O CD ‘Sambas de Enredo 2016’, distribuído pela Universal Music, marca o benfazejo arrefecimento dos enredos patrocinados. Apesar das variações temáticas, que passam pelo circo, a malandragem, São Jorge, uma cantora de MPB e uma dupla sertaneja, entre outros, não há espaço para leveza (‘O amanhã’, ‘Domingo’), melancolia (‘Os sertões’, ‘E eles verão a Deus’), irreverência (‘E por falar em saudade’, ‘Mamãe eu quero Manaus’), crítica social (‘Seca do Nordeste’, ‘100 anos de liberdade, realidade ou ilusão?’) ou autocrítica (‘Bumbum paticumbum prugurundum’, ‘Hoje tem marmelada?’) na nova safra. Nos parâmetros atuais do gênero, os melhores sambas são: a empolgante “Ópera dos malandros”, da Acadêmicos do Salgueiro, ‘Maria Bethânia, a menina dos olhos de Oyá’, samba homenagem típico da Estação Primeira de Mangueira, e ‘Salve Jorge! O guerreiro da fé’, da querida Estácio de Sá, de volta ao Grupo Especial. Ok, o hino da Imperatriz Leopoldinense é bom, mas o universo sertanejo já tem espaço demais durante o ano inteiro – será que veremos o tal Wesley Safadão virar enredo nos próximos anos? Portela e Vila Isabel, escolas que vinham se destacando no quesito samba de enredo nos últimos anos, apresentam sambas apenas corretos. Enquanto a tradição da azul-e-branca de Oswaldo Cruz balança diante da pretensa modernidade do carnavalesco no pouco inspirado ‘No voo da águia, uma viagem sem fim...’, escola da terra de Noel escorrega na verborragia em ‘Memórias do Pai Arraia – Um sonho pernambucano, um legado brasileiro’. Longe de Paulo Barros, a Unidos da Tijuca ensaia o retorno aos sambas mais poéticos característicos da agremiação, em “Semeando sorriso, a Tijuca festeja o solo”, enquanto a Mocidade Independente de Padre Miguel bate na trave ao contar a história do cavaleiro solitário, em “O Brasil de La Mancha: sou Miguel, sou Cervantes, sou Quixote cavaleiro, Pixote brasileiro”. Tema que já rendeu sambas e desfiles históricos, o circo está de volta: “Mais de mil palhaços no salão”, da São Clemente, pode embalar um bom desfile. A Beija-Flor de Nilópolis contará a história do marquês que dá nome à avenida dos desfiles. “Mineirinho genial! Nova Lima – Cidade natal. Marquês de Sapucaí – O poeta imortal” derrapa nos costumeiros exageros do gênero ao afirmar que seu homenageado é “herdeiro verdadeiro de (tia) Ciata”. Ruim mesmo é “Fui no Itororó beber água, não achei. Mas achei a bela Santos, e por ela me apaixonei”, da Acadêmicos do Grande Rio, passa longe da criatividade ao falar da cidade paulistana e de seus filhos mais famosos, Pelé e Neymar. Enfim, o carnaval burocrático vai aos poucos se distanciando da juventude, mais interessada em outros gêneros musicais e em outros tipos de folia. O desfile das escolas de samba do Rio de Janeiro segue sem eternizar um samba de enredo há décadas. Alguns lampejos de criatividade provocam a ilusão de que novos caminhos se abrem, pra tudo se acabar na quarta-feira de cinzas sem deixar rastros na memória musical do carioca e do país.
O CD ‘Sambas de Enredo 2016’, distribuído pela Universal Music, marca o benfazejo arrefecimento dos enredos patrocinados. Apesar das variações temáticas, que passam pelo circo, a malandragem, São Jorge, uma cantora de MPB e uma dupla sertaneja, entre outros, não há espaço para leveza (‘O amanhã’, ‘Domingo’), melancolia (‘Os sertões’, ‘E eles verão a Deus’), irreverência (‘E por falar em saudade’, ‘Mamãe eu quero Manaus’), crítica social (‘Seca do Nordeste’, ‘100 anos de liberdade, realidade ou ilusão?’) ou autocrítica (‘Bumbum paticumbum prugurundum’, ‘Hoje tem marmelada?’) na nova safra. Nos parâmetros atuais do gênero, os melhores sambas são: a empolgante “Ópera dos malandros”, da Acadêmicos do Salgueiro, ‘Maria Bethânia, a menina dos olhos de Oyá’, samba homenagem típico da Estação Primeira de Mangueira, e ‘Salve Jorge! O guerreiro da fé’, da querida Estácio de Sá, de volta ao Grupo Especial. Ok, o hino da Imperatriz Leopoldinense é bom, mas o universo sertanejo já tem espaço demais durante o ano inteiro – será que veremos o tal Wesley Safadão virar enredo nos próximos anos? Portela e Vila Isabel, escolas que vinham se destacando no quesito samba de enredo nos últimos anos, apresentam sambas apenas corretos. Enquanto a tradição da azul-e-branca de Oswaldo Cruz balança diante da pretensa modernidade do carnavalesco no pouco inspirado ‘No voo da águia, uma viagem sem fim...’, escola da terra de Noel escorrega na verborragia em ‘Memórias do Pai Arraia – Um sonho pernambucano, um legado brasileiro’. Longe de Paulo Barros, a Unidos da Tijuca ensaia o retorno aos sambas mais poéticos característicos da agremiação, em “Semeando sorriso, a Tijuca festeja o solo”, enquanto a Mocidade Independente de Padre Miguel bate na trave ao contar a história do cavaleiro solitário, em “O Brasil de La Mancha: sou Miguel, sou Cervantes, sou Quixote cavaleiro, Pixote brasileiro”. Tema que já rendeu sambas e desfiles históricos, o circo está de volta: “Mais de mil palhaços no salão”, da São Clemente, pode embalar um bom desfile. A Beija-Flor de Nilópolis contará a história do marquês que dá nome à avenida dos desfiles. “Mineirinho genial! Nova Lima – Cidade natal. Marquês de Sapucaí – O poeta imortal” derrapa nos costumeiros exageros do gênero ao afirmar que seu homenageado é “herdeiro verdadeiro de (tia) Ciata”. Ruim mesmo é “Fui no Itororó beber água, não achei. Mas achei a bela Santos, e por ela me apaixonei”, da Acadêmicos do Grande Rio, passa longe da criatividade ao falar da cidade paulistana e de seus filhos mais famosos, Pelé e Neymar. Enfim, o carnaval burocrático vai aos poucos se distanciando da juventude, mais interessada em outros gêneros musicais e em outros tipos de folia. O desfile das escolas de samba do Rio de Janeiro segue sem eternizar um samba de enredo há décadas. Alguns lampejos de criatividade provocam a ilusão de que novos caminhos se abrem, pra tudo se acabar na quarta-feira de cinzas sem deixar rastros na memória musical do carioca e do país.
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