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Mariene de Castro: o canto doce e consciente da "Tabaroinha"

A cantora Mariene de Castro durante entrevista na gravadora Universal Music Desde que surgiram nos anos 1970, Clara Nunes (1942 – 1983), Alcione e Beth Carvalho formaram o insuperável trio de divas sambistas da música popular brasileira. Apesar de inúmeras tentativas, nenhuma outra cantora do gênero conseguiu projeção nacional semelhante à delas. Com a prematura saída de cena da “mineira guerreira”, o nicho das canções de temática afro-brasileira também ficou vago. Muitas intérpretes fogem do título, dizendo ser limitador. Não é o caso de Mariene de Castro. Lançando seu terceiro disco, ‘Tabaroinha’ (Universal Music), a doce baiana filha de Oxum empunha sem medo a bandeira do samba (“É o sentimento negro que mora em mim, é a minha natureza, uma alma que canta samba com uma saudade, com uma dor que não é da minha idade, não é do meu tempo”) e encara com naturalidade as comparações com Clara (“Ela colocou os orixás no horário nobre da televisão. Por causa dela, de Bethânia e das p...

Quintal do Pagodinho: repetindo sucessos

Chamam-se ‘paus de sebo’ os discos que reúnem nomes ainda desconhecidos, apostas de sucesso de alguma gravadora. Um dos mais famosos exemplares, ‘Raça brasileira’ (gravadora RGE), foi lançado em 1985 e apresentou ao público Mauro Diniz, Pedrinho da Flor, Jovelina Pérola Negra e Zeca Pagodinho, entre outros. Em 2001, o já consagrado Zeca difundiu uma coletânea de compositores mais ou menos ignorados mostrando suas composições inéditas.  A primeira edição de ‘Zeca apresenta Quintal do Pagodinho’, gravado ao vivo em Xerém, trouxe quinze dos autores favoritos do sambista, recorrentes em seus discos. Onze anos depois chega às lojas a segunda edição do projeto nas versões CD e DVD sem o frescor da original. O padrão de qualidade – leia-se produção musical de Rildo Hora – permaneceu inalterado. Por sua vez, o bem-vindo ineditismo deu lugar a sucessos pra lá de batidos. Assim, durante as dezesseis faixas do CD (ou as vinte e quatro do DVD), o ouvinte pode ter sua atenção desviada...

Em noites luminosas, Gal Costa apresenta o já antológico show 'Recanto'

Musa, Gal Costa inspira Caetano Veloso há mais de quatro décadas. Juntos criaram inúmeros clássicos da música popular brasileira. ‘Recanto’ , a mais recente parceria dos dois baianos suscitou dúvidas entre os de má fé: seria um disco de compositor ou da cantora? Em noites luminosas, Maria da Graça Costa Penna Burgos respondeu a questão da melhor forma, colocando sua voz tamanha a serviço de 22 canções habilmente costuradas no roteiro do recém- nascido show. Linda, leve e solta, Gal retorna aos palcos rejuvenescida e rejuvenescendo antigos sucessos. Sua sensualíssima interpretação de ‘Folhetim’ (Chico Buarque, 1978) pode não ter o frescor dos tempos de ‘Água Viva’, mas apresenta toda a carga dramática de uma intérprete que traz a vida na voz, com bem explicita ‘Minha voz, minha vida’ (Caetano Veloso, 1981).  A mesma voz, rasgada em ‘Divino maravilhoso’ (Caetano Veloso/ Gilberto Gil, 1968), doce em ‘Baby’ (Caetano Veloso, 1968), precisa em ‘Força estranha’ (Caetano Veloso, 1978...

Sons acústicos e mágoas compõem o Oásis de Bethânia

Um das definições de oásis é todo recanto que oferece calma, repouso. Sob o olhar de Maria Bethânia, a pequena região em que a presença da água permite o surgimento de vegetação e os passantes se refrescam transforma-se no árido sertão nordestino, como entrega a foto de Gringo Cardia que ilustra a capa do novo CD da intérprete, ‘Oásis de Bethânia’ (gravadora Biscoito Fino). Desta vez as econômicas dez faixas que compõem o disco não ficaram a cargo unicamente do incansável Jaime Além, maestro que acompanha a abelha-rainha há quase três décadas. À procura de novas sonoridades, Bethânia entregou a diferentes convidados os arranjos de cada faixa. O resultado aproxima ‘Oásis’ de outro álbum da cantora. Em 1983, quando o som dos teclados eletrônicos impregnava e pasteurizava a produção da música popular brasileira, Maria Bethânia lançou ‘Ciclo’. Produzido por Guto Graça Mello, o disco totalmente acústico surpreendeu a todos. Bethânia vinha de discos campeões de vendagens como ‘Álib...

Biografia de Pixinguinha é uma verdadeira viagem iconográfica

Poucos artistas brasileiros roçaram a unanimidade como Pixinguinha. Um dos expoentes da chamada música popular brasileira e do choro, gênero musical genuinamente carioca, Alfredo da Rocha Viana Filho (1897 – 1973) é amado por gerações de compatriotas. Com certeza, um amor incondicional pelo compositor de ‘Carinhoso’ pautou a escrita de ‘Pixinguinha, o gênio e o tempo’. Editado pela Casa da Palavra, com patrocínio do NOS (Operador Nacional do Sistema Elétrico), através da Lei Municipal de Incentivo à Cultura do Rio de Janeiro, o livro é de autoria de André Diniz – escritor, historiador e chefe da representação do Ministério da Cultura no Rio de Janeiro e Espírito Santo. A linguagem pop recorrente em outras publicações de André, como os Almanaques do Samba, do Choro e do Carnaval, está lá, norteando a abordagem panorâmica da vida e obra do biografado. A história segue sem maiores percalços (e novidades), muitas vezes recorrendo a outros livros sobre Pixinguinha – principalmente à...

Novo álbum de Línox, 'Me gustan las posibilidades', traz pop atraente

Chega a ser surpreendente a delicadeza de ‘Me gustan las posibilidades’ (Arterial Music/ Rob Digital), terceiro disco do cantor e compositor Línox.  Gravado em apenas seis dias, o álbum apresenta letras sutis que falam da vida e dos relacionamentos amorosos com inteligência que as distanciam das lamúrias radiofônicas contemporâneas. Formada por banjo (Línox/ Felipe Pinaud), contrabaixo (Lancaster) e acordeom (Humberto Barros), a base instrumental confere atraente sonoridade folk as onze faixas produzidas por Plínio Profeta e Lancaster. O resultado é um pop vigoroso alicerçado na poesia de Línox e, claro, na qualidade excepcional dos músicos participantes. Canção de ares circenses, a sedutora ‘Crendice’ sintetiza intenções do título: “O que se pode, o que ser quer/ E o que não pode então já é/ Um jeito de acontecer”. A guitarra de Felipe Pinaud cria uma atmosfera road movie em ‘Até aqui’ (Línox) e ‘Palavras chaves’ (Línox/ Lancaster). Curiosamente a outrora instrumental ‘A...

'Tempo' marca a estreia fonográfica de Julia Bosco

Chama-se ‘Tempo’ (Independente/ Tratore) o disco que marca a estreia da cantora e compositora Julia Bosco no mercado fonográfico. Filha de peixe grande da MPB, Julia opta por linguagem pop contemporânea distante do estilo inconfundível – e formidável – de seu pai, João Bosco.  A produção musical de Plínio Profeta e Fabio Santanna utiliza teclados sem parcimônia na maioria das treze faixas, todas assinadas por Fabio, nove delas em parceria com Julia. O universo abordado pelo casal nem sempre resulta em canções interessantes, sendo que as melhores são exatamente as primeiras: ‘Desavisados’, ‘Curtição’ e ‘Na oração’, não por acaso assinadas a quatro mãos. O nível cai nitidamente a partir da metade do disco, quando canções como ‘Play a fool’ e ‘Carta para uma amiga’ soam enfadonhas. Em participação especial, Marcos Valle injeta sua habitual bossa em ‘Curtição’, talvez a mais radiofônica das faixas. Mas o grande momento do disco é, indiscutivelmente, ‘Oração’.  Adornada p...