, pandeiro e tamborim”, avisa Mart’nália no encarte do seu novo disco, apropriadamente chamado ‘Não tente compreender’. Para produzir seu sexto álbum de estúdio, a filha de Martinho da Vila convocou Djavan, influência musical assumida pela cantora que sempre namorou a chamada black music. Embora o bom e velho samba ecoe aqui e ali, ‘Não tente compreender’ distancia a filha de Martinho da Vila do gênero musical que fez a fama da família Ferreira e a reconecta à sonoridade de ‘Minha cara’ (1995), seu segundo disco. Sim, muito antes de ser reconhecida nacionalmente através do samba, Mart’nália já fazia um som pop, soul e black. O público preguiçoso e mal acostumado por artistas que oferecem mais do mesmo a cada lançamento pode demorar a compreender as escolhas musicais da personalíssima cantora que, acertadamente, foge do estereótipo de sambista, num movimento iniciado no álbum anterior, ‘Madrugada’ (2008). Com seu caráter musical naturalm...

Quinteto paulista 5 a seco faz boa estreia fonográfica

Cinco jovens compositores e violonistas formam o ‘5 a seco’, grupo que vem chamando atenção na cena musical contemporânea de São Paulo e que está lançando o registro audiovisual ‘Ao vivo no auditório do Ibirapuera’. A edição em CD e DVD também marca a estreia fonográfica do quinteto formado por Leo Bianchini, Pedro Altério, Pedro Viáfora, Tó Brandileone e Vinicius Calderoni. Além dos violões e vocais, os rapazes se desdobram tocando outros instrumentos como baixo, bateria e alguma percussão, produzindo uma música notadamente influenciada pela obra de Lenine. Não por acaso, o cantor e compositor pernambucano participa da faixa ‘Ou não’ (Vinicius Calderoni/ Tó Brandileone) evidenciando o alcance de sua produção musical entre os anfitriões. Paraibano radicado em São Paulo, Chico César realça o sotaque nordestino da urbana ‘No dia que você chegou’ (Leo Bianchini/ Celso Viáfora), enquanto a superestimada Maria Gadú chancela ‘Em paz’ (Pedro Altério/ Rafael Altério/ Rita Altério) para ...

A reza pop de Rita Lee

Rita Lee volta a lançar um álbum de inéditas depois de nove anos. ‘Reza’ chega às lojas via gravadora Biscoito Fino trazendo quatorze faixas, duas a mais do que seu antecessor, o excelente ‘Balacobaco’ (2003). A roqueira mais pop do país novamente se vale de uma baladinha chiclete para conquistar os ouvidos mais sensíveis às opiniões alheias (e contrárias) em ‘Reza’ (Rita Lee/ Roberto de Carvalho), oração que bisa o sucesso de ‘Amor e sexo’ (Rita Lee/ Roberto de Carvalho/ Arnaldo Jabor). Se em sua recente ‘Carta de amor’, Maria Bethânia avisa que não anda só, citando os santos, orixás e outras divindades, Rita vai direito a Ele. É a Deus que ela pede proteção contra inveja, macumba, raiva, praga e veneno de seu interlocutor imaginário.  A inspiração religiosa que já rendeu pérolas como ‘Nave Terra’ (Rita Lee/ Roberto de Carvalho, 2003), feita em cima da Ave-Maria, também é o mote de ‘Pistis Sophia’ (Rita Lee). Simulando o sotaque característico do interior paulistano, Rita enca...

Vozes femininas recriam a obra de Guilherme Arantes

‘A voz da mulher na obra de Guilherme Arantes’ é o segundo disco-tributo idealizado pelo DJ Zé Pedro para sua gravadora Joia Moderna. Iniciada com a homenagem a Taiguara (1945 – 1996), no ano passado, a série traz agora vinte cantoras das mais diferentes gerações interpretando vinte canções da obra do músico paulista que vem sendo merecidamente redescoberto. ‘A voz da mulher na obra de Guilherme Arantes’ marca, ainda, o início da parceria entre a Joia Moderna e o iTunes, que já disponibiliza a edição digital do projeto, enquanto o CD chegará às lojas no dia 29 de maio. Além da interessante mistura de intérpretes, Zé Pedro também acerta ao valorizar as letras, deixando de lado arranjos datados, impregnados dos onipresentes teclados que fizeram muitos críticos classificarem como brega a música de Guilherme. Em 1982 as rádios brasileiras tocavam duas canções deliciosamente pop que se tornariam clássicas. Escritas por Lulu Santos e Guilherme Arantes, respectivamente, ‘Tempos mode...