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'Passado de glória' marca os 80 anos de Monarco com samba nobre

Idealizado para as comemorações das oito décadas de vida do portelense Hildemar Diniz, completadas no dia 17 de agosto de 2013, o CD ‘Passado de glória – Monarco 80 anos’ chega ao público sob o patrocínio do projeto Natura Musical. Alicerçado na poesia e na melodia de outra época, quando o bom samba permanecia na quadra das escolas de samba além do Carnaval, o disco se impõe como item essencial para os amantes do samba genuíno. Tal qual a grandeza da amada agremiação de Oswaldo Cruz, ‘Passado de glória’ reúne uma respeitável turma de bambas. Dos músicos do quilate de Cláudio Jorge (violão de 6), Carlinhos 7 Cordas (violão de 7), Paulão 7 Cordas (violão de 7), Marcelinho Moreira (tamborim, frigideira, caixa), Marcos Esguleba (tantã, pandeiro, tamborim, reco-reco, mola, caixa), Dirceu Leite (clarineta, flauta, pícollo) e Felipe D’Angola (tamborim, surdo, ganzá), passando pelo coro de Ana Costa, Nilze Carvalho, Alfredo Del Penho e Pedro Miranda, às participações especiais, tudo contribui para a beleza atemporal do álbum. A direção musical é assinada por Mauro Diniz (cavaquinho), um dos filhos de Monarco, que também divide com o pai a faixa ‘Horas de meditação’ (Mauro Diniz/ Monarco).
Aos 80 anos, a voz do sambista ganhou tons suaves, tornando-se ainda mais agradável. Suavidade que, aliás, está presente nas 13 faixas inéditas, como a bela ‘Estação primaveril’ (Quininho/ Monarco), realçada pelo canto igualmente terno de Marisa Monte. Reconhecida admiradora da Velha Guarda da Portela, a cantora que produziu o CD ‘Tudo azul’ (2000) e o documentário ‘O mistério do samba’ (2008), bem que podia gravar um álbum dedicado aos compositores da escola. O passado de glória da azul e branca perpassa o CD, culminando em momentos como ‘Não reclame pastorinha’ (Monarco), com a participação da Velha Guarda, e ‘A grande vitória’ (Monarco/ Mauro Diniz), com Diogo Nogueira. “Eu vi Portela em teus dias de glória/ e participei da história/ dos antigos carnavais/ Eu conheci Arlete e Eliete/ as pastoras que brilharam/ nos desfiles triunfais/ o mestre de harmonia era Zé Kéti”, relembra Monarco, dono de prodigiosa memória, em ‘Momentos emocionais’ (Monarco), faixa dividida com Cristina Buarque, outra célebre apreciadora do samba feito pela Velha Guarda da Portela. A turma de baluartes se junta a Marquinhos Diniz, outro filho de Monarco, no lindo samba da quadra ‘Meu criador’ (Mijinha/ Monarco). A dinastia de sambistas parece garantida: a neta mais famosa, Juliana Diniz coloca sua doce voz na comovente faixa ‘Pobre passarinho’ (Ratinho/ Monarco), enquanto Thereza Diniz e João Matheus Diniz dividem ‘Crioulinho sabu’ (Monarco), primeira composição de Monarco, feita aos oito anos de idade.
As dores de amores, tão caras à obra do portelense, estão presentes em ‘Verifica-se de fato’ (Monarco/ Ratinho), com participação especial de Zeca Pagodinho, ‘Insensata e rude’ (Monarco/ Mauro Diniz) e ‘Fingida’ (Monarco), que traz o sambista paulista Tuco Pellegrino. Outro momento de grande beleza é ‘Tristonha saudade’ (Monarco), cantada com Beth Carvalho, ilustre mangueirense que sempre recorreu ao baú de joias musicais da Velha Guarda da Portela em seus discos. Há ainda uma parceria póstuma com Mário Lago (1911 – 2002), ‘Poeta apaixonado’. Guardião do passado de glória da Portela e do próprio samba carioca, Monarco continua na ativa, compondo sambas da melhor qualidade. Melodias e versos perfeitamente ajustados, num refinado trabalho de ourives musical. E tantas cantoras por aí achando que cantam samba... Sabem de nada, inocentes.

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