Gênero musical que embalou a folia nas décadas de 1920 a
1960, a marchinha foi aos poucos sobrepujada por outras novidades, como o samba
de enredo. Contudo, as clássicas composições feitas para o reinado de Momo
continuaram na boca do povo até os dias atuais, o que suscitou a produção de
novas marchinhas, sem que nenhuma tenha virado sucesso nacional. Da Bahia, terra da axé music, vêm Os
Marchistas, cujo álbum homônimo marca a estreia do selo musical Friends Music.
O trio formado por Marcelo Quintanilha (voz/ violão), Tenison Del Rey (voz) e
Thathi (voz/ guitarra baiana) aposta na marchinha para embalar o Carnaval de
2015. O inédito repertório tenta atualizar o velho gênero carnavalesco com
letras atuais e a mistura de sonoridades. A faixa que abre o disco, ‘Os Marchistas’
(Tenison Del Rey/ Thathi/ Marcelo Quintanilha/ Gerson Guimarães), aposta na
folia politicamente (quase) correta. “E quando não dá mais para segurar/
Chamamos taxistas pra voltar”, dizem os foliões após tomarem todas. ‘É massa’
(Tenison Del Rey/ Thathi/ Marcelo Quintanilha) brinca com a expressão popular
baiana e os tipos de macarrão, que também é citado em ‘Feijoada’ (Tenison Del
Rey/ Marcela Bellas/ Edu Casanova), marcha menos inspirada. As redes sociais
são mote de ‘Me cutuca’ (Gerson Guimarães/ Marcelo Quintanilha/ Thathi/ Tenison
Del Rey), enquanto ‘Carnaval de rua’ é marcha-rancho de tons nostálgicos e
letra contemporânea: “Deixa de frescura e desce desse salto, vem se misturar na
multidão”, convida o cantor Jau, que participa da faixa. ‘Ele é mulher no
carnaval’ (Tenison Del Rey/ Marcela Bellas/ Edu Casanovas) e ‘De marcha à ré’
(Gerson Guimarães/ Marcelo Quintanilha/ Thathi/ Tenison Del Rey) abordam dois
ícones do carnaval brasileiro: o homem travestido de mulher e o circuito de
blocos de Salvador. O resultado final é satisfatório, embora, em tempos de
‘Lepo lepo’, não afaste da marchinha certo anacronismo.
A Universal Music reabre seu baú de preciosidades. Desta vez, a dona do maior acervo musical do país, traz duas joias do cantor, compositor e violonista Gilberto Passos Gil Moreira, recentemente eleito imortal pela Academia Brasileira de Letras. De 1971, o disco londrino, ‘Gilberto Gil’, reaparece em nova edição em vinil, enquanto ‘Refestança’, registro do histórico encontro de Gil e Rita Lee, de 1977, finalmente ganha versão digital. Gravado durante o exílio do artista baiano em Londres, o quarto LP de estúdio de Gilberto Gil foi produzido por Ralph Mace para o selo Famous e editado no Brasil pela Philips, atual Universal Music. O produtor inglês também trabalhava com Caetano Veloso, que havia lançado seu primeiro disco de exílio no mesmo ano. Contrastando com a melancolia expressada por Caetano, Gil fez um álbum mais equilibrado, dosando as saudades do Brasil...
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