Estrela
radiante da canção popular brasileira, a paraense Maria de Fátima Palha de
Figueiredo sempre transitou por diversos gêneros que constituem a riqueza e
singularidade da nossa música. Desde o primeiro e belo álbum ‘Tamba-tajá’
(1976), Fafá de Belém foi ampliando seu território, chegando a atravessar o
Atlântico para aportar, com sucesso, em terras lusitanas. Indiferente aos
limitadores rótulos que sempre quiseram lhe impor, Fafá chega aos 40 anos de
carreira, contados a partir da gravação de ‘Filho da Bahia’ (Walter Queiroz)
para a trilha sonora da novela ‘Gabriela’ (1975), lançando ‘Do tamanho certo
para o meu sorriso’. Arquitetado pela cantora e pelo DJ Zé Pedro para sua gravadora
Joia Moderna, o álbum de dez faixas foi produzido pelos paraenses Manoel
Cordeiro e Felipe Cordeiro. Conectado à produção musical contemporânea do Pará,
‘Do tamanho certo para o seu sorriso’ abusa das programações eletrônicas, baixo
sintetizado, teclados e guitarras pilotadas pelos competentes músicos, pai e
filho, que também assinam, com Zeca Baleiro, ‘Asfalto amarelo’, sedutor
ingresso para trilhar os recantos afetivos da terra de Fafá. E é um prazer
passear por caminhos iluminados pela voz potente e pelas eficazes
interpretações da cantora, que dosa brejeirice, malícia e dramaticidade em
sábias porções. As dores de amores sempre tiveram lugar cativo na jukebox do
coração brasileiro, tanto faz se travestidas de contemporaneidade, como em ‘Volta’, despudorada canção do
pernambucano Johnny Hooker, ou de bolero, caso de ‘Usei você’, do mineiro
Silvio César. Da trilha sonora do filme nacional ‘Tatuagem’, no qual aparece na
voz de seu autor, ‘Volta’ encontra, em Fafá de Belém, sua intérprete perfeita, tal
como a pérola ‘Usei você’, lançada em 1971 pela diva Ângela Maria, cujo canto
passional sempre foi referência para Fafá. Outra regravação bem-sucedida, ‘Ao
pôr do sol’ (Firmo Cardoso/ Dino Souza) é um clássico da música romântica
paraense na voz do cantor Teddy Max (1954 - 2008). Inédita fornecida pela
conterrânea Dona Odete, ‘Pedra sem valor’ volta à pegada abolerada que tanto
apraz nossas cantoras mais apaixonadas – um arraso! Movido à guitarrada de
Manoel e Felipe, o merengue ‘Vem que é bom’ (Manoel Cordeiro/ Ronery) agita a
sala de reboco interiorana e a boate da periferia com igual animação. Um tom
nostálgico (lusitano?) permeia ‘Do tamanho certo para o meu sorriso’, mas a
tristeza não é senhora – há a afirmação de um sentimento popular que passa longe
da atitude cool almejada por tantos
artistas mais novos. No país que é muito mais do que qualquer zona sul, como o
sucesso do tal “sertanejo universitário” nos faz lembrar diariamente, muita
gente vai torcer o nariz para o disco, mas Fafá afirma categórica: ‘Meu coração
é brega’ (Veloso Dias) – e irresistível. Assim como Alcione, Fafá de Belém tem
cacife e autoridade suficientes para cantar canções de inegável apelo popular,
como ‘Quem não te quer sou eu’ (Firmo Cardoso/ Nivaldo Fiúza) e ‘Os passa vida’
Osmar Jr./ Rambolde Campos), do repertório da banda tecnobrega Saynora, e
evidenciar seus valores, como só fazem as grandes cantoras. Com esse som,
suingue brasileiro, do tamanho certo para o seu sorriso – e para o seu canto –
Fafá de Belém celebra ‘O gosto da vida’ (Péricles Cavalcanti). Viva!
A Universal Music reabre seu baú de preciosidades. Desta vez, a dona do maior acervo musical do país, traz duas joias do cantor, compositor e violonista Gilberto Passos Gil Moreira, recentemente eleito imortal pela Academia Brasileira de Letras. De 1971, o disco londrino, ‘Gilberto Gil’, reaparece em nova edição em vinil, enquanto ‘Refestança’, registro do histórico encontro de Gil e Rita Lee, de 1977, finalmente ganha versão digital. Gravado durante o exílio do artista baiano em Londres, o quarto LP de estúdio de Gilberto Gil foi produzido por Ralph Mace para o selo Famous e editado no Brasil pela Philips, atual Universal Music. O produtor inglês também trabalhava com Caetano Veloso, que havia lançado seu primeiro disco de exílio no mesmo ano. Contrastando com a melancolia expressada por Caetano, Gil fez um álbum mais equilibrado, dosando as saudades do Brasil...
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