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Mostrando postagens de agosto, 2014

Dorina e Época de Outro relembram a centenária Aracy de Almeida

Por pouco o centenário de Aracy de Almeida (1914 – 1988) não passou batido em sua cidade natal, o Rio de Janeiro. A preferida de Noel Rosa, que chegou a ser chamada de “o samba em pessoa”, ficou conhecida por gerações mais recentes com a jurada ranzinza de um programa de calouros. Seu requintado repertório continua ignorado por muitos, graças ao descaso da indústria fonográfica. Contudo, na noite de 26 de agosto de 2014, outra carioca da gema subiu ao tradicional palco do Teatro Rival Petrobrás para prestar tributo à Dama do Encantado. Acompanhada pelo Conjunto Época de Ouro, a sambista Dorina encarou com valentia o perspicaz roteiro assinado pelo diretor musical, Marcos Fernando. “Estou aqui no tablado/ Feito de ouro e prata”. Os versos de ‘A voz do morto’ (Caetano Veloso) foram a senha para uma noite especial. Entre música da melhor qualidade, trechos que uma entrevista de Aracy deixavam transparecer a autenticidade da artista. Coisa impensável no contexto atual, onde tudo é cal...

Diogo e Hamilton apresentam sua bossa negra em show azeitado

Diogo Nogueira e Hamilton de Holanda apresentaram show baseado no recém-lançado álbum ‘Bossa negra’ (Universal Music) na noite de 25 de agosto de 2014, no Theatro Net Rio, em Copacabana (RJ). Na plateia, artistas como Arlindo Cruz, Beth Carvalho, Caetano Veloso, Jards Macalé e Marcelo D2 comprovavam a tal “miscigenação” citada por Hamilton para definir a bossa feita em parceria com o sambista portelense. A dupla mostrou-se afinada ao apresentar um roteiro que privilegia o repertório do disco e estende a ideia original incluindo Dorival Caymmi (‘Vatapá’) e Geraldo Pereira (‘Sem compromisso’) à seleta lista de autores que constam no projeto. “Bossa negra é Baden Powell, Vinicius de Moraes, Caetano Veloso, Arlindo Cruz, Ary Barroso, João Nogueira, Paulo César Pinheiro, Pixinguinha”, definiu Diogo. Desenvolto, o cantor relembrou ‘Batendo a porta’, de João e PC Pinheiro, senha para a apresentação de ‘Salamandra’, preciosa composição da extinta dupla, que permanecia inédita. Acompanhado...

Alcione faz a eterna alegria de seu público mais fiel

Diante de uma calorosa plateia, que lotou o Vivo Rio na noite de 22 de agosto de 2014, Alcione voltou a apresentar o show ‘Eterna alegria’. No mesmo palco onde estreou a atual turnê, em junho do ano passado, a cantora maranhense deu voz às recentes ‘Eterna alegria’ (Júlio Alves, Ramirez, Carlos Jr./ Alex Almeida), ‘Ogum chorou que chorou’ (Arlindo Cruz) e ‘Eh, eh’ (Djavan/ Zeca Pagodinho), entre outras, e relembrou o clássico ‘Pintura sem arte’ (Candeia). Se as composições de Jorge Aragão saíram de cena, as duas pérolas assinadas por Fátima Guedes felizmente foram mantidas. ‘Tanto que aprendi e amor’ e ‘Sete véus’ são números menos óbvios, em que a voz potente de Alcione arrepia os mais atentos. Para a eterna alegria da maioria, Marrom enfileirou sucessos românticos como ‘Pior é que eu gosto’ (Isolda), ‘Mulher ideal’ (Michael Sullivan/ Carlos Colla) e ‘Você me vira a cabeça’ (Chico Roque/ Paulo Sérgio Valle), além é claro, da matadora ‘A loba’ (Paulinho Rezende/ Juninho Peralva), ...

Com Hamilton de Holanda, Diogo Nogueira surpreende em 'Bossa Negra'

Quando caminhava a passos largos para o pagode romântico e parecia confortavelmente adaptado ao preguiçoso expediente das regravações, que marcam sua relativamente curta discografia, Diogo Nogueira surpreende ao lançar 'Bossa negra' (Universal Music). Dividido com o exímio bandolinista e compositor Hamilton de Holanda, o álbum, que equilibra material inédito e versões de músicas já conhecidas, desvia da rota da obviedade a carreira do filho de João Nogueira (1941 – 2000). Ainda que algumas faixas sejam pra lá de manjadas, como ‘Desde que o samba é samba’ (Caetano Veloso) e ‘Risque’ (Ary Barroso), o repertório soa interessante justamente por tirar Diogo de sua zona de conforto e, também, pelos espertos arranjos. Acompanhados pelos músicos Thiago da Serrinha (percussão) e André Vasconcellos (baixo), Nogueira e Holanda injetam novos timbres e doses de contemporaneidade no samba. Passando ao largo da reverência extremada sem, contudo, cair no experimentalismo radical, a dupla bu...

Rodrigo Maranhão faz ótimo 'Itinerário' na MPB

Em tempos de modernosas invencionices musicais quase sempre esquecíveis, o terceiro disco solo de Rodrigo Maranhão, ‘Itinerário’ (MP,B/ Universal Music), surge como um ótimo disco de MPB. Sim, a sigla, sinônimo da melhor produção musical deste país, felizmente continua inspirando novas gerações. Empunhando seu violão em todas as faixas, o líder do Bangalafumenga enfileira samba de roda, samba-canção, seresta e fado, entre outros gêneros, num álbum sonoramente caprichado. Os excelentes Marcelo Caldi (sanfona/ piano), Nando Duarte (violão 7 cordas) e Pretinho da Serrinha (cavaquinho/ percussão) acompanham Rodrigo nesse ‘Itinerário’ que começa ecoando a “batida que veio de Angola”, na contagiante malemolência de ‘Fuzuê’ (Rodrigo Maranhão). Perspicaz retratista urbano, Maranhão faz instantâneo da musa tijucana, ‘Iara’ (Rodrigo Maranhão/ PC Castilho), que passeia por pontos de notória efervescência cultural suburbana: o baile charme de Madureira, as escolas de samba Portela e Império Se...

Rita Benneditto encanta em seu novo show 'Influências'

Enquanto finaliza seu esperado sexto álbum, ‘Encanto’, previsto para ser lançando em outubro pela gravadora Biscoito Fino, Rita Benneditto volta à cena com um novo show. Em cartaz até hoje, 10 de agosto de 2014, ‘Influências’ renova o repertório da cantora maranhense ao mostrar ao público, que vem lotando o teatro de arena da Caixa Cultural do Rio de Janeiro, algumas de suas inspirações musicais. Rita ilumina, entre outras canções, ‘Vento Bravo’ (Edu Lobo/ Paulo César Pinheiro), ‘Lamento Sertanejo’ (Dominguinhos/ Gilberto Gil), ‘Zumbi’ e ‘Domingo 23’ (Jorge Ben Jor), ‘Traduzir-se’ (Ferreira Gullar/ Fagner) e ‘Oração ao tempo’ (Caetano Veloso) – um dos grandes momentos do show, já no bis. Cantora de voz firme e singular, Benneditto recebe as Caixeiras do Divino da Casa Fanti Ashanti, cantadeiras do Maranhão com quem “aprendeu a cantar” e divide momentos de delicada religiosidade. Na pluralidade da música popular brasileira Rita Benneditto tem um honroso e especial lugar. 

'Corpo de baile' reitera a coerência artística de Mônica Salmaso

Embalados por valsas, modinhas, toadas e outras melodias sentimentais, os quintais de Mônica Salmaso são habitados por curumins, moças donzelas, caboclos, violeiros, peixes e pássaros, enfim, por seres que constituem a riqueza cultural de um país cada vez mais onírico e remoto. Desde a sua estreia fonográfica em 1995, com o disco ‘Afro-sambas’ (Pau Brasil), contendo as famosas composições de Baden Powell e Vinicius de Moraes, Mônica vem depurando seu canto preciso em um repertório personalíssimo. Sem comprometimento com a produção autoral mais recente – ela chegou a gravar músicas de Chico César e Vanessa da Mata –, a paulistana de belo timbre grave segue buscando preciosidades ocultas, ou esquecidas, da música popular brasileira. Aos poucos ela deixou de lado certa brejeirice inicial, aprimorando um rigor estilístico que a coloca num posto único no panteão da MPB. Sua refinada alma lírica se opõe à produção vanguardista atual e ao pop mercantil perseguido pela quase totalidade das ...