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Mostrando postagens de 2015

Meus shows em 2015: 'A mulher do fim do mundo'

Não teve show revisionista, não teve comemoração de cinquenta anos de carreira, muito menos ajudinha de parte da mídia reverente a certos artistas 'intocáveis' que tirasse do show ‘A mulher do fim do mundo’ o título de espetáculo do ano. A impactante ambiência sonora do excelente álbum se expandiu no palco, onde a cantora reinou absoluta. De seu trono, Elza Soares esmiuçou as dores e as mazelas de milhares de Rosinhas e malandros brasileiros, fez ecoar sua voz num manifesto contra o assassinato de jovens e surpreendeu a todos encerrando o show com esperança de um futuro melhor, longe do fim. ‘A mulher do fim do mundo’, disco e show nasceram clássicos. 

Meus shows em 2015: 'Estratosférica'

2015 marcou o cinquentenário artístico de grandes nomes da música popular brasileira. Enquanto Caetano Veloso, Gilberto Gil e Maria Bethânia comemoraram olhando para trás, revivendo sucessos, Gal Costa manteve os pés no presente, gravando ‘Estratosférica’, álbum que trouxe compositores de gerações diferentes, de Milton Nascimento a Lirinha. ‘Estratosférica’ é um bom disco de carreira, como tantos outros lançados pela cantora, mas não alcançou os píncaros. Com suas excessivas programações eletrônicas e equivocadas opções como incluir a gravação de ‘Ilusão à toa’, certamente por pressão da Sony Music, já que a versão entrou na malfadada novela ‘Babilônia’, ou deixar de fora da edição física as belas ‘Átimo de som’ e ‘Vou buscar você pra mim’. Todos esses senões foram suplantados pela cantora no show homônimo. Em altíssimo astral, com a voz tinindo, interpretando magnificamente canções de diferentes épocas, Gal Costa permanece em cartaz neste verão e tem tudo para novamente tomar o Ci...

Meus shows em 2015: 'Ela disse-me assim - Canções de Lupicínio Rodrigues'

Em 2015 Gal Costa festejou seus 70 anos de vida e 50 anos de carreira a todo vapor. Em março, a cantora revigorou o repertório do ourives das canções de dor-de-cotovelo, Lupicínio Rodrigues (1914 – 1974), no  show ‘Ela disse-me assim – Canções de Lupicínio Rodrigues’ . Acompanhada por jovens e talentosos músicos, Gal fez luzir o ótimo e surpreendente roteiro, com versões emocionantes de clássicos como ‘Esses moços’, ‘Volta’ e ‘Se acaso você chegasse’. Aplaudida em cena aberta em números como ‘Quem há de dizer’ e ‘Vingança’, Gal Costa emocionou o público com suas interpretações perfeitas. A maior cantora do Brasil seduziu a todos – e o ano ainda estava começando.

Meus discos em 2015: 'A mulher do fim do mundo'

‘A mulher do fim do mundo’, 34º disco da longeva carreira de Elza Soares, arrebatou corações e mentes. Com sua voz muitas vezes no limite, a mulata desfila seu dramático enredo acompanhada pelo produtor Guilherme Kastrup e por uma turma de excelentes músicos da cena paulista atual. “Me deixem cantar até o fim”, clama Elza na faixa-título do álbum que não tem senões. Todas as faixas são ótimas e impactantes, de ‘Coração do mar’ (Oswald de Andrade/ José Miguel Wisnik) a ‘ Comigo’ (Romulo Fróes/ Alberto Tassinari) . Dura na queda, Elza Soares mais uma vez deu a volta por cima e gravou o grande disco de 2015.

Meus discos em 2015: 'Pedras que rolam, objetos luminosos'

Jussara Silveira voltou seu belo canto para a obra perene de Ronaldo Bastos e Beto Guedes no álbum ‘Pedras que rolam, objetos luminosos’ (Dubas Música/ Universal Music). Produzido por Marcelo Costa e Sacha Amback, o disco cativa desde a primeira audição. Jussara está particularmente luminosa em ‘Tanto’ e ‘Choveu’. ‘Pedras que rolam, objetos luminosos’ é disco para ouvir como antigamente: deixando rolar da primeira à última faixa.

Meus discos em 2015: 'Guelã'

Introspectivo e belo, o terceiro álbum de estúdio de Maria Gadú marcou a mudança de rota na música da artista. Lançado pela gravadora Som Livre através do selo Slap, ‘Guelã’ é intenso, menos pop e muito mais interessante do que os discos anteriores de Gadú. ‘obloco’ (Maria Gadú / Maycon Ananias), ‘Ela’ (Maria Gadú), a regravação de ‘Trovoa’ – a ode à mulher composta por Maurício Pereira, lançada em 2007  –  e ‘Semivoz’ (Maria Gadú/ Maycon Ananias/ James McCollum) são destaques do primeiro disco de Maria Gadú a entrar na minha discoteca. 

Buchecha mantém a imagem de "funkeiro família" no CD 'Funk pop'

Surgida na década de 1990, a dupla Claudinho & Buchecha conquistou o público com seu funk melodioso, de pegada mais pop, romântico e “família”, expresso no primeiro hit, ‘Conquista’ (Buchecha). Este e outros sucessos chamaram a atenção de artistas da MPB, como Adriana Calcanhotto, cuja gravação de ‘Quero te encontrar’ (Cacá Moraes/ Abdullah) entrou na programação musical das rádios do segmento adulto contemporâneo que adoram este tipo de versão. O fato é que o registro de Calcanhotto, feito para o primeiro CD assinado por ela com o heterônimo Adriana Partimpim, ganhou ainda mais repercussão com a prematura morte de Claudinho, em 2002. Desde então, Buchecha não repetiu o êxito da antiga dupla em sua carreira solo. Visando as paradas de sucesso, o álbum ‘Funk pop’, por ora lançado pela gravadora WEA, traz canções do repertório de Claudinho & Buchecha, de Márcio & Goró, do MC Bob Rum e de Stevie B – também oriundos dos anos 1990 –, além de quatro faixas compostas por Giulie...

Meus discos em 2015: 'Do tamanho certo para o meu sorriso'

O disco que marca os 40 anos de carreira de Fafá de Belém não poderia refletir melhor a brasilidade desta sedutora cantora. Lançado pela gravadora Joia Moderna, ‘Do tamanho certo para o meu sorriso’ conectou o repertório de Fafá à produção musical contemporânea do Pará pelas mãos dos músicos Manoel Cordeiro e Felipe Cordeiro. Distante da atitude cool almejada por tantos cantores da MPB, Fafá de Belém mais uma vez se entregou à canção popular medo de ser feliz.

Meus discos em 2015: 'Canção e silêncio'

À primeira audição, ‘Canção e silêncio’ causou certo estranhamento logo dissipado em novas e seguidas incursões neste segundo álbum independente do artista pernambucano Zé Manoel. Num ano cheio de bons lançamentos de uma nova turma que não nega a influência e atualiza a MPB, como Jonas Sá (‘Blam blam’), Alberto Continentino (‘Ao som dos planetas’) e Lira (‘O labirinto e o desmantelo’), o pianista, compositor e cantor nascido em Petrolina se destacou por suas refinadas composições. Além de compor e cantar, Zé Manoel toca um personalíssimo piano e formou com Kassin (baixo) e Tutty Moreno (bateria) o luxuoso trio base de ‘Canção e silêncio’.

Elza Soares vai além do fim do mundo no melhor show do ano

“Mais? Vocês querem mais?”, perguntou Elza Soares, cheia de malícia, já no ‘bis’ que compõe o primoroso roteiro do show ‘A mulher do fim do mundo’, em sua estreia carioca, na noite de terça-feira, dia 01 de dezembro de 2015. Em seu trono suspenso acima de seus excelentes músicos, liderados pelo baterista e produtor Guilherme Kastrup, no impactante cenário de Ana Turra, Elza cantou todas as canções do ótimo álbum homônimo, de ‘Coração do mar’ (Oswald de Andrade/ José Miguel Wisnick) a ‘Comigo’ (Romulo Fróes/ Alberto Tassirani), além de outros três números certeiros. Toda a carga dramática eternizada no disco é realçada no show. A voz que fica por um fio, que não alcança certas notas, ressurge potente, de algum insuspeito recôndito da garganta/ peito malhados a ferro e fogo e dá vida à temática existencialista que norteia tudo. A velha ginga carioca da mulata entorta melodias para, em seguida, consertar o aparentemente errado e colocar a canção em outros trilhos inesperados. A urgência...

'Vanusa Santos Flores' marca a tocante volta da cantora ao disco

Frequentadora das paradas de sucesso dos anos 1970, quando lançou seus discos mais interessantes, Vanusa passou duas décadas longe dos estúdios de gravação. Depois desse jejum fonográfico, a intérprete dos sucessos ‘Manhãs de setembro’ (1973) e ‘Paralelas’ (1977) ressurge com o CD ‘Vanusa Santos Flores’, concebido e produzido por Zeca Baleiro para o seu selo ‘Saravá Discos’. O teor autobiográfico do curto e bem escolhido repertório expõe os sentimentos de uma mulher de 68 anos, que passou por poucas e (outras nem tão) boas e, de certa forma, conecta ‘Vanusa Santos Flores’ ao espetacular ‘A mulher do fim do mundo’, de Elza Soares. As imperfeições do canto, por vezes frágil, de Vanusa não são camufladas, tornando suas interpretações ainda mais significativas. Canções contundentes como ‘Compasso’ (“Pra viver eu transformei meu mundo/ Abro feliz o peito, é meu direito”), de Angela Ro Ro e Ricardo MacCord (2006), ou ‘Abre aspas’ (“O mundo anda em linha reta/ Eu ando em linha torta”), de ...

Sem surpresas, Djavan lança o correto 'Vidas pra contar'

Sucessor de ‘ Rua dos amores ’ (2012), ‘Vidas pra contar’, 23º disco de Djavan, assinala os 40 anos de carreira do artista, contados a partir de sua participação no ‘Festival Abertura’ promovido pela Rede Globo em 1975, com o samba ‘Fato Consumado’. Como no CD anterior, Djavan assina, além das 12 faixas inéditas, a produção e os arranjos do novo álbum, lançado por seu selo, Luanda Records, com distribuição da gravadora Sony Music. Um trabalho aparentemente solitário, que ele divide no estúdio com os músicos Carlos Bala (bateria), Marcelo Mariano (baixos), João Castilho (guitarra e violão), Marcelo Martins (flauta, sax tenor e sax soprano), Jessé Sadoc (trompete e flugelhorn), Paulo Calasans (teclados), cujos nomes estão presentes em muitos discos lançados pelo cantor e compositor alagoano ao longo das últimas quatro décadas. As reconhecidas melodias elaboradas, as divisões rítmicas sutis e o jeito característico de dispor das palavras estão lá, impressos a partir da primeira fai...

'Delírio', de Roberta Sá, promete e não cumpre

Ao largo das ousadias musicais de veteranas como Gal Costa e Elza Soares, Roberta Sá está de volta ao samba em ‘Delírio’ (MP,B Discos/ Som Livre), quinto álbum da discografia inaugurada oficialmente com ‘Braseiro’, em 2005, ainda hoje o seu melhor disco. ‘Braseiro’ tinha uma leveza descompromissada que Roberta foi perdendo gradativamente ao longo da carreira. A bela potiguar foi gostando de brincar de diva da canção, posto que, naturalmente, não se ocupa apenas por vontade própria. É esta cantora dada a interpretações pretensiosas que se ouve em ‘Delírio’. Produzido com apuro por Rodrigo Campello que a acompanha desde o primeiro lançamento, o novo trabalho não alça voo. Roberta canta as dez canções do mesmo jeito cálido e afetado que (muito) pouco se assemelha ao ambiente envolvente e (quase sempre) buliçoso do samba. Seja na composição de Adriana Calcanhotto, ‘Me erra’ (2015), ou numa admirável parceria de Baden Powell (1937 – 2000) e Paulo César Pinheiro, ‘Última forma’, lançada p...

Show 'Estratosférica' traz Gal Costa em estado de graça

Gal Costa cantou (muito bem), dançou e até ensaiou uma das suas famosas corridinhas, comuns nos anos 1980, no palco do Vivo Rio, na estreia carioca do show ‘Estratosférica’, na noite de sábado, 10 de outubro de 2015. Irradiando felicidade e segurança, a cantora comemora seus 50 anos de carreira nos braços de uma nova legião de fãs, que se aproximou a partir do disco/show ‘Recanto’. Os 70 anos lembrados por ela em ‘Meu nome é Gal’, primeiro número do bis, parecem não pesar. Sem concessões ao seu passado de excelente intérprete de mestres como Ary Barroso, Dorival Caymmi e Tom Jobim, ou mesmo de alguns medalhões da MPB também associados à sua discografia, como Chico Buarque e Djavan, a baiana priorizou seu lado mais roqueiro no roteiro que inclui a inédita ‘Pelo fio’ (Marcelo Camelo), ‘Cartão postal’ (Rita Lee/ Paulo Coelho) e ‘Os alquimistas estão chegando’ (Jorge Ben Jor), entre outras surpresas. Os arranjos executados pela competente banda formada por Thomas Harres (bateria), Maurí...

Elza Soares volta a ser impactante como 'A mulher do fim do mundo'

Elza Soares traz à luz seus recantos escuros, impregnados de sangue e suor, prazeres e lágrimas no urgente ‘A mulher do fim do mundo’ (Circus/ Natura Musical ), seu 34º disco, o primeiro inteiramente de inéditas em mais de seis décadas de carreira. Conduzida pelo músico e produtor carioca residente em São Paulo, Guilherme Kastrup, a mulata desfila seu enredo entre estranhezas sonoras de uma das turmas da fervilhante cena musical paulistana contemporânea. O resultado é impactante. Linhas de baixo (Marcelo Cabral) bem marcadas, guitarras rascantes (Kiko Dinucci e Rodrigo Campos), percussão (Felipe Roseno) e bateria (Kastrup) sem enfeites formam a áspera base das faixas, algumas delas adensadas por dramáticos naipes de cordas e de metais. No entanto, é a voz solitária da mulher do fim do mundo que se ouve em ‘Coração do mar’, que traz versos de Oswald Andrade musicados por José Miguel Wisnik. Um navio “humano, quente, negreiro do mangue” que aporta na canção-título, composta por Romulo ...

Joias de Beto Guedes e Ronaldo Bastos reluzem na voz de Jussara Silveira

Jussara Silveira reuniu dez composições assinadas por Beto Guedes e Ronaldo Bastos em ‘Pedras que rolam, objetos luminosos’, disco lançado pelo selo Dubas Música, via gravadora Universal Music. Produzido por Marcelo Costa (bateria e percussão) e Sacha Amback (piano, teclados e programação), ‘Pedras que rolam, objetos luminosos’ reafirma a perenidade e a contemporaneidade dos temas escritos sob a ótica agregadora, existencialista e libertária do lendário Clube da Esquina, do qual Guedes e Bastos foram sócio-fundadores. Uma de nossas cantoras mais interessantes, cuja voz toca o timbre de um jovem Beto Guedes em alguns momentos, Jussara espana qualquer possível poeira acumulada na longa estrada do tempo que separa as canções lançadas pelo artista mineiro nos discos ‘A página do relâmpago elétrico’ (1977), ‘Amor de índio’ (1978), ‘Sol de primavera’ (1979), ‘Contos da lua vaga’ (1981) e ‘Viagem das mãos’ (1984). Os belos arranjos de Sacha Amback atualiza...

Musa de qualquer geração, Gal chega aos 70

Nascida no dia 26 de setembro de 1945, no bairro da Graça, na cidade de Salvador, no estado da Bahia, Maria da Graça Costa Pena Burgos surgiu na cena musical soteropolitana na década de 1960. Ainda era Gracinha quando conheceu o futuro parceiro artístico, Caetano Veloso, e o ídolo João Gilberto que, embevecidos pelo frescor e afinação de seu canto moderno, afirmaram que ela era a maior cantora do Brasil. Em 1967, já com o nome artístico de Gal Costa lançou seu primeiro long play , dividido com Caetano. ‘Domingo’ rendeu à dupla o primeiro clássico, ‘Coração vagabundo’. Pouco depois a suavidade bossanovista deu lugar ao canto gutural e roqueiro. Era preciso estar atento e forte. Musa do movimento Tropicalista, Gal viu seus companheiros, Gilberto Gil e Caetano Veloso, partirem para o exílio londrino. Em plena ditadura militar, ela lotava o Teatro Tereza Rachel durante as históricas apresentações do show ‘Fa-Tal, Gal a todo vapor’. “Quero ver de novo a luz do sol!”, cantava naqueles te...

Tributo 'Gonzaguinha presente' peca pela ausência de emoção

Luiz Gonzaga Jr. (1945 – 1991) faria 70 anos no dia 22 de setembro de 2015. Para lembrar a data a Universal Music lança ‘Gonzaguinha presente – Duetos’, disco em que a voz do cantor e compositor carioca foi retirada das gravações originais e colocada em novos registros, com novos arranjos e com as participações especiais de artistas vinculados a vários de gêneros musicais. O projeto dirigido por Miguel Plopschi passa ao largo das canções de protesto, como ‘Comportamento geral’ e ‘Um sorriso nos lábios’, que caracterizaram o começo da carreira de Gonzaguinha.   O repertório segue a trilha dos sucessos românticos e dos sambas mais ensolarados. ‘Não dá mais pra segurar (Explode coração)’ ressurge na voz surpreendentemente contida de Ana Carolina. Quem também deixa de lado os exageros interpretativos – e a gaiatice – é Ivete Sangalo, que se sai bem em ‘Sangrando’, música-tentação para cantoras chegadas ao exibicionismo vocal e ao drama. Única faixa que mantém o arranjo original, ‘Gr...

Dona Ivone Lara tem sua bela trajetória contada em bom livro

Parte integrante do ‘Sambabook’ dedicado à artista, o livro ‘ Dona Ivone Lara - A Primeira-dama do samba’, escrito pelo jornalista Lucas Nóbile, segue na cadência bonita das composições da grande sambista carioca. Lucas esmiúça a criação de cada um dos doze discos lançados por Dona Ivone, ao longo de 41 anos de carreira, contados a partir da gravação de ‘Tiê’ no disco coletivo ‘Quem samba, fica? Fica’, em 1974. Foi a partir da gravação do LP produzido por Oswaldo Sargentelli, que Yvonne Lara da Costa, aos 48 anos de idade, viu seu nome ser encurtado e precedido (contra a sua vontade) pelo substantivo de cunho senhorial. O livro também refaz sua trajetória de vida, que começou no dia 13 de abril de 1922, e não um ano antes, como consta na maioria das publicações sobre a artista, inclusive em seu site oficial. O acréscimo de um ano, feito por sua mãe, possibilitou-lhe o ingresso no colégio interno. Foi no Colégio Municipal Orsina da Fonseca, no bairro da Tijuca, que a jovem estudou ...

'Como a música ficou grátis' desvenda o início da pirataria digital

Lançado no primeiro semestre deste ano, o livro ‘Como a música ficou grátis – O fim de uma indústria, a virada do século e o paciente zero da pirataria’ (Editora Intrínseca), do jornalista norte-americano Stephen Witt, compila histórias e personagens fundamentais na revolução causada pela internet na indústria fonográfica e nos modos de consumo de música no mundo. Em relato contundente, Witt faz conexões entre engenheiros de áudio alemães, responsáveis pela criação do MP3, funcionários de gravadoras de diferentes setores – de alto-executivos a operários, igualmente inconsequentes em suas ambições. Uma das histórias mais impressionantes é de Dell Glover, o tal “paciente zero da pirataria” do subtítulo, empregado da fábrica da gravadora PolyGram (atual Universal Music), em Kings Mountain, na Carolina do Norte. Empacotador de CDs, Glover teve em suas mãos os principais lançamentos musicais daquela empresa e foi o responsável pelo vazamento de dois mil títulos na internet, ao longo de...

Cida Moreira brilha no afetivo e agridoce álbum 'Soledade'

“Havia manhãs, havia quintais naquele tempo”, recorda Cida Moreira aos primeiros acordes de ‘Viola quebrada (Maroca)’, modinha que abre ‘Soledade’, décimo disco de carreira da cantora, pianista e atriz paulista, lançado pela gravadora Joia Moderna. Impregnado de agridoce melancolia, o repertório, escolhido por Cida e pelo jornalista Eduardo Magossi, de início ecoa o passado rural já distante desta terra cabocla, tão bem retratado por Maria Bethânia no emocionante e fundamental disco/show ‘Brasileirinho’ (2003). Não por acaso, a modinha assinada pelo poeta Mário de Andrade (1893 – 1945), em 1928, lembra ‘Sussuarana’ (Hekel Tavares/ Luiz Peixoto), outro pequeno brilhante da mesma época, que voltou a luzir no referido disco/show. ‘Soledade’ é roteiro afetivo desta artista ligada à vanguarda paulistana, que compreende desde a música de viola ouvida na infância à produção assinada por jovens nomes da cena atual. Seu canto, (já) curtido e (sempre) carregado de intensões, recria com pr...

Extrema reverência marca o Sambabook Dona Ivone Lara

Grande nome do samba, Dona Ivone Lara ganha tributo na quarta edição da série Sambabook, do selo Musickeria, distribuída pela gravadora Universal Music. Entre os arranjos demasiadamente reverentes de Alceu Maia e intérpretes nem sempre bem escolhidos, os registros musicais apresentados em CDs e DVD soam apenas corretos, com poucos destaques e nenhum momento verdadeiramente brilhante. A aparente assepsia (apatia?) prejudica principalmente o DVD, gravado na Cidade da Música, na Barra da Tijuca, Rio de Janeiro, sem a presença do público – e sem inventividade – por Joana Mazzucchelli. Usando sempre os mesmos enquadramentos de palco, onde os músicos estão perfilados de um lado e de outro, com o cantor no centro, o registro audiovisual carece de charme para prender o espectador em frente à tela. O cenário nem um pouco criativo contribui para a perda de interesse durante a apresentação Entre os convidados, Maria Bethânia inicia os trabalhos com ‘Sonho meu’ (Dona Ivone Lara/ Délcio Carva...

Sem ais nem uis, o belo 'Paralelos & Infinitos' celebra o amor pleno e feliz

“Músculo absurdo, que compreende o gozo e a atração”, o coração pulsa amorosamente em ‘Paralelos & Infinitos’, segundo álbum de César Lacerda, lançado pela gravadora Joia Moderna. O cantor, compositor e multi-instrumentista mineiro, que toca a maioria dos instrumentos nas oito faixas do disco, aposta na plenitude do relacionamento amoroso – no caso, o seu namoro com a atriz Victoria Vasconcelos. A musa de Lacerda estampa a capa de ‘Paralelos & Infinitos’ e participa da faixa ‘Guarajuba’ (César Lacerda). Iluminados e felizes (mas não esfuziantes), seus versos são embalados por melodias de acento pop e harmonias quase etéreas, que revestem ‘Paralelos & Infinitos’ de jovial elegância. Nada dos corriqueiros ciúmes, queixas e ais que assolam a maioria das ditas canções de amor. O clima de romance contagia o ouvinte logo em ‘Algo a dois’ (César Lacerda), música acertadamente escolhida para divulgar ‘Paralelos & Infinitos’, e se intensifica na bela ‘Touro indomável’ (César ...

Nem a sucessão de hits salva 'Viva Tim Maia!' da apatia

Produto final da turnê nacional promovida por uma empresa de cosméticos, que uniu a cantora baiana Ivete Sangalo e o rapper paulistano Criolo em torno do repertório do cantor e compositor carioca Tim Maia (1942 – 1998), o CD ‘Viva Tim Maia!’ chega às lojas via Universal Music. Produzido por Daniel Ganjaman, com direção artística do eclético Paul Ralphes, o álbum traz doze canções do repertório do show. Gravadas em estúdio, são quatro solos de cada um mais quatro duetos. Arranjos reverentes e, quase sempre pálidos, corroboram para a falta de personalidade do álbum e ainda ressaltam a falta de brilho dos intérpretes. Sem a galera que ainda tira o pé do chão ao seu comando, Ivete Sangalo novamente bate ponto sem deixar transparecer a menor vontade de ir além. Suas interpretações desprovidas de alma, distantes do sotaque soul pessoal e intransferível do homenageado, não acrescentam nada aos hits ‘Não quero dinheiro (só quero amar)’ (Tim Maia) e ‘Réu confesso’ (Tim Maia). Ivete conse...

Fafá de Belém celebra 40 anos de carreira com disco popular

Estrela radiante da canção popular brasileira, a paraense Maria de Fátima Palha de Figueiredo sempre transitou por diversos gêneros que constituem a riqueza e singularidade da nossa música. Desde o primeiro e belo álbum ‘Tamba-tajá’ (1976), Fafá de Belém foi ampliando seu território, chegando a atravessar o Atlântico para aportar, com sucesso, em terras lusitanas. Indiferente aos limitadores rótulos que sempre quiseram lhe impor, Fafá chega aos 40 anos de carreira, contados a partir da gravação de ‘Filho da Bahia’ (Walter Queiroz) para a trilha sonora da novela ‘Gabriela’ (1975), lançando ‘Do tamanho certo para o meu sorriso’. Arquitetado pela cantora e pelo DJ Zé Pedro para sua gravadora Joia Moderna, o álbum de dez faixas foi produzido pelos paraenses Manoel Cordeiro e Felipe Cordeiro. Conectado à produção musical contemporânea do Pará, ‘Do tamanho certo para o seu sorriso’ abusa das programações eletrônicas, baixo sintetizado, teclados e guitarras pilotadas pelos competentes músi...

'Viamundo' é novo registro da criatividade e da técnica de Thiago Delegado

Lançado de forma independente, ‘Viamundo’ é o terceiro disco do violonista, compositor e arranjador mineiro Thiago Delegado. Transitando entre variantes do samba na maioria das faixas, o álbum predominantemente instrumental – e autoral – apresenta belos temas, como ‘ Cansei de ser enganado’, ‘Viamundo’ e ‘Sarau pro Sr. Mozart’ – este, um agradável chorinho, que homenageia o tradicional violonista e chorão mineiro Mozart Secundino. O acriano João Donato está presente na elegante ‘A camisa do Donato’. Com seu virtuoso dedilhado no violão de 7 cordas, Thiago também presta tributo ao famoso clube musical fundado nas ruas de Belo Horizonte na década de 1970 em ‘Clube do pagode da esquina’ (Thiago Delegado/ Aloizio Horta). Quatro canções recebem as vozes de artistas convidados. O buliçoso ‘Malandrote’ (Thiago Delegado/ Edu Krieger) traz Aline Calixto, cantora mineira que Delegado dirige há cinco anos, em bom momento. Outro conterrâneo, Fernando Bento canta com correção o samba ex...

Duas ótimas faixas que ficaram de fora de 'Estratosférica' são postas à venda

Lançadas oficialmente hoje pela gravadora Sony Music, apenas no formato digital, na chamada edição “deluxe” de ‘ Estratosférica ’, ‘Vou buscar você pra mim’ (Guilherme Arantes) e ‘Átimo de som’ (Arnaldo Antunes/ José Miguel Wisnik), as duas inéditas que ficaram de fora do recente disco de Gal Costa, já rodam entre os fãs há dias. Primeira composição de Guilherme gravada por Gal, a bossa nova ‘Vou buscar você pra mim’ é, ao lado de ‘Quando você olha pra ela’, a mais palatável das faixas. O autor de ‘Coisas do Brasil’ ratifica sua via pop-mpbística na canção que renderia melhor com um arranjo mais clássico. Já a etérea e conceitual ‘Átimo de som’ se revela uma belíssima canção, ao falar do sentimento que o som pode causar, feita na medida para a voz de Gal e encerraria ‘Estratosférica’ com precisão. Depois de ouvi-las e aprecia-las, vem a inevitável pergunta: Por que as duas ficaram de fora se são melhores do que muitas faixas irregulares, que diluem a beleza de ‘Estratosférica’?

Longe da música para as massas, Maria Gadú soa interessante em 'Guelã'

Terceiro álbum de estúdio de Maria Gadú, ‘Guelã’ (Slap/ Som Livre) vem provocando frisson entre os apreciadores das estranhezas sonoras, presentes em muitos lançamentos musicais contemporâneos. Produzido pela artista e pelo músico Federico Puppi, o novo CD da cantora e compositora paulistana aposta numa ambiência diferente, intensa, menos pop e muito mais interessante do que as dos seus discos anteriores. Minimalista e “orgânico” – para usar um termo da moda –, ‘Guelã’ foi gravado com uma banda base formada por Lancaster Pinto (baixo), Federico Puppi (cello e baixo), Tomaz Lenz (bateria) e Doga (percussão), além da própria Maria Gadú (violão/ guitarra/ teclado). Como um diário de bordo, o disco registra uma viagem personalíssima que, em alguns momentos, parece fazer sentido apenas para sua narradora, graças a versos, muitas vezes, enigmáticos – o que, neste caso, não tem nada de estranho, afinal estamos falando da mesma autora das incompreensíveis ‘Shimbalaiê’ e ‘Linda rosa’. Co...

A mineira Valsa Binária lança o disco '10'

Segundo disco da banda mineira Valsa Binária, ‘10’ apresenta dez faixas inéditas. A sonoridade, que se alterna entre o pop e o rock, embala as questões existencialistas, que pautam a maioria das composições coletivas. Há espaço para a crítica e bem-humorada ‘Receita’, o tema infantil ‘Nuno nu’ e a boa cantada, ‘Desinventar’. As melhores faixas são a melancólica ‘Melhor que sou’, a urgente (e mais interessante melodicamente) ‘A esquina’ e a trágica (e bem sacada) ‘O palhaço’. O disco pode ser baixado gratuitamente no site  ( valsabinaria.com.br )   do quarteto  formado por Leo Moraes (voz e guitarra), Danilo Derick (voz, guitarra, pianos e sintetizadores), Salomão Terra (baixo) e Rodrigo Valente (bateria).

Entre standars e inéditas, Quarteto Bruno Lara lança fluente DVD

Bruno Lara (guitarra), Renato Catharino (teclado), Alexandre Adão (contrabaixo) e Maurício Antunes (bateria) formam o competente Quarteto Bruno Lara, que lança o DVD ‘Blue lounge’ (Independente/ Fuga). Gravado ao vivo em estúdio, o correto registro audiovisual assinado por Nelson Faria (filho) tem arranjos e direção musical de Nelson Faria. O bom repertório mescla os standards ‘Stella by Starlight’ (Victor Young/ Ned Washington), ‘Insensatez’ (Tom Jobim/ Vinicius de Moraes) e ‘All blues’ (Miles Davis) e as composições originais do guitarrista, ‘Samba azul’ (Bruno Lara), ‘July’ (Bruno Lara), ‘Azul turquesa’ (Bruno Lara/ Antônio Portugal), ‘Zabot XYZ’ (Bruno Lara) e ‘A guitarra de Ogum’ (Bruno Lara), um acalorado frevo.   Os sopros de Marcelo Martins (sax tenor, flautas), Sérgio Galvão (clarinete, sax soprano), Jessé Sadoc (trompete, flugelhorn) e Aldivas Ayres (trombone) contribuem para a fluência da agradável apresentação.

Inspirado, Jau leva seu som para além da Axé music

  Um dos mais interessantes artistas da cena musical soteropolitana, Jau lança seu novo álbum, ‘Lázaro’ via gravadora Friends Music. Produzido pela cantora e compositora Vânia Abreu e por Rodrigo Petreca, ‘Lázaro’ mistura a crueza do violão tocado por Jau, com grooves e alguma programação eletrônica. O resultado é uma sonoridade envolvente, que celebra o jeito baiano de ser, em ‘Mancha de dendê’ (Jau/ Marcelo Quintanilha) e questiona preconceitos, em ‘Planetário descendente’ (Jau/ Tenison Del Rey) e ‘Carne crua’ (Jau/ Tenison Del Rey/ Gerson Guimarães). Celebrando a existência em versos como “Tudo em seu tempo e do seu jeito/ Nada pra fazer, sorri”, do reggae ‘Tranquilidade na cabeça’ (Jau/ Dom Chicla), Jau é inspirado compositor que leva sua música para além da Axé music , que o consagrou.

Sons impressionistas embalam a poesia de Lira, em 'O labirinto e o desmantelo'

  Segundo disco solo de José Paes Lira, o Lirinha do extinto Cordel do Fogo Encantado, ‘O labirinto e o desmantelo’ mistura poesia armorial, literatura de cordel, guitarras, sintetizadores, órgãos e cravos para criar cenários psicodélicos e sons impressionistas. O romantismo de sotaque regional do artista pernambucano encontra a universalidade (quase) pop na produção musical do baterista Pupillo, coautor de seis das onze faixas do álbum, que chega à edição física via Eletrônica Viva. Distante (mas nem tanto) das viscerais interpretações dos tempos do Cordel, Lira segue pautando sua música na palavra quase declamada. Certa ambiência kitsch transpassa algumas faixas de ‘O labirinto e o desmantelo’, caso de ‘Filtre-me’ (Céu/ Lira/ Pupillo), que tem a participação especial da cantora e compositora paulista Céu. Bolero tecnopop, ‘Filtre-me’ parece ter saído de uma antiga jukebox de um poeirento bar de beira de estrada – sonoridade que parece ser perseguida por muitos artistas novato...

Zé Manoel se mostra hábil timoneiro em 'Canção e silêncio'

Com suas faixas banhadas por águas doces e salgadas, de chuvas, rios, mares e lágrimas, o segundo disco do artista pernambucano Zé Manoel impressiona. Viabilizado pelo projeto Natura Musical, produzido por Carlos Eduardo Miranda e por Kassin, ‘Canção e silêncio’ apresenta músicas aparentemente antiquadas para os nossos ruidosos dias – “A maior ambição da canção é ser silêncio”, dizem os versos de ‘A maior ambição’ (Zé Manoel/ Juliano Holanda). São composições cheias de melancolia interiorana, embora não reneguem o lado urbano, como se unissem Petrolina e Recife, as cidades de Zé Manoel. Versos geralmente curtos e intensos, revestidos por melodias marcantes, são o passaporte para uma viagem atemporal por paisagens muitas vezes cinematográficas. Caso da épica ‘Sereno mar’, cujo arranjo de Letieres Leite, maestro da Orkestra Rumpillez, realça as influências do mestre baiano, Dorival Caymmi (1914 – 2008). Águas que levam o pescador, mas que depositam na areia líricos “cachos de estrelas...

Mônica Salmaso faz música grandiosa no show 'Corpo de baile'

Presença bissexta nos palcos da cidade, Mônica Salmaso encantou o público que lotou o Teatro Tom Jobim, no Jardim Botânico, Rio de Janeiro, para assistir à estreia carioca do show ‘Corpo de baile’ na noite de sábado, 27 de junho de 2015. Para interpretar as 14 canções de Guinga e Paulo César Pinheiro, que constituem o belíssimo CD homônimo lançado em 2014, via gravadora Biscoito Fino, a cantora paulistana se cercou dos ótimos músicos que participaram da gravação do álbum: Teco Cardoso (sopros e direção musical), Nailor Proveta (clarineta e saxofones), Paulo Aragão (violão), Nelson Ayres (piano e acordeom), Neymar Dias (contrabaixo e viola caipira) e Quarteto Carlos Gomes, formado por Cláudio Cruz (violino), Adonhiran Reis (violino), Gabriel Marin (viola) e Alceu Reis (cello). O cineasta Walter Carvalho, que dirigiu o DVD ‘Alma lírica’ (2012), assina o vídeo-cenário, cujas bonitas projeções quase sempre se mostram bem integradas ao roteiro, que apresenta canções de forte ...