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O samba maduro de Zeca

“Pra fazer um samba com beleza é preciso um bocado de tristeza, senão não se faz um samba, não” dizia Vinicius de Moraes. Tristeza pode não ser o sentimento exato, mas certa dose de melancolia já presente em ‘Uma prova de amor’, CD lançado por Zeca Pagodinho em 2008, mostra a cara sem cerimônias em ‘Vida da minha vida’ (Universal Music), vigésimo - primeiro disco do sambista, dedicado à madrinha Beth Carvalho. A voz mais grave, conseguida nas madrugadas da vida, desce redonda como cerveja gelada no repertório onde uma ou outra concessão à receita do (fácil) sucesso radiofônico, caso de ‘O puxa-saco’ (Alamir/ Roberto Lopes/ Levy Vianna) e ‘O garanhão’ (Zé Roberto), não embaçam o ótimo repertório. Pinçada do CD ‘Batucando’ lançado por Moacyr Luz em 2009, a faixa-título teve sua beleza realçada por Zeca que já havia participado da gravação original da parceria de Luz e Sereno. Pagodinho foi feliz no resgate de ‘Poxa’, (único) sucesso de Gilson de Souza em 1975 e, não por acaso, a mús...

Gal Total

Acompanhada do violonista Luiz Meira, Gal Costa fez única apresentação ontem, no Palácio do Anhembi, em São Paulo. Belíssima, a cantora voltou a exibir cabelos longos. Os gestos e o vestido contribuíram ainda mais para a aura de Diva. Chamado 'Total' - de acordo com a recente caixa lançada pela Universal Music com belíssima reedição de seus discos na antiga Philips - o show lista sucessos da carreira de Gal. Sucesso radiofônico em 1984, 'Chuva de prata' (do disco 'Profana') foi surpresa no bis: 1. Minha voz, minha vida (Caetano Veloso) 2. Eu vim da Bahia (Gilberto Gil) 3. Azul (Djavan) 4. Meu bem, meu mal (Caetano Veloso) 5. Camisa amarela (Ary Barroso) 6. Folhetim (Chico Buarque) 7. Vatapá (Dorival Caymmi) 8. Samba do grande amor (Chico Buarque) 9. Wave (Tom Jobim) 10. Garota de Ipanema (Tom Jobim/ Vinicius de Moraes) 11. Sábado em Copacabana (Dorival Caymmi/Jorge Guinle); Copacabana (João de Barro/ Alberto Ribeiro) 12. Você não entende nada (Caetano Veloso...

O nome dela é Gal!

Seguindo a busca por tesouros em seu baú, a Universal Music põe nas lojas esta semana a caixa ‘Gal total’ com 15 títulos gravados por Gal Costa na então gravadora Philips/Polygram. Ficaram de fora ‘Tropicália’, ‘Temporada de verão’ e ‘Doces Bárbaros’. Um CD duplo apropriadamente chamado ‘Divina, maravilhosa’, de raridades, completa o lançamento tão aguardado pelos fãs. A maioria dos discos contidos em ‘Gal total’ resistiu (muito) bem ao tempo, talvez ‘Baby Gal’ (1983) – seu último trabalho na Polygram – seja exceção com seus arranjos calcados nos teclados que marcaram a década de 1980. O começo manso, ao lado do amigo de sempre, Caetano Veloso, em ‘Domingo’ (1967) trazia o frescor da jovem de 22 anos, apaixonada pela Bossa Nova e, mais ainda, por João Gilberto, em faixas como ‘Coração vagabundo’ (Caetano Veloso) e ‘Candeias’ (Edu Lobo). Em 1969 sai ‘Gal Costa’, de ‘Divino maravilhoso’ (Caetano Veloso/Gilberto Gil), ‘Baby’ (Caetano Veloso), ‘Não identificado’ (Caetano Veloso) e ‘Que...

A música de Baia

Figura conhecida no circuito alternativo carioca nas duas últimas décadas, Maurício Baia revê sua carreira no CD/DVD ‘Baia no Circo’ (Som Livre) gravado em dezembro do ano passado no Circo Voador, onde o cantor e compositor faz show de lançamento nesta sexta-feira [17.09.2010]. Acompanhado pelos músicos Carlos Sales (bateria), Wlad (baixo), Caesar Barbosa (guitarra), Pedro Augusto (teclados), Rodrigo Sha (sax/ flauta), Leandro Joaquim (trompete/ flugel) e Shilon (guitarra), Baia dá seu recado alternando-se no violão, guitarra e gaita, no show dirigido por Luis Carlinhos. Destaca-se a influência de Raul Seixas na música do conterrâneo menos famoso. A sociedade alternativa anunciada/divulgada pelo Maluco Beleza está presente na inédita 'Em nome da fome' (Baia/ André Gardel) e 'Bicho homem' (Baia/ Xina) – e em muitas outras das 22 músicas apresentadas naquela noite. O roteiro engloba a produção fonográfica do artista iniciada em 1991, quando formou o grupo ‘Baia & Rock...

A Dama da Paixão

No momento em que lança o DVD gravado ao vivo no Maranhão, baseado no seu mais recente CD, "Acesa", e comemora 38 anos de carreira, Alcione vê o início de sua trajetória ser resgatado pela Universal Music. A gravadora onde a cantora fez seus primeiros registros fonográficos coloca nas lojas o CD "Sabiá Marrom – O samba raro de Alcione" (que já mereceu destaque no blog). Do registro seminal no compacto duplo com 'Figa de Guiné' e 'O sonho acabou' a 'Dama da paixão', faixa escolhida para divulgar o DVD, Alcione caminhou de maneira sentimental e intuitiva, nos moldes de Elizeth Cardoso, Ângela Maria e Núbia Lafaiette, estrelas que ouvia no rádio ainda na terral natal. Ela resistiu à imposição do limitador rótulo de cantora de samba (quando Clara Nunes e, pouco depois, Beth Carvalho, começavam a se destacar), mas não se afastou do ritmo que lhe deu os primeiros sucessos - 'O surdo' e 'Não deixe o samba morrer'. Porém, em músicas...

A força que nunca seca

Era uma vez a(s) cigarra(s) e a formiga. Enquanto as primeiras levavam a vida a cantar (algumas brilhantemente) a formiga estava sempre trabalhando, construindo. Maria Bethânia subverte a história original de Esopo no recital ‘Bethânia e as Palavras - Leituras’, no palco do Teatro Fashion Mall onde se apresenta de sexta a domingo, nesta e na próxima semana. Como uma operária com asas, ela sobrevoa os sonhos dos poetas, dos compositores e toca o sentimento dos espectadores ao declamar/cantar poemas e canções escolhidos para o espetáculo. Acompanhada pelos músicos Luiz Brasil (violão) e Carlos César (percussão), Bethânia segue um roteiro feito com o auxílio de Hermano Vianna e direção Elias Andreatto. A pré-estreia aconteceu nesta quinta-feira, dois de setembro, para convidados, jornalistas e alunos de colégios públicos cariocas. O projeto começou em Minas, no ano passado, quando a cantora foi convidada pela Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG) para participar do ciclo de confe...

O canto e a reza de Roberta

Lançando por Clara Nunes na década de 1970, Roque Ferreira tornou-se o compositor preferido de nove entre dez cantores da música popular brasileira atual. A lista passa por Zeca Pagodinho, Martinho da Vila, Beth Carvalho e Maria Bethânia até novatos como Luiza Dionízio, Aline Calixto e Pedro Miranda. A admiração é tanta que alguns dedicaram álbuns inteiros à obra do baiano, como a conterrânea Clécia Queiroz que lançou 'O samba de Roque' no começo deste ano. Agora é a vez de Roberta Sá que se uniu ao Trio Madeira Brasil para lançar ‘Quando o canto é reza’ (Universal Music/MP,B), projeto anunciado em 2007. Os sambas de roda, chulas, ijexás, cocos e toadas de Roque - que nem sempre são de fácil compreensão – estão lá, mas quase sempre ralentados pelos (ainda assim) belos arranjos de Marcelo Gonçalves, Zé Paulo Becker e Ronaldo do Bandolim e suavidade da cantora. Entre faixas inéditas e regravações destaca-se 'Água da minha sede' (Roque/Dudu Nobre) que deu nome ao CD l...