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Trilha sonora da minissérie 'As cariocas' traz boas regravações

Inspirada nas crônicas homônimas de Sérgio Porto (1923 – 1968), a minissérie ‘As cariocas’ estreou em outubro de 2010. A trilha sonora, produzida por Rodrigo Campello e Pedro Luís, foi lançada pela gravadora Som Livre em maio deste ano, trazendo gravações inéditas de artistas de diferentes regiões da música popular brasileira. Pedro Luís inicia os trabalhos com a boa ‘Bela fera’ (Pedro Luís), faixa composta para a abertura da minissérie dirigida por Daniel Filho. A evolução de Pedro como intérprete merece registro.  Mart’nália recria ‘Menina’ (Paulinho Nogueira). O sucesso setentista ganha conotação sexual contemporânea na voz da filha de Martinho da Vila. Olívia Byington imprime brandura em ‘Tempo de estio’ (Caetano Veloso), outro hit dos anos 1970. Nina Becker acerta na charmosa e suave versão de ‘Só love’ (MC Buchecha), funk melody da dupla Claudinho & Buchecha valorizado pelo arranjo de Rodrigo Campello. O mesmo não acontece em ‘Samba do carioca’ (Carlos Lyra/ V...

O (anti)clímax de Marina Lima

Cinco anos após o lançamento de ‘Lá nos primórdios’, interessante disco gerado a partir do show dirigido por Monique Gardenberg, Marina Lima volta em álbum de ambiência incômoda e – novamente – confessional. ‘Clímax’ expõe angústias e questionamentos da cantora e compositora que, ao lado do irmão Antônio Cícero, manteve elevado o nível da DR (discussão do relacionamento) na MPB. Canções que se tornaram clássicos do pop nacional como ‘Acontecimentos’, ‘Virgem’, ‘Eu acredito’ e ‘No escuro’ passam longe das abordagens excessivamente dramáticas e pouco criativas da DR feitas por compositoras surgidas nos últimos anos. Os tempos são outros. A poesia de Cícero não está presente em ‘Clímax’. Os olhos felizes que refletiam o charme do mundo miram horizontes mais carregados desde que a carioca trocou a ensolarada zona sul do Rio de Janeiro pela capital paulista. A maior cidade do país é musa de ‘#SPFeelings’, uma das sete composições solo de Marina incluídas no novo trabalho. As demais fai...

Caldeirão rítmico do 'Pagode Jazz' dá ótimo caldo

O mulato inzoneiro, a morena sestrosa e outros tipos descritos nas letras de Ary Barroso (1903 – 1964) gingam com a ‘Lola crioula’ (Geraldo Babão/ Roberto Mendes) ao som do novo álbum do Pagode Jazz Sardinha’s Club, lançado pela gravadora Biscoito Fino. Pregando a mestiçagem musical característica na obra do compositor mineiro, o grupo instrumental mostra, em ‘Cidade mestiça’, que “o samba é de fato legal, porque não tem o tal de preconceito”, é lugar de negros, brancos, pardos e demais cores resultantes da rica interação étnica no Brasil. Acentuando a mistura rítmica que deu ao país o gênero musical que virou sua marca registrada, o PJSC passeia com inventividade e excelência por repertório próprio em números como ‘À queima roupa’ (Eduardo Neves/ Rodrigo Lessa), ‘Praia do pinto’ (Eduardo Neves/ Rodrigo Lessa/ Luis Louchard) e ‘Pedra verde’ (Roberto Marques). Eles também põem na roda a ‘Morena do mar’ (Dorival Caymmi), a ‘Índia’ (J. A. Flores/ M. O. Guerreiros/ José Fortuna) e a ‘Bra...

Os valorosos batuques e romances de Arlindo Cruz

Primeiro disco de inéditas desde ‘Sambista perfeito’ (Deckdisc), lançado em 2007, ‘Batuques e romances’ (Sony Music) traz o samba da melhor qualidade feito por Arlindo Cruz há quase três décadas, desde que surgiu nas míticas rodas de samba do Cacique de Ramos.  Nas 17 músicas, dispostas em 15 faixas, Arlindo equilibra seu reconhecido lado romântico em números como ‘Quando falo de amor’ (Arlindo Cruz/ Fred Camacho/ Almir Guineto) e o festejado perfil de ‘Batuqueiro’ (Arlindo Cruz/ Fred Camacho/ Marcelinho Moreira): “Nasci batucando na mão da parteira/ Toco frigideira, cuíca e agogô”, avisa o dono do inconfundível banjo. “Suburbano nato, com muito orgulho”, o imperiano de fé repete a dobradinha de sucesso com o produtor Leandro Sapucahy. Não por acaso, a dolente faixa escolhida para divulgar o novo álbum, ‘O bem’ (Arlindo Cruz/ Délcio Luiz), lembra ‘Meu lugar’ (Arlindo Cruz/ Mauro Diniz), hino de amor a Madureira, bairro do subúrbio carioca onde está localizada a quadra do Impé...

Olivia e Francis Hime dividem belo álbum

Casados há 46 anos, Olivia e Francis Hime somente agora assinam um disco conjuntamente. ‘AlmaMúsica’ (Biscoito Fino) refaz caminhos musicais percorridos pelo casal durante quase cinco décadas de cúmplice parceria. O elegante piano de Francis atravessa todo o álbum dividido em suítes ou, como prefere o artista, em “quadros”, que reúnem clássicos da música popular brasileira de diversas épocas. As inéditas ‘Balada de um café triste’ (Francis Hime/ Geraldo Carneiro) e ‘AlmaMúsica’ (Francis Hime/ Olivia Hime) completam o repertório requintado. Além de remontar ao fino da chamada MPB, a memória musical da dupla também resgata pérolas aparentemente esquecidas como ‘Minas Geraes’ (Novelli/ Ronaldo Bastos), gravada por Milton Nascimento no disco ‘Geraes’ (1976) com arranjo de Francis. A romântica canção abre o disco (primeiro quadro) e reaparece como vinheta ao longo de ‘AlmaMúsica’: “Com o coração aberto em vento/ Por toda a eternidade/ Com o coração doendo/ De tanta felicidade...”. Do ba...

A delicada alma lírica de Mônica Salmaso

Em seu novo álbum, ‘Alma lírica brasileira’ (Biscoito Fino), Mônica Salmaso reafirma seu posto único no panteão das cantoras nacionais. A paulistana passa longe do pop feito para tocar no rádio e, diferentemente das colegas surgidas nas últimas décadas, não compõe. Sem perseguir o sucesso fácil, Mônica constrói sua refinada discografia graças à habilidade em pescar pérolas do cancioneiro nacional das mais variadas épocas. Mas de nada (ou muito pouco) serviria tal qualidade sem a voz grave e melodiosa que não presta tributos à Marisa Monte, ainda hoje farol para novatas – e outras nem tanto. Mônica reveste canções tão díspares quanto ‘Carnavalzinho (Meu carnaval)’ (Lisa Ono/ Mário Adnet) e ‘Derradeira primavera’ (Tom Jobim/ Vinicius de Moraes, 1963) com afinação e equilíbrio que distanciam seu canto elegante das banalidades contemporâneas. Acompanhada por Teco Cardoso (sopros) e Nelson Ayres (piano), a cantora – responsável por discreta percussão – cria ambiência camerística e...

O samba enviesado de Adriana Calcanhotto

Lançado em março deste ano, ‘O micróbio do samba’ (Sony Music) reúne doze composições (dez inéditas) da gaúcha Adriana Calcanhotto sobre o gênero musical que deu régua e compasso à música popular brasileira, sobretudo a cariocas e baianos. Mesmo carregando o tal micróbio citado pelo conterrâneo Lupicínio Rodrigues (1914 – 1974), a música de Adriana não animará rodas, nem será batucada nos quintais e esquinas da cidade. Auxiliada por Alberto Continentino (baixo) e Domenico Lancelotti (bateria e percussão), Adriana (voz, violão, piano, guitarra, cuíca, caixa de fósforos e bandeja) altera o samba um tanto assim, filtrando seu universo característico através da ambiência pretensamente descolada e elegante que permeia a produção musical contemporânea. As participações de músicos como Davi Moraes, Moreno Veloso e Rodrigo Amarante evidenciam esta opção que, certamente desagradará conservadores, podendo reacender antigas discussões. Mesmo estando na base da maioria dos gêneros musicais brasil...