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Seu Jorge faz músicas para churrasco na varanda climatizada


A receita de soul, samba, rock e reggae experimentada há quatros anos por Seu Jorge em ‘Músicas para churrasco, vol. 1’ volta ao cardápio musical do segundo volume da anunciada trilogia. Lançado pela gravadora Universal Music, produzido por Seu Jorge e Mario Caldato Jr., com capa e fotos do superestimado artista plástico Vik Muniz e release de Caetano Veloso, ‘Músicas para churrasco II’ reafirma a ascensão artística e social do cantor e compositor nascido na Baixada Fluminense, atualmente residindo em Los Angeles (EUA). Visando a bisar o sucesso do disco anterior, Seu Jorge se reuniu com seus parceiros mais constantes para novamente retratar situações cotidianas e personagens populares (suburbanos) contemporâneos, como o ‘Motoboy’ (Seu Jorge/ Pretinho da Serrinha/ Rogê/ Gabriel Moura), escolhido para divulgar o CD nas rádios. Turbinado por competentes linhas de baixo e metais, o samba pop feito pelo artista gera faixas altamente dançantes, como ‘Na verdade não tá’ (Seu Jorge/ Rogê/ Gabriel Moura), que se aproxima da música de Tim Maia (1942 – 1998) e sua banda Vitória Régia. A influência do ‘Síndico’ é ainda mais explicita em ‘Papo reto’ (Seu Jorge/ Rogê/ Gabriel Moura). Outro bom momento é ‘Tá em tempo’ (Seu Jorge/ Pretinho da Serrinha/ Rogê/ Gabriel Moura) que emula a sensualidade soul de ‘Quem não quer sou eu’, um dos destaques de ‘Músicas para churrasco, vol. 1’. Rimando “jogar um pano” com “show do Caetano”, a levada ijexá de ‘Felicidade’ (Seu Jorge/ Pretinho da Serrinha/ Gabriel Moura/ Leandro Fab) não chega a empolgar. Apesar de repaginado, o samba não perdeu sua peculiar misoginia, que reaparece em ‘Ela é bipolar’ (Seu Jorge/ Rogê/ Gabriel Moura), ‘Mina feia’ (Seu Jorge/ Pretinho da Serrinha/ Rogê/ Gabriel Moura) e na inacreditável ‘Faixa de contorno’ (Seu Jorge/ Pretinho da Serrinha/ Rogê/ Gabriel Moura), que fala sobre depilação (!). Décadas após o advento do feminismo, a mulher continua a ser tratada de forma discutível no antigo gênero musical e em suas novas vertentes. Ela é “culpada”, por exemplo, pelo voyeurismo “involuntário” do vizinho, em ‘Baby-doll’ (Seu Jorge/ Gabriel Moura/ Sidão Santos/ Tattá Spalla): “Mais um dia essa janela aberta/ Parece que faz de sacanagem/ A janela fica a noite aberta/ Cortina extrafina de voil/ Ela dorme sempre descoberta”, reclama o interlocutor da faixa. Mas tudo acaba apropriadamente em clima de celebração. ‘Everybody let’s go’ (Seu Jorge/ Tattá Spalla) encerra a festa black de Seu Jorge, em clima de pista de dança setentista com globo espelhado pendurado no teto. Nada mais natural, para a trilha idealizada para um churrasco distante das lajes e dos fundos de quintais, mas próximo das varandas climatizadas dos condomínios residenciais brasileiros.

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