Com
o famoso brilho agudo musical, citado na música que significativamente abre a
noite, ‘Caras e Bocas’ (Caetano Veloso/ Maria Bethânia), e os precisos graves
adquiridos com o tempo, a cantora, que completa 70 anos em 2015, faz a alegria
de antigos e novos fãs. Caetano Veloso permanece sendo o compositor
preponderante, e novamente a musa faz jus ao seu poeta. As intensas interpretações
de ‘Vaca profana’ e ‘Negro amor’, e os graciosos improvisos em ‘Tigresa’ e
‘Você não entende nada’, já valeriam o ingresso. Contudo, a plenitude artística
de Gal faz cintilar joias de outros compositores, como o centenário Lupicínio
Rodrigues, de quem apropriadamente relembra ‘Volta’ e ‘Um favor’, ou Jorge Ben
Jor, que tem seu guerreiro ‘Tuareg’ revivido com vigor. A dupla Roberto e
Erasmo Carlos também está presente, e a baiana emociona ao recriar ‘Sua
estupidez’ e ‘Meu nome é Gal’, sua canção-assinatura.
Além
da faixa-título, ‘Negro amor’, ‘Tigresa’ e ‘Um favor’, outra canção do disco
‘Caras e Bocas’ (1977) é revista divinamente – ‘Solitude’, versão de Augusto de
Campos para o clássico do jazz norte-americano, de Duke Ellington, Eddie DeLange e Irving Mills. A
interação entre Gal e Guilherme mantém a contemporaneidade sonora ouvida em
‘Recanto’ e injeta novidade até mesmo nas recorrentes ‘Dom de iludir’, ‘Meu
bem, meu mal’ e ‘Folhetim’. Encerrando a noite, ‘Força estranha’ é autorretrato
de uma cantora singular que, há quase cinco décadas, embevece a todos com sua
voz tamanha. Que venha o novo disco!
Comentários