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Sambabook Zeca Pagodinho é o melhor título da série

Terceiro título da série idealizada e produzida pela Musickeria, distribuído pela Universal Music, o ‘Sambabook Zeca Pagodinho’ reúne composições pouco conhecidas e sucessos do sambista carioca nas vozes de artistas de diferentes latitudes. Editado simultaneamente em dois CDs, DVD e Blu-ray, o ‘Sambabook Zeca Pagodinho’ apresenta a melhor solução para o registro audiovisual entre os três volumes da série, ao colocar os convidados cantando à vera, numa grande sala de ensaio, na Cidade da Música, Barra da Tijuca (RJ). A efetiva e engraçada participação de Zeca, que conta causos sobre uma música e outra, também contribui para o bom resultado final. A direção musical desta vez ficou a cargo de Paulão 7 Cordas.
Gilberto Gil não vai além da reverência em ‘Não sou mais disso’ (Jorge Aragão/ Zeca Pagodinho, 1996), enquanto um descontraído Djavan se sai bem melhor em ‘Judia de mim’ (Wilson Moreira/ Zeca Pagodinho, 1986). Roberta Sá canta com correção ‘Mutirão de amor’ (Sombrinha/ Jorge Aragão/ Zeca Pagodinho) sem, contudo se aproximar da vigorosa gravação original feita por Alcione, no disco ‘Almas & Corações’ (1983). Com voz e interpretação impecáveis, a Marrom arrasa em ‘Ter compaixão’ (Arlindo Cruz/ Marquinho China/ Zeca Pagodinho), belo samba lançado por Zeca no álbum ‘Boêmio feliz’ (1989). Já Beth Carvalho não brilha em ‘Lama nas ruas’ (Almir Guineto/ Zeca Pagodinho, 1986). Reconhecida por seus acertos na escolha de repertório, a ‘madrinha’ poderia ter optado por um samba mais festivo, que não exigisse tanto de seus graves. Fora de forma, Almir Guineto se esforça na sua parceria com Pagodinho e Carlos Senna, ‘Em nome da alegria’, lançada por Zeca no disco ‘Pixote’, de 1991.
Novo nome do samba e do pagode, Mumuzinho está à vontade em ‘Vou botar teu nome na macumba’ (Zeca/ Dudu Nobre, 1995), mas poderia ser melhor se deixasse as firulas de lado, se concentrando mais no canto. Dudu Nobre também exagera na simulação da malandragem em ‘SPC’ (Arlindo Cruz/ Zeca Pagodinho, 1986). Nesta roda de bambas se destacam Arlindo Cruz e Sombrinha, em ‘Se eu for falar de tristeza’ (Beto Gago/ Zeca Pagodinho, 1986) e ‘Menor abandonado’ (Mauro Diniz/ Pedrinho da Flor/ Zeca Pagodinho, 1987). Experientes, Martinho da Vila e Jorge Aragão reafirmam a intimidade com o samba, em ‘Faixa amarela’ (Jessé Pai/ Luiz Carlos/ Beto Gago/ Zeca Pagodinho, 1997) e ‘Termina aqui’ (Arlindo Cruz, Ratinho/ Zeca Pagodinho, 1987). Uma das vozes mais celebradas do pagode, Péricles dá conta do recado em ‘Talarico, ladrão de mulher’ (Zeca/ Serginho Procópio, 1992).
Com seus conhecidos maneirismos, Lenine encara a clássica ‘Dor de amor’ (Zeca Pagodinho/ Alcyr Marques/ Arlindo Cruz, 1986) satisfatoriamente, ao passo que Jorge Ben Jor causa estranheza, com sua peculiar interpretação de ‘Depois do temporal’ (Beto Sem Braço/ Zeca Pagodinho, 1983). Longe das guitarras, Frejat parece meio deslocado em ‘Brincadeira tem hora’ (Beto Sem Braço/ Zeca Pagodinho, 1986). Em casa, a rapper Marcelo D2 exercita sua verve de sambista em ‘Quem é ela’ (Zeca Pagodinho/ Dudu Nobre, 2005), enquanto seu colega paulista, Emicida, brinca com as rimas de ‘Bagaço da laranja’ (Arlindo Cruz, Zeca Pagodinho, Jovelina Pérola Negra, 1985).
Samba que parece seduzir grandes cantoras, como Gal Costa e Elba Ramalho, ‘Alto lá’ (Zeca/ Arlindo Cruz/ Sombrinha, 2000) ressurge com Maria Rita, que dribla a inerente solenidade do seu canto com uma interpretação descontraída – na medida do possível. Sempre elegante, Nilze Carvalho faz bonito em ‘Já mandei botar dendê’ (Zeca/ Maurição/ Arlindo Cruz, 1995). Com a letra de ‘Lua de Ogum’ (Zeca Pagodinho/ Ratinho, 1991) na ponta da língua, Mariene de Castro baixa o tom e domina a cena. Com o auxílio do bandolinista Hamilton de Holanda, Diogo Nogueira está correto em ‘Lente de contato’ (Zeca Pagodinho/ Jorge Senna/ Wanderson, 1990). Convidado pelo próprio Zeca durante as gravações, Gabrielzinho do Irajá emociona em ‘São José de Madureira’ (Zeca Pagodinho/ Beto Sem Braço, 1984). Baluartes da azul e branco de Oswaldo Cruz, Monarco e a Velha Guarda da Portela destilam a poesia característica em ‘Falsa alegria’ (Alcino/ Zeca Pagodinho/ Monarco, 1992). O homenageado surge cantando a seminal ‘Camarão que dorme a onda leva’ (Zeca Pagodinho, Arlindo Cruz/ Beto Sem Braço, 1983), num clip que reúne takes de todos os convidados. Como não é possível reunir todos os artistas num só dia, esse número coletivo ainda não encontrou sua melhor forma. A diversidade de intérpretes representa bem o livre trânsito de Pagodinho entre tribos musicais que compõem a música popular brasileira. Entre acertos e números menos expressivos, o ‘Sambabook Zeca Pagodinho’ é o melhor título da série.

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