A
quinta edição da série multimídia ‘Sambabook’, concebida pela empresa
Musikeria, presta tributo a Jorge Aragão, cantor e compositor carioca que
comemora 40 anos de carreira contados a partir da gravação de ‘Malandro’
(Aragão/ Jotabê), lançada por Elza Soares em 1976. Como de costume, a escalação
dos cantores mistura renomados sambistas, como Martinho da Vila (‘Coisa de
pele’), Beth Carvalho (‘Pedaço de ilusão’) e Zeca Pagodinho (‘Quintal do céu’)
e artistas vinculados a outros gêneros musicais, como Anitta (‘Coisinha do
pai’), Lenine (‘Toque de malícia’) e Ivan Lins (‘Alvará’). Apesar da relativa
diversidade de convidados, as novas versões sofrem com a excessiva reverência
que acompanha a série, que já homenageou João Nogueira (1941 – 2000), Martinho
da Vila, Zeca Pagodinho e Dona Ivone Lara. Seguindo à risca os arranjos
originais, o ‘Sambabook’ engessa a criatividade dos intérpretes. Ainda assim, a
força da natureza chamada Elza Soares se sobressai em ‘Identidade’ (Aragão),
samba que denuncia o preconceito (ainda) nosso do dia-a-dia. Luciana Mello se
sai bem no clássico ‘Tendência’ (Aragão/ Ivone Lara) e Seu Jorge não deixa
ninguém ficar parado com o irresistível balanço de ‘Cabelo pixaim’ (Aragão/
Jotabê). Sem inovações, o DVD também soa protocolar, não se distanciando dos
registros audiovisuais das edições anteriores.
O item mais
interessante do lançamento, que também inclui blu-ray e fichário com partituras, além dos CDs e DVD, é o livro
‘Jorge Aragão – O enredo de um samba’ (Sonora Editora/ Musikeria). O texto do
jornalista João Pimentel refaz a trajetória do discreto artista com leveza e
deferência. Do soldado, que optou por ser o corneteiro para poder escapar do
quartel à noite e ir tocar nos bailes suburbanos, ao estouro nacional a partir
de 1999, quando lançou seu primeiro disco ao vivo, pela gravadora Indie
Records. Entre o quartel e o estrelato, conhecemos a história do jovem avesso à
badalação, amante de rock, pop e soul, que participou da fundação do grupo
Fundo de Quintal, na mítica quadra do Cacique de Ramos. São especialmente
saborosas as passagens sobre o bloco carnavalesco, que incluem as visitas de
Beth Carvalho – cuja frequência impulsionou a ida de vários compositores à
quadra –, Elizeth Cardoso, Alcione e até mesmo de um insuspeito – e ainda
desconhecido – Lenine. Figura singular no mundo do samba, autor de clássicos
como ‘Logo agora’ (com Jotabê) e ‘Vou festejar’ (com Dida e Noeci), cuja
gravação original de Elza Soares não chegou a ser lançada, Aragão tem seus 18
álbuns gravados entre 1981 e 2006 revistos, entre os quais, ‘Jorge Aragão’
(1991) e ‘Verão’ (1993), nunca vertidos para CD. Também vendido de forma
avulsa, ‘Jorge Aragão – O enredo de um samba’ é leitura prazerosa que revela
(um pouco) da personalidade deste grande artista brasileiro.
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