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Sons acústicos e mágoas compõem o Oásis de Bethânia

Um das definições de oásis é todo recanto que oferece calma, repouso. Sob o olhar de Maria Bethânia, a pequena região em que a presença da água permite o surgimento de vegetação e os passantes se refrescam transforma-se no árido sertão nordestino, como entrega a foto de Gringo Cardia que ilustra a capa do novo CD da intérprete, ‘Oásis de Bethânia’ (gravadora Biscoito Fino). Desta vez as econômicas dez faixas que compõem o disco não ficaram a cargo unicamente do incansável Jaime Além, maestro que acompanha a abelha-rainha há quase três décadas. À procura de novas sonoridades, Bethânia entregou a diferentes convidados os arranjos de cada faixa. O resultado aproxima ‘Oásis’ de outro álbum da cantora. Em 1983, quando o som dos teclados eletrônicos impregnava e pasteurizava a produção da música popular brasileira, Maria Bethânia lançou ‘Ciclo’. Produzido por Guto Graça Mello, o disco totalmente acústico surpreendeu a todos. Bethânia vinha de discos campeões de vendagens como ‘Álib...

Biografia de Pixinguinha é uma verdadeira viagem iconográfica

Poucos artistas brasileiros roçaram a unanimidade como Pixinguinha. Um dos expoentes da chamada música popular brasileira e do choro, gênero musical genuinamente carioca, Alfredo da Rocha Viana Filho (1897 – 1973) é amado por gerações de compatriotas. Com certeza, um amor incondicional pelo compositor de ‘Carinhoso’ pautou a escrita de ‘Pixinguinha, o gênio e o tempo’. Editado pela Casa da Palavra, com patrocínio do NOS (Operador Nacional do Sistema Elétrico), através da Lei Municipal de Incentivo à Cultura do Rio de Janeiro, o livro é de autoria de André Diniz – escritor, historiador e chefe da representação do Ministério da Cultura no Rio de Janeiro e Espírito Santo. A linguagem pop recorrente em outras publicações de André, como os Almanaques do Samba, do Choro e do Carnaval, está lá, norteando a abordagem panorâmica da vida e obra do biografado. A história segue sem maiores percalços (e novidades), muitas vezes recorrendo a outros livros sobre Pixinguinha – principalmente à...

Novo álbum de Línox, 'Me gustan las posibilidades', traz pop atraente

Chega a ser surpreendente a delicadeza de ‘Me gustan las posibilidades’ (Arterial Music/ Rob Digital), terceiro disco do cantor e compositor Línox.  Gravado em apenas seis dias, o álbum apresenta letras sutis que falam da vida e dos relacionamentos amorosos com inteligência que as distanciam das lamúrias radiofônicas contemporâneas. Formada por banjo (Línox/ Felipe Pinaud), contrabaixo (Lancaster) e acordeom (Humberto Barros), a base instrumental confere atraente sonoridade folk as onze faixas produzidas por Plínio Profeta e Lancaster. O resultado é um pop vigoroso alicerçado na poesia de Línox e, claro, na qualidade excepcional dos músicos participantes. Canção de ares circenses, a sedutora ‘Crendice’ sintetiza intenções do título: “O que se pode, o que ser quer/ E o que não pode então já é/ Um jeito de acontecer”. A guitarra de Felipe Pinaud cria uma atmosfera road movie em ‘Até aqui’ (Línox) e ‘Palavras chaves’ (Línox/ Lancaster). Curiosamente a outrora instrumental ‘A...

'Tempo' marca a estreia fonográfica de Julia Bosco

Chama-se ‘Tempo’ (Independente/ Tratore) o disco que marca a estreia da cantora e compositora Julia Bosco no mercado fonográfico. Filha de peixe grande da MPB, Julia opta por linguagem pop contemporânea distante do estilo inconfundível – e formidável – de seu pai, João Bosco.  A produção musical de Plínio Profeta e Fabio Santanna utiliza teclados sem parcimônia na maioria das treze faixas, todas assinadas por Fabio, nove delas em parceria com Julia. O universo abordado pelo casal nem sempre resulta em canções interessantes, sendo que as melhores são exatamente as primeiras: ‘Desavisados’, ‘Curtição’ e ‘Na oração’, não por acaso assinadas a quatro mãos. O nível cai nitidamente a partir da metade do disco, quando canções como ‘Play a fool’ e ‘Carta para uma amiga’ soam enfadonhas. Em participação especial, Marcos Valle injeta sua habitual bossa em ‘Curtição’, talvez a mais radiofônica das faixas. Mas o grande momento do disco é, indiscutivelmente, ‘Oração’.  Adornada p...

Portela e Vila Isabel apresentam os melhores sambas de enredo de 2012

Lançado em dezembro de 2011, o CD ‘Sambas de enredo 2012’ (Universal Music) enfileira os 13 hinos que as escolas de samba do Rio de Janeiro defenderão no desfile do Grupo Especial do Carnaval carioca neste mês de fevereiro de 2012. Sem grandes novidades, a gravação traz a voz oficial da apuração da LIESA (Liga Independente das Escolas de Samba), Jorge Perlingeiro, anunciando cada escola no início das faixas, expediente usado no disco de 2005, quando o locutor oficial da Marquês de Sapucaí, Demétrio Costa, também identificava as agremiações. Algumas bossas desnecessárias como guitarras e acordeões inseridos em determinadas faixas não comprometem a boa safra de sambas novamente gravados na Cidade do Samba com a participação do coro de cada escola já na primeira passagem, recurso que deveria ser abolido.  Enredos clássicos como África (Angola) e Bahia, ou mesmo o Maranhão novamente cantado pela Beija-Flor de Nilópolis, renderam sambas acima da média.  A atual campeã do C...

Moyseis Marques, um sambista sem mania de passado

Chama-se ‘Pra desengomar’ o terceiro disco solo de Moyseis Marques, que marca, ainda, sua estreia na gravadora Biscoito Fino. Identificado com a geração de sambistas surgida na Lapa na década de 1990, o mineiro radicado no Rio talvez seja a voz menos reverente entre seus pares – certamente é uma das melhores. Produzido por Alessandro Cardozo e o próprio Moyseis, ‘Pra desengomar’ tira a excessiva goma da veneração que paralisa o samba em alguns redutos, acertando na sonoridade mais urbana e no ineditismo das canções. Entre violões, pandeiros e tamborins passeia o elegante piano de João Bettencourt. Desta vez, o lado autoral presente em ‘Moyseis Marques’ (2007) e ‘Fases do coração’ (2009) não dá espaço para regravações; as doze faixas são assinadas por Moyseis, nove em parcerias com Edu Krieger, Moacyr Luz e Zé Renato, entre outros. Embora resvale em temas batidos, mas aparentemente inevitáveis ao gênero, como o malandro da faixa título, ‘Pra desengomar’ (Alfredo Del Penho/ Moyseis ...

A música universal de Jobim dá o tom em emocionante documentário

O desfile de intérpretes de diversas latitudes durante o documentário ‘A música segundo Tom Jobim’ reitera a amplitude da obra do maestro Antônio Carlos Brasileiro de Almeida Jobim (1927 – 1994). O idioma universal da música jobiniana é o fio condutor da narrativa assinada pelo veterano cineasta Nelson Pereira dos Santos e pela jovem diretora Dora Jobim.  Seguindo a máxima atribuída a Tom – “A linguagem musical basta” –, palavras e legendas foram descartadas da produção de 1h28m. Pelas asas de um avião da Panair que sobrevoa a Baía de Guanabara ao som de ‘Garota da Ipanema’ (Tom Jobim/ Vinicius de Moraes, 1962) o público é convidado a percorrer um “Rio de amor que se perdeu”.  Em um belo trabalho de pesquisa da dupla de cineastas e do pesquisador Antônio Venâncio, a Cidade Maravilhosa, musa do maestro em canções ícones como ‘Samba do avião’ (Tom Jobim, 1962) e ‘Corcovado’ (Tom Jobim, 1960) se descortina em imagens de desconcertante beleza.  Igualmente impactant...