‘Matéria-prima’
é o mais recente álbum de Montgomery Ferreira Nunis, paulistano de São Vicente
(SP), um dos fundadores do carioquíssimo grupo Fundo de Quintal. Mais conhecido
como Sombrinha, autor de clássicos como ‘Ainda é tempo de ser feliz’ (c/ Arlindo
Cruz/Sombra), ‘Não quero saber mais dela’ (c/ Almir Guineto) e ‘O show tem que
continuar’ (c/Arlindo Cruz/Luiz Carlos da Vila), o sambista apresenta 16 faixas
no CD produzido por Arlindo Cruz, lançado de forma independente. Os arranjos
assinados por Ivan Paulo, Rafael dos Anjos, Fernando Merlino, Jorge Cardoso,
além da dupla Sombrinha e Arlindo realçam a qualidade de composições como
‘Guerreiro protetor’ (Sombrinha/Arlindo Cruz), de irresistível pegada, ou ‘O
amor você eu’ (Sombrinha/Nilton Barros/Rubens Gordinho) e ‘Perdeu valor’
(Sombrinha/Sombra), nas quais o trombone de Marlon Sette reforça o som de
gafieira, igualmente sedutor.
Embora
o amor seja tema recorrente de faixas como ‘Felicidade pra dois’ (Sombrinha/Nilton
Barros/Marquinho PQD), ‘Foi embora’ (Sombrinha/Zeca Pagodinho/Arlindo Cruz), ‘Matéria-prima’
(Sombrinha/Nilton Barros), ‘A felicidade tá chamando’ (Sombrinha/Carlinhos
Vergueiro), ‘A semente não conhece a flor’ (Sombrinha/Nilton Barros/Rubens
Gordinho) e ‘Inconsequente‘ (Sombrinha/Jorge Cardoso), o samba de Sombrinha
consegue fugir das lamúrias do pagode romântico radiofônico. Há refinamento nas
letras e melodias, o que não surpreende aqueles que conhecem o sambista da
quadra do bloco carnavalesco Cacique de Ramos. Sombrinha faz parte da geração
surgida nos anos 1980, responsável por inovações melódicas e rítmicas que
mudaram a cara do samba.
Ícone
daquela turma, Zeca Pagodinho participa do calango ‘Quando eu jogo a rede’
(Sombrinha/Marquinho PQD/Rubens Gordinho), que ainda traz o bandolinista
Hamilton de Holanda. A malandragem de ‘Deixa Solto’(Sombrinha/Chico
Buarque/Arlindo Cruz) agrega Arlindo, Hamilton, Chico Buarque e a Velha Guarda
da Mangueira. O autor de ‘Homenagem ao malandro’ reaparece no dolente ‘A flor
que eu não esqueço’ (Sombrinha/Nilton Barros/Marquinho PQD).
Tudo
poderia acabar em sambas buliçosos como ‘Festa do Zé’ (Sombrinha/Carlinhos
Vergueiro), ‘De Donga à Doca’ (Sombrinha/Marquinho PQD) e ‘Me joga no aiê-iêo’
(Sombrinha/Nilton Barros/Marquinho PQD), mas Sombrinha dribla qualquer
obviedade com a bonita valsa ‘Pra ser feliz um dia’ (Sombrinha/Carlinho
Vergueiro), provando que a música de Montgomery Ferreira vai além da sombra da
famosa tamarineira da quadra do Cacique.
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