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'Tempo' marca a estreia fonográfica de Julia Bosco

Chama-se ‘Tempo’ (Independente/ Tratore) o disco que marca a estreia da cantora e compositora Julia Bosco no mercado fonográfico. Filha de peixe grande da MPB, Julia opta por linguagem pop contemporânea distante do estilo inconfundível – e formidável – de seu pai, João Bosco.  A produção musical de Plínio Profeta e Fabio Santanna utiliza teclados sem parcimônia na maioria das treze faixas, todas assinadas por Fabio, nove delas em parceria com Julia. O universo abordado pelo casal nem sempre resulta em canções interessantes, sendo que as melhores são exatamente as primeiras: ‘Desavisados’, ‘Curtição’ e ‘Na oração’, não por acaso assinadas a quatro mãos. O nível cai nitidamente a partir da metade do disco, quando canções como ‘Play a fool’ e ‘Carta para uma amiga’ soam enfadonhas. Em participação especial, Marcos Valle injeta sua habitual bossa em ‘Curtição’, talvez a mais radiofônica das faixas. Mas o grande momento do disco é, indiscutivelmente, ‘Oração’.  Adornada p...

Portela e Vila Isabel apresentam os melhores sambas de enredo de 2012

Lançado em dezembro de 2011, o CD ‘Sambas de enredo 2012’ (Universal Music) enfileira os 13 hinos que as escolas de samba do Rio de Janeiro defenderão no desfile do Grupo Especial do Carnaval carioca neste mês de fevereiro de 2012. Sem grandes novidades, a gravação traz a voz oficial da apuração da LIESA (Liga Independente das Escolas de Samba), Jorge Perlingeiro, anunciando cada escola no início das faixas, expediente usado no disco de 2005, quando o locutor oficial da Marquês de Sapucaí, Demétrio Costa, também identificava as agremiações. Algumas bossas desnecessárias como guitarras e acordeões inseridos em determinadas faixas não comprometem a boa safra de sambas novamente gravados na Cidade do Samba com a participação do coro de cada escola já na primeira passagem, recurso que deveria ser abolido.  Enredos clássicos como África (Angola) e Bahia, ou mesmo o Maranhão novamente cantado pela Beija-Flor de Nilópolis, renderam sambas acima da média.  A atual campeã do C...

Moyseis Marques, um sambista sem mania de passado

Chama-se ‘Pra desengomar’ o terceiro disco solo de Moyseis Marques, que marca, ainda, sua estreia na gravadora Biscoito Fino. Identificado com a geração de sambistas surgida na Lapa na década de 1990, o mineiro radicado no Rio talvez seja a voz menos reverente entre seus pares – certamente é uma das melhores. Produzido por Alessandro Cardozo e o próprio Moyseis, ‘Pra desengomar’ tira a excessiva goma da veneração que paralisa o samba em alguns redutos, acertando na sonoridade mais urbana e no ineditismo das canções. Entre violões, pandeiros e tamborins passeia o elegante piano de João Bettencourt. Desta vez, o lado autoral presente em ‘Moyseis Marques’ (2007) e ‘Fases do coração’ (2009) não dá espaço para regravações; as doze faixas são assinadas por Moyseis, nove em parcerias com Edu Krieger, Moacyr Luz e Zé Renato, entre outros. Embora resvale em temas batidos, mas aparentemente inevitáveis ao gênero, como o malandro da faixa título, ‘Pra desengomar’ (Alfredo Del Penho/ Moyseis ...

A música universal de Jobim dá o tom em emocionante documentário

O desfile de intérpretes de diversas latitudes durante o documentário ‘A música segundo Tom Jobim’ reitera a amplitude da obra do maestro Antônio Carlos Brasileiro de Almeida Jobim (1927 – 1994). O idioma universal da música jobiniana é o fio condutor da narrativa assinada pelo veterano cineasta Nelson Pereira dos Santos e pela jovem diretora Dora Jobim.  Seguindo a máxima atribuída a Tom – “A linguagem musical basta” –, palavras e legendas foram descartadas da produção de 1h28m. Pelas asas de um avião da Panair que sobrevoa a Baía de Guanabara ao som de ‘Garota da Ipanema’ (Tom Jobim/ Vinicius de Moraes, 1962) o público é convidado a percorrer um “Rio de amor que se perdeu”.  Em um belo trabalho de pesquisa da dupla de cineastas e do pesquisador Antônio Venâncio, a Cidade Maravilhosa, musa do maestro em canções ícones como ‘Samba do avião’ (Tom Jobim, 1962) e ‘Corcovado’ (Tom Jobim, 1960) se descortina em imagens de desconcertante beleza.  Igualmente impactant...

Roberta Sá aposta em (bom) repertório radiofônico

A controversa experiência de transformar a buliçosa obra do compositor baiano Roque Ferreira em números sofisticados, recheados das cordas do excelente Trio Madeira Brasil, realizada no álbum ‘Quando o canto é reza’ (2010), parece ter deixado marcas indeléveis em Roberta Sá.  Patrocinado pelo projeto Natura Musical, o novo disco da cantora potiguar radicada no Rio de Janeiro, ‘Segunda pele’ (MP,B Discos/ Universal Music), retoma  a receita da produção musical contemporânea feita para tocar no rádio. Não há aí nenhum demérito, afinal o rádio ainda é o veículo ideal de aproximação entre público e cantores. Aos dez anos de carreira, Roberta ainda não alcançou a desejada projeção nacional – curiosamente a bela e esguia figura que alguns momentos lembra(va) Marisa Monte tornou-se uma  artista identificada com o samba carioca, ainda que não tenha feito um movimento radical em direção ao gênero. Seus discos estão muito mais para uma mistura entre o pop tupiniquim e a produ...

Em show tradicional, Chico Buarque dá as cartas

Em cartaz até o dia 12 de fevereiro com a turnê de lançamento do CD ‘Chico’, lançando em julho de 2011, Chico Buarque apresenta no palco da casa de espetáculos Vivo Rio um show acolhedor. O cenário de Hélio Eichbauer e a linda iluminação de Maneco Quinderé contribuem para a percepção do ambiente extremamente confortável. Hábil tecelão, o artista costura as dez canções do recente álbum e outros tantos clássicos, a maioria de sua autoria, no repertório de 30 números. Canções que deixaram de tocar no rádio – e outras que nunca tocaram – foram calorosamente recebidas pelo público presente na noite desta quinta-feira, 19 de janeiro de 2012. A sensação é de topar com algum conhecido, como diz a letra de ‘Querido diário’ (Chico Buarque, 2011), daqueles que acompanhamos a vida mesmo à distância. O palco é casa e nele também estão presentes outros velhos amigos: João Rebouças (piano e teclados), Jorge Helder (baixo), Wilson das Neves (bateria), Marcelo Bernardes (sax, clarinete e...

O bem-vindo regresso de Amelinha

Dez anos após ‘Pessoal do Ceará’, CD de caráter revisionista dividido com os conterrâneos Belchior e Ednardo, Amelinha está de volta com ‘Janelas do Brasil’, álbum que também marca sua estreia na gravadora Joia Moderna. Feminina voz do grupo de artistas nordestinos que imigrou para o Sudeste na década de 1970, Amelinha emplacou sucessos nacionais como ‘Frevo mulher’ (Zé Ramalho), ‘Foi Deus quem fez você’ (Luiz Ramalho) e ‘Mulher nova, bonita e carinhosa faz o homem gemer sem sentir dor’ (Zé Ramalho/ Otacílio Batista) em tempos de emissoras de rádio (um pouco) mais democráticas. Embora tenha progressivamente desaparecido dos veículos de comunicação a partir de meados da década de 1980, quando o canto cortante e teatral de certa paraibana chamou a atenção – e o rock tupiniquim tomou conta da mídia –, Amelinha permaneceu na memória do público. Intérprete segura, de timbre docemente agreste, revelada no disco ‘Flor da paisagem’ (1977), ela encara com naturalidade reconfortante o ...