Pular para o conteúdo principal

Dupla atualiza a obra do mestre Ismael Silva

Reformador do seminal samba amaxixado de Donga (1890 – 1974), Sinhô (1888 – 1930) e companhia, Ismael Silva (1905 – 1978) também traz em seu currículo a criação da primeira escola de samba, a Deixa Falar, em 1929. Revelado por Francisco Alves (1898 – 1952), o ‘Rei da voz’, o sambista do Estácio viu suas composições, muitas vezes feitas com os parceiros Nilton Bastos (1899 – 1931) e Noel Rosa (1910 – 1937), além do próprio Chico Alves, ganharem registros, com orquestrações de acento... amaxixado. Afinal os músicos do novo samba, vistos com reservas, não transitavam pelos estúdios de gravação. Desilusão amorosa, crônica social bem-humorada, ótica machista e exaltação da malandragem eram temas do novo ritmo/ gênero, que virariam modelos para as futuras gerações. Violonista experiente, que chegou a acompanhar o mestre Ismael em seus últimos anos de vida, Cláudio Jorge se juntou ao cantor Augusto Martins para gravar o CD ‘Ismael Silva: Uma escola de samba’, pela gravadora Mills Records. Acompanhados por Carlinhos 7 Cordas (violão 7 cordas), Marcio Wanderley (cavaquinho e banjo), Belôba (tantan), Flavinho Miúdo (surdo e pandeiro), Marcelinho Moreira (pandeiro, repique de mão e tamborim), Dirceu Leite (flauta), Thiago da Serrinha (cuíca) e Zeca do Trombone (trombone), Cláudio e Augusto atualizam a obra de Ismael com a sonoridade contemporânea do samba. O resultado é um disco tão irresistível quanto curto – são apenas doze faixas em menos de 40 minutos. O bate-bola musical rende grandes momentos como ‘A razão dá-se a quem tem’ (Ismael Silva/ Noel Rosa/ Francisco Alves) e ‘Quem não quer sou eu’ (Ismael Silva/ Noel Rosa). A dupla passeia com desenvoltura pelos clássicos ‘Antonico’ (Ismael Silva), ‘Contrastes’ (Ismael Silva) e ‘Se você jurar’ (Ismael Silva/ Nilton Bastos/ Francisco Alves) e por joias esquecidas como ‘Me diga teu nome’ (Ismael Silva) e ‘Dona do lugar’ (Noel Rosa/ Ismael Silva/ Francisco Alves) – dois sambas buliçosos que poderiam ser cantados em qualquer roda de samba da cidade, assim como os irreverentes ‘O que será de mim’ (Ismael Silva/ Francisco Alves/ Nilton Bastos), ‘Todo mundo quer’ (Ismael Silva), ‘Peçam bis’ (Ismael Silva) e ‘Ninguém tem que achar ruim’ (Ismael Silva) entrariam facilmente no repertório de Zeca Pagodinho, por exemplo. Pioneiro na (re)formatação do ritmo que viraria sinônimo de brasilidade mundo afora, Ismael Silva ganha (pequeno) inventário musical à altura de sua importância. Oxalá ‘Ismael Silva: Uma escola de samba’ inspire novos alunos.

Comentários

Postagens mais visitadas deste blog

Joias musicais de Gilberto Gil são reeditadas

               A Universal Music reabre seu baú de preciosidades. Desta vez, a dona do maior acervo musical do país, traz duas joias do cantor, compositor e violonista Gilberto Passos Gil Moreira, recentemente eleito imortal pela Academia Brasileira de Letras. De 1971, o disco londrino, ‘Gilberto Gil’, reaparece em nova edição em vinil, enquanto ‘Refestança’, registro do histórico encontro de Gil e Rita Lee, de 1977, finalmente ganha versão digital.             Gravado durante o exílio do artista baiano em Londres, o quarto LP de estúdio de Gilberto Gil foi produzido por Ralph Mace para o selo Famous e editado no Brasil pela Philips, atual Universal Music. O produtor inglês também trabalhava com Caetano Veloso, que havia lançado seu primeiro disco de exílio no mesmo ano. Contrastando com a melancolia expressada por Caetano, Gil fez um álbum mais equilibrado, dosando as saudades do Brasil...

50 anos de Claridade

Clara Nunes (1942 – 1983) viu sua carreira deslanchar na década de 1970, quando trocou os boleros e um romantismo acentuado pela cadência bonita do samba, uma mudança idealizada pelo radialista e produtor musical Adelzon Alves. Depois do sucesso do LP ‘Alvorecer’, de 1974, impulsionado pelas faixas ‘Menino deus’ (Mauro Duarte/ Paulo César Pinheiro), ‘Alvorecer’ (Délcio Carvalho/ Ivone Lara) e ‘Conto de areia’ (Romildo/ Toninho Nascimento), a cantora mineira reafirmou sua consagração popular com o álbum ‘Claridade’. Lançado em 1975, este disco vendeu 600 mil cópias, um feito excepcional para um disco de samba, para uma cantora e, sobretudo, para um disco de samba de uma cantora. Traço marcante na trajetória artística e na vida de Clara Nunes, o sincretismo religioso está presente nas faixas ‘O mar serenou’ (Candeia) e ‘A deusa dos orixás’, do pernambucano Romildo e do paraense Toninho Nascimento, os mesmos autores de ‘Conto de areia’. Eles frequentavam o célebre programa no qual Adelzon...

Atrás do Trio Elétrico*

A menos de dois meses do Carnaval, os ensaios técnicos na Marquês de Sapucaí e nas quadras das escolas de samba bombam e os blocos de rua se preparam. Mas existe uma turma de foliões que foge da batucada carioca, preferindo o agito baiano, embalados pelos trios elétricos. “Se você for sozinho vai encontrar muito carioca por lá”, diz o comerciante Roberto Alves, 32 anos, apaixonado pelo Carnaval da Bahia. Para ele, falta a organização na folia do Rio. “Fiquei aqui em 2008 e detestei”, conta o moço que participou de sua primeira micareta (Carnaval fora de época) em 1996, em Belo Horizonte. “Tenho uns cem abadás”, gaba-se Roberto, que já garantiu mais alguns para este ano. Outro carioca, Rodrigo Carvalho, 28 anos, começou a pagar pelos abadás em março do ano passado. “Vou para Salvador há quatro anos seguidos. O clima é ótimo, não é pesado como nas raves”, compara ele, que dividirá um apartamento com 14 amigos durante a folia dos trios. “O mais requisitado é o Me Abraça, o abadá cu...