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Mostrando postagens de maio, 2015

Entre pérolas e abobrinhas, o canto de Tulipa valoriza 'Dancê'

“Começou/ Agora você vai tomar conta de si/ Das pérolas, das abobrinhas, dos abacaxis, dos nós, dos faniquitos”, anunciam os versos de ‘Prumo’ (Tulipa Ruiz/ Gustavo Ruiz), promissora faixa de abertura de ‘Dancê’, o terceiro disco da cantora e compositora Tulipa Ruiz, lançado pela Pommelo Produções. E é assim, entre pérolas e abobrinhas (nem sempre saborosas) embaladas por arranjos vigorosos, grooves e metais competentes, que ‘Dancê’ convida o ouvinte a cair na pista de dança imaginada por Tulipa. Autora das onze faixas, dez delas em parceria com o irmão e produtor, Gustavo Ruiz, a artista paulista também assina os desenhos que ilustram o belo projeto gráfico de Tereza Bettinardi. Desde a sua boa estreia, com ‘Efêmera’ (2010), passando pelo bem-sucedido ‘Tudo tanto’ (2012), Tulipa vem se destacando mais pela beleza de sua voz aguda e por suas arejadas interpretações, do que por suas composições. ‘Dancê’ evidencia essa diferença, embora a compositora tenha lá seus bons momen...

Pélico amplia seus horizontes em 'Euforia'

‘Euforia’ é o terceiro álbum do cantor e compositor Pélico, produzido por Jesus Sanchez que também assinou ‘O último dia de um homem sem juízo’ (2008) e ‘Que isso fique entre nós’ (2011). A dupla produziu o disco de estreia do cantor Toni Ferreira, em 2013, que trazia ‘Olha só’ e ‘Repousar’, músicas que voltam agora na voz (pequena) de seu autor. Despretensioso e bem humorado, ‘Euforia’ vai além do pop potencialmente radiofônico de faixas como ‘Sobrenatural’ e ‘Meu amor mora no Rio’. Há samba (o ótimo ‘Você pensa que me engana’), faixa de sotaque africano (‘Sozinhar-me’), de pegada oitentista (‘Overdose’, ‘Ela me dá’ e ‘Euforia’) e momentos mais delicados/ românticos (‘Escrevo’, ‘Vaidoso’ e ‘Calado’), além da homenagem a Tom Zé (‘Ao meu amigo Zé’), um dos ídolos do compositor paulistano. Com versos bem construídos, embalados por uma sonoridade que se distancia de ruídos supostamente modernos presentes em muitos discos atuais, ‘Euforia’ se revela um álbum interessante, em que Pélico...

Mais pop, 'Estratosférica' registra o atual momento artístico de Gal Costa

Se o auto tune não basta para embelezar o canto, altas doses de photshop parecem ser suficientes para adulterar a percepção da realidade (ao menos em parte). Uma Gal Costa literalmente renovada é o que se vê na capa de ‘Estratosférica’, seu novo álbum lançado pela gravadora Sony Music. A foto registra o atual momento artístico da mais doce bárbara, que comemora 70 anos de idade e 50 anos de carreira em 2015. Retoques digitais e uma falsa cabeleira compõem a imagem, feita sob medida para novos fãs, que não presenciaram a juventude da cantora, e para aqueles saudosistas que insistem em não aceitar que o tempo não para. Guiada pelo jornalista Marcus Preto, que assina a direção artística e a seleção de repertório de ‘Estratosférica’ (a quatro mãos), Gal volta a trabalhar com Kassin e Moreno Veloso, produtores de ‘Recanto’ (2011), estupendo álbum conceitual arquitetado por Caetano Veloso, que revolveu a carreira da baiana, tirando-a do confortável trono de dama da canção. Mas se ‘Reca...

Seu Jorge faz músicas para churrasco na varanda climatizada

A receita de soul, samba, rock e reggae experimentada há quatros anos por Seu Jorge em ‘Músicas para churrasco, vol. 1’ volta ao cardápio musical do segundo volume da anunciada trilogia. Lançado pela gravadora Universal Music, produzido por Seu Jorge e Mario Caldato Jr., com capa e fotos do superestimado artista plástico Vik Muniz e release de Caetano Veloso, ‘Músicas para churrasco II’ reafirma a ascensão artística e social do cantor e compositor nascido na Baixada Fluminense, atualmente residindo em Los Angeles (EUA). Visando a bisar o sucesso do disco anterior, Seu Jorge se reuniu com seus parceiros mais constantes para novamente retratar situações cotidianas e personagens populares (suburbanos) contemporâneos, como o ‘Motoboy’ (Seu Jorge/ Pretinho da Serrinha/ Rogê/ Gabriel Moura), escolhido para divulgar o CD nas rádios. Turbinado por competentes linhas de baixo e metais, o samba pop feito pelo artista gera faixas altamente dançantes, como ‘Na verdade não tá’ (Seu Jorge/ Rogê/...

Samba do Trabalhador atualiza o gênero sem descaracterizá-lo

Concorrida roda de samba em atividade há uma década, o ‘Samba do Trabalhador’ ganha seu terceiro registro fonográfico. O álbum ‘10 anos & outros sambas’, lançado pelo selo Ritmiza, traz o idealizador e comandante mor Moacyr Luz à frente da turma que dá expediente às segundas-feiras, no Clube Renascença, no bairro carioca do Andaraí. Moacyr (voz/ violão), Daniel Neves (violão 7 cordas), Gabriel Cavalcante (voz/ cavaquinho), Alexandre Nunes (voz/ cavaquinho), Alvaro Santos (voz/ percussão), Mingo Silva (voz/ percussão), Luiz Augusto (percussão), Junior de Oliveira (percussão) e Nilson Visual (percussão) integram a nova formação do grupo em seu primeiro disco de estúdio. Longe do burburinho da festejada reunião semanal, onde desfiam lavra autoral, distante das viciadas programações musicais das rádios, a qualidade da produção musical do ‘Samba do Trabalhador’ salta aos ouvidos. São sambas envolventes, que preservam as qualidades do velho e querido gênero musical, o atualizando, ma...

Primorosos álbuns de Paulinho da Viola mostram do que é feito o samba

Lançada pela Universal Music, a caixa ‘Ruas que sonhei’ traz dez discos gravados por Paulinho da Viola na década de 1970 pelo selo Odeon, da extinta gravadora EMI, além de um CD de raridades, que inclui desde a faixa-título, retirada de um compacto (1969), até duetos com Elton Medeiros (‘Amor proibido’, 1988) e Marisa Monte (‘Carinhoso’, 2003). Por questões de direito autoral, o disco de estreia do cantor e compositor, ‘Paulinho da Viola’, de 1968, que já apresentava joia do quilate de ‘Coisas do mundo, minha nega’, ficou de fora. O bem-vindo projeto, cuja curadoria é assinada pelo jornalista e escritor Vagner Fernandes, preserva a arte gráfica original, incluindo os rótulos dos antigos LPs. Impressiona a alta qualidade da produção artística de um, então, iniciante sambista. Pensando no presente – e no futuro – sem esquecer o passado, Paulinho da Viola atualizou o samba e choro ao introduzir insuspeitadas dissonâncias (jazzísticas?) nestes gêneros genuinamente brasileiros, em cançõ...