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Dori Caymmi celebra parceria em disco impregnado de brasilidade

Na apresentação do novo CD de Dori Caymmi, ‘Poesia musicada’ (gravadora Acari Records), Paulo César Pinheiro relembra seu encontro musical com o primogênito dos Caymmi. Iniciada em 1969 com ‘Evangelho’, a parceria rendeu pouco menos de 100 canções (nas contas de Pinheiro) e acaba de ganhar mais um belo capítulo com o lançamento do álbum de 13 faixas assinadas a quatro mãos. Produzido e arranjado por Dori, ‘Poesia musicada’ proporciona ao ouvinte uma viagem pelo Brasil distante dos grandes centros urbanos, banhado pelo mar, onde o vento balança as redes – de pesca e de esteira. Onde a noite estrelada é convite para o aconchego junto ao bem-querer. Uma viagem sem riscos pelo cancioneiro característico do século XX, distinto de boa parte da música produzida atualmente. Herança do pai, Dorival Caymmi (1914 – 2008), tão evidente quanto o refinado gosto musical, a voz grave e profunda de Dori é veículo apropriado para a poesia impregnada de brasilidade de Paulo César Pinheiro. “Poesi...

Há 36 anos, a feiticeira Marília Pera apostava em futuros talentos da MPB

Além de Carmen Miranda, Dalva de Oliveira, Maria Callas, Marília Pera já transformou em muitas outras estrelas da música brasileira e internacional ao longo de sua longeva e gloriosa carreira. Ela estreou nos palcos em 1948 interpretando a filha da atriz francesa Henriette Morineau na peça ‘Medéia’, de Eurípedes.  Para as gerações que a conhecem apenas por seus personagens tragicômicos em novelas globais, ou ainda pela histriônica interpretação de ‘120... 150... 200 km por hora’ (Erasmo Carlos/ Roberto Carlos) no show ‘Elas cantam Roberto’ (2009), durante os festejos pelos 50 anos de carreira do Rei, a reedição do álbum ‘Feiticeira’ recupera/apresenta outros encantos de Marília. Lançada originalmente no distante ano de 1975, a trilha sonora do espetáculo de mesmo nome, estrelado pela atriz, ganha versão em CD produzida por Thiago Marques Luiz para a gravadora Joia Moderna. Concebido pela Marília e por Nelson Motta (na época, seu marido), com roteiro de Fauzi Arap e do própri...

Novas sereias (en)cantam Marina Lima em 'Literalmente loucas'

Doze novas sereias da música popular brasileira foram reunidas pelo DJ Zé Pedro em ‘Literalmente loucas – As canções de Marina Lima’ (gravadora Joia Moderna), álbum no qual as composições (mais ou) menos conhecidas da cantora e compositora carioca ganharam releituras contemporâneas. Sintomaticamente, o projeto conduzido pela jornalista Patrícia Palumbo, apresenta coesão sonora que sublinha a cena musical atual que, apesar da notória procura por sons e texturas inusitados, é pontuada por guitarras de sotaque originário nas décadas de 1970/1980. Dona de certa marra historicamente atribuída aos conterrâneos de Marina, a paulista Tulipa Ruiz reacende a sensualidade esperta de ‘Memória fora de hora’ (Marina Lima/ Antônio Cícero), de ‘Simples como fogo’ (1979). Com seu canto algo etéreo, Tulipa transforma a faixa de abertura em um dos melhores momentos de ‘Literalmente loucas’, confirmando os merecidos elogios que vem recebendo da crítica especializada. O ótimo arranjo de Gustavo Ruiz (...

Entre batuques e romances, Arlindo faz ótimo show

Muita gente se retirava do Citibank Hall quando os inconfundíveis acordes de ‘Andança’ anunciaram a presença de Beth Carvalho no palco da casa de espetáculos da Barra da Tijuca, já na madrugada de domingo, 11 de setembro de 2011. A anunciada participação da madrinha do samba no show ‘Batuques e romances’, de Arlindo Cruz, só aconteceu após o tempo regulamentar, nos acréscimos da partida. Ao entrar em campo às 22h45, acompanhado das crianças do Jongo da Serrinha, citando versos de Noel Rosa e Vadico (‘Feitio de oração’) e convidando o público, ‘Seja sambista também’ (Arlindo Cruz/ Sombrinha), Arlindo enfileirou sambas inspirados nos costumes das religiões afro-brasileiras. Lançado em 1988 pelo grupo Fundo de Quintal, ‘Banho de fé’ (Arlindo Cruz/ Sereno/ Sombrinha) precedeu ‘Pelo litoral’ (Arlindo Cruz/ Acyr Marques/ Rogê), buliçosa faixa do novo álbum. De outro imperiano de fé, Beto Sem Braço (1940 – 1993), vieram ‘Ô Irene’ e ‘Deixa a fumaça entrar’. Primeira faixa do CD ‘Batuq...

Cida Moreira: uma dama longe da obviedade

“Antes de Deus criar terra e mar/ Ele segurava as estrelas na mão/ Que giravam em seus dedos/ Como areia em grão/ Até que um dia uma caiu...”, diz a versão do ator e diretor teatral Antônio Carlos Brunet para ‘Lost in the stars’ (Maxwell Anderson/ Kurt Weill), faixa que encerra ‘A dama indigna’, álbum de Cida Moreira lançado recentemente pela gravadora Joia Moderna. De seu quarto no ‘Hotel das estrelas’ (Jards Macalé/ Duda), nossa solitária dama coloca seu canto dramático a serviço de canções interligadas por uma linha teatral que envolve o ouvinte logo na primeira audição. Acompanhada apenas por seu vigoroso – e sensível – piano, Cida irmana compositores tão distantes quanto Gonzaguinha (‘Palavras’) e David Bowie (‘Soul love’). Apesar da indisfarçável solitude que atravessa as 14 faixas do disco, é o amor em suas mais diversas formas que dá o tom em ‘A dama indigna’, mesmo que em certo momento ela o renegue: “Quem chora por amor é um imbecil/ Quem vive de ilusão é muito mais”, d...

Centenário Pedro Caetano ganha bela homenagem

Para comemorar o centenário do pai, o compositor Pedro Caetano (1911 – 1992), Cristina Caetano imaginou um projeto que incluía blog, site, documentário, show, DVD, enfim, tudo aquilo que um grande artista – e sua obra – merece em uma data tão expressiva. Ela foi atrás do sonhado patrocínio, mas, surpreendentemente, não obteve a resposta esperada. O  relato em primeira pessoa faz parte do vídeo que antecedeu o show ‘Pedro Caetano 100 anos’, apresentado por Cristina Buarque, Mariana Baltar e Marcos Sacramento nas noites de 25 e 26 de agosto de 2011, no Teatro Rival Petrobrás. Para a alegria do público que lotou o tradicional reduto cultural da Cinelândia – e dela própria – Cristina encontrou outros entusiastas da música popular brasileira, dispostos a não deixar passar em branco a efeméride. Cronista musical, Pedro Caetano retratou através de sambas, choros, valsas e marchinhas carnavalescas inspiradas, cenas cotidianas do Rio de Janeiro, capital da República – como atesta o privile...

Repertório recorrente inibe voos mais altos de Glória Bomfim

Originalmente lançado em 2007, o CD ‘Santo e orixá’ (Acari records) trazia 14 afro-sambas inéditos compostos por Paulo César Pinheiro na voz da estreante cantora Glória Bomfim. Repaginado visualmente, com outro título e repertório reduzido para 12 faixas, o disco reaparece agora através da Quitanda de Maria Bethânia, via gravadora Biscoito Fino. ‘Anel de aço’, nome da faixa que passa a abrir o álbum em sua nova versão, nomeia o relançamento que deixou de fora ‘Bambueiro’ e ‘A palma da palmeira’. Perpetuando a tradição musical brasileira, onde são cíclicas as histórias de intérpretes oriundas das camadas menos favorecidas da população, a mãe-de-santo Glória Bomfim viu seu talento ser observado e reconhecido enquanto trabalhava como doméstica na cada do casal Luciana Rabello e Paulo César Pinheiro. Seu histórico assemelha-se ao de duas personalíssimas estrelas, verdadeiros ícones da cultura afro-brasileira, reveladas tardiamente. Possuidora de insuspeitada destreza no fraseado rítmico e...