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Mostrando postagens de 2014

2014: Shows memoráveis de grandes cantoras

Em 2014 duas estrelas da MPB estrearam shows que renderam turnês inesperadas. Ao revisitar a obra de Luiz Gonzaga (1912 – 1989) e de compositores influenciados pela música do Rei do Baião no projeto Natura Musical, Elba Ramalho exibiu a energia que marcou seus melhores momentos nos palcos, em quase quatro décadas de carreira. Junto com o grupo armorial SaGRAMA e o quarteto de cordas Encore, ambos de Pernambuco, Elba pôs fogo na mistura, gerando um show impactante, cujo registro audiovisual deverá ser lançado em 2015, assim como seu próximo álbum de carreira, ‘Do meu olhar para fora’. Com ‘Espelho D’Água, recital de voz e violão concebido para a inauguração de um novo teatro em São Paulo, Gal Costa revigorou antigas canções e apontou o futuro próximo, ao inserir a inédita canção de Thiago e Marcelo Camelo que dá nome ao espetáculo, e que também estará em seu novo e esperado disco de inéditas. Com músicas especialmente compostas por Caetano Veloso, Gilberto Gil, Adriana Calcanhotto, ...

2014: A pluralidade de ótimos lançamentos musicais

Das 100 músicas mais tocadas nas rádios brasileiras em 2014, 59 são sertanejas. Enquanto o pop rock tupiniquim esta representado apenas por Skank (‘Ela me deixou’, 81ª posição) e Jota Quest (‘Waiting for you’, 98º lugar) a MPB nem aparece na lista divulgada pela empresa de monitoramento Crowley. A falta de pluralidade nas programações das emissoras não reflete a profusão de importantes lançamentos musicais do ano. Um dos grandes compositores da época áurea da MPB, Dori Caymmi festejou 70 anos com um primoroso disco de inéditas parcerias com Paulo César Pinheiro, de onde mais tarde, Maria Bethânia retiraria ‘Alguém cantando’, pérola que abre ‘Meus quintais’, álbum em que a baiana reitera sua coerência artística com requinte. De modo semelhante, Mônica Salmaso brindou o público com o belíssimo ‘Corpo de baile’, CD dedicado às canções de Guinga e Paulo César Pinheiro. Embalado pelo samba e por outras bossas, Luiz Melodia brilhou em ‘Zerima’, ótimo disco de inéditas. Rita Benneditto q...

Grupo Semente lança disco com repertório envolvente

Vinculado ao renascimento cultural do bairro da Lapa, no Rio de Janeiro (RJ), no início dos anos 2000, o Grupo Semente finalmente lança seu primeiro disco solo. Já nas lojas, via gravadora Biscoito Fino, o CD ‘Grupo Semente’ foi produzido por Eduardo Neves e pelo próprio quinteto formado por Bernardo Dantas (violão), Bruno Barreto (voz/ percussão), João Callado (cavaquinho), Marcos Esguleba (voz/ percussão) e Mestre Trambique (voz/ percussão). O repertório é tão envolvente quanto as disputadas apresentações do grupo no Bar Semente, onde a carreira artística germinou. A antiga parceria com Teresa Cristina, cantora que gravou seus melhores álbuns na companhia do grupo, é revivida na gaiata – e ótima – ‘Alô João’ (Baden Powell/ Cyro Monteiro, 1965). Primeiro cantor do Semente, Pedro Miranda divide os vocais no medley ‘Tumba lê lê’ (Francisco Netto/ Nilton Neves/ Jarbas Reis, 1956) / ‘O facão bateu’ (Domínio público), outro bom momento. Já Diogo Nogueira surge em ‘Disritmia’ (Marti...

Wanda Sá festeja 50 anos de carreira com bossa

Para comemorar 70 anos de idade e 50 anos de carreira, contados a partir do lançamento de seu disco mais festejado, ‘Wanda vagamente’ (1964), a cantora Wanda Sá gravou seu primeiro DVD, por ora lançado pela parceria Canal Brasil e Biscoito Fino. Também editado em CD, ‘Wanda Sá’ foi gravado no Espaço Tom Jobim, no Jardim Botânico, Rio de Janeiro (RJ), em novembro de 2013. Dirigido por Gabriela Gastal, o registro audiovisual apresenta o roteiro baseado no show ‘Isso é bossa nova, isso é muito natural... ’, em que Wanda relembra standards do movimento musical surgido nos anos 1950. Acompanhada pelo trio formado por Adriano Souza (piano), João Cortez (bateria) e Dôdo Ferreira (contrabaixo), Wanda Sá surge à vontade tocando violão e interpretando ‘Água de beber’ (Tom Jobim/ Vinicius de Moraes), ‘Discussão’ (Tom Jobim/ Newton Mendonça), ‘Samba de uma nota só’ (Tom Jobim/ Newton Mendonça), entre outros clássicos. A cantora paulista, radicada no Rio de Janeiro, recebe Marcos Valle (piano/ ...

Thathi expõe romantismo no EP 'Não sei se te contei'

‘Não sei se te contei’ é o novo trabalho da cantora, compositora e multi-instrumentista Thathi. Produzido pela própria artista e pelo músico Ricardo Feghali, do grupo Roupa Nova, para o selo Friends Music, o EP traz quatro faixas. Radicada no Rio de Janeiro desde 2011, a jovem baiana aposta num romantismo exacerbado, que remete às paradas musicais mais populares dos anos 1980. Sua produção encontra paralelo nas composições passionais de artistas como Isabella Taviani, que participa de ‘Sujeito imperfeito’ (Thathi/ Isabella Taviani/ Andréa Montezuma/ Mylenna/ Fernanda Alvvs), e Luiza Possi, com quem assina ‘Na sua’, faixa de maior apelo radiofônico. Completam o mini álbum ‘A face falsa do amor’ (Thathi/ J. Velloso) e ‘Não sei se te contei’ (Thathi/ J. Velloso), esta com a participação especial de Herbert Vianna.

Da Bahia, Os Marchistas apostam na marchinha para embalar o Carnaval

Gênero musical que embalou a folia nas décadas de 1920 a 1960, a marchinha foi aos poucos sobrepujada por outras novidades, como o samba de enredo. Contudo, as clássicas composições feitas para o reinado de Momo continuaram na boca do povo até os dias atuais, o que suscitou a produção de novas marchinhas, sem que nenhuma tenha virado sucesso nacional.  Da Bahia, terra da axé music, vêm Os Marchistas, cujo álbum homônimo marca a estreia do selo musical Friends Music. O trio formado por Marcelo Quintanilha (voz/ violão), Tenison Del Rey (voz) e Thathi (voz/ guitarra baiana) aposta na marchinha para embalar o Carnaval de 2015. O inédito repertório tenta atualizar o velho gênero carnavalesco com letras atuais e a mistura de sonoridades.  A faixa que abre o disco, ‘Os Marchistas’ (Tenison Del Rey/ Thathi/ Marcelo Quintanilha/ Gerson Guimarães), aposta na folia politicamente (quase) correta. “E quando não dá mais para segurar/ Chamamos taxistas pra voltar”, dizem os foliões após ...

Exuberante, 'Atento aos sinais' ganha edição em DVD

Concebido por Ney Matogrosso na contramão do manjado esquema ‘CD de estúdio-show-DVD ao vivo’, o show ‘ Atento aos sinais ’  reúne  em seu primoroso roteiro, apresentado pela primeira vez em fevereiro de 2013, canções que o cantor só viria a registrar em estúdio no álbum homônimo lançado em novembro do mesmo ano. Enfim chega às lojas ‘Atento aos sinais ao vivo’, CD/DVD gravado em junho de 2014, na casa de espetáculos HSBC Tom Brasil, em São Paulo (SP). Dirigido por Felipe Nepomuceno, o registro audiovisual resulta bonito, preservando (mais) um grande momento da carreira de Ney. As belas imagens exibidas nos painéis de LED durante as apresentações surgem como vinhetas entre os números musicais, dando ares de vídeo clip à filmagem. Finalmente podemos ter em casa a linda versão da poética ‘Astronauta lírico’ (Vitor Ramil), número que originalmente encerrava o bis de ‘Atento aos sinais’ antes que Ney adicionasse outras canções ao longo da turnê. Antigos e novos compositore...

Mart'nália está de volta ao samba

“Quem se atreve a me dizer do que é feito o samba?”, pergunta Mart’nália, renovando sentidos do sucesso do Los Hermanos, ‘Samba a dois’ (Marcelo Camelo), em ‘Mart’nália em samba! Ao vivo’, novo CD/DVD lançado pela gravadora Biscoito Fino. Após o ousado e subestimado disco “sem cuíca, pandeiro e tamborim”, ‘ Não tente compreender ’ (2012), produzido por Djavan, Mart’nália volta ao gênero que deu fama à família Ferreira. Ela revê sucessos próprios, reverencia raízes, coloca rap no samba e cultiva seu livre trânsito entre diversas vertentes da música popular brasileira. Tudo a sua maneira, com a notória e contagiante carioquice. Estão lá ‘Pé meu samba’ (Caetano Veloso), ‘Ela é minha cara’ (Celso Fonseca/ Ronaldo Bastos), ‘Boto meu povo na rua’ (Arlindo Cruz/ Acyr Marques/ Ronaldinho) e ‘Cabide’, de Ana Carolina, erroneamente creditada a Edel Ferreira Lima (Dida) e Edson Fagundes (Dedé da Portela) no encarte. Na verdade, a dupla é autora do bonito samba ‘Peço a Deus’, gravado por Mestre...

Em novo CD, 'Tudo', Bebel Gilberto tenta voltar no tempo

Alçada ao posto de musa da bossa eletrônica ao lançar o aclamado álbum ‘Tanto tempo’ (2000), Bebel Gilberto chega ao quinto disco de estúdio, ‘Tudo’ (Sony Music), mantendo a aura de pretensa sofisticação que caracteriza seu trabalho. À voz de pequena extensão, apropriada para o estúdio, ela acrescenta a sonoridade contemporânea do produtor Mario Caldato Jr. num repertório poliglota que une composições autorais, Neil Young (‘Harvest moon’), Tom Jobim (‘Vivo Sonhando’) e um sucesso do grupo francês  Âme Strong S.A. (‘Tout Est Bleu’), entre outros. Se a cantora mostra alguma evolução, a compositora continua irregular, como deixam transparecer as pueris ‘Nada não’ (Bebel/ Masa Shimizu) e ‘Lonely in my heart’ (Bebel/ Joey Altruda). As novas parcerias trazem algum frescor ao repertório, como a boa faixa-título, assinada com Adriana Calcanhotto, e o samba ‘Novas ideias’, feito com Seu Jorge e Gabriel Moura, que faz Bebel balançar (um pouco) além da sua new bossa. Outro momento interess...

Menos 'tecno' e mais ecumênica, Rita Benneditto lança 'Encanto'

Em seu novo disco, ‘Encanto’ (Manaxica/ Biscoito Fino), Rita Benneditto volta a mirar a temática religiosa afro-brasileira que vem pautando sua música desde 2003, quando estreou ‘Tecnomacumba’, show que deu origem ao CD com versões de estúdio, em 2006, e ao DVD/CD ao vivo, em 2009. Menos “tecno” desta vez, a maranhense pisa firme no terreiro que reveste de contemporaneidade. Mais ecumênica, apurando sua pesquisa de repertório, interessante desde a estreia fonográfica, em 1997, Rita expande conceitos, alinhando um nada óbvio Djavan (‘Água’), um hit de Roberto e Erasmo Carlos (‘Fé’) – e até mesmo um tema afro-brasileiro captado por Heitor Villa-Lobos (‘Estrela é lua nova’) – e pontos (cânticos) da Umbanda e do Candomblé adaptados por ela e pelo multi-instrumentista Felipe Pinaud, produtor do CD ao lado de Lancaster Lopes (baixo/ programações). Experimentando, criando junções inusitadas e sugerindo novos sentidos às canções, Rita exercita sua liberdade artística, conectando, por exem...

Música é coadjuvante em filme sobre Tim Maia

Baseado no livro ‘Vale tudo - O som e a fúria de Tim Maia’, escrito por Nelson Motta, está em cartaz nos cinemas brasileiros ‘Tim Maia’, a cinebiografia do gigante musical da soul music tupiniquim. Dirigido por Mauro Lima, o filme refaz os passos de Tim desde a infância no bairro carioca da Tijuca até sua morte, em 1998. Robson Nunes e Babu Santana interpretam o ‘Síndico’ na juventude e na fase adulta, respectivamente. Enquanto Nunes tem a liberdade de compor um personagem desconhecido do público, Santana encara o desafio de mimetizar o ídolo nacional. Os dois se saem bem, com ligeira vantagem para o primeiro. Entretanto eles não são os únicos protagonistas do longa-metragem, já que Cauã Raymond (Fábio) e Alinne Moraes (Janaína) acompanham o Tim Maia fictício durante praticamente toda a sua trajetória. Coprodutor do filme, Cauã interpreta o cantor paraguaio Fábio, amigo de Tim, que também narra a história através do texto que, por vezes, não parece adequado – há diferenças fundamen...

'Espelho D'Água': a plenitude artística de Gal

Uma voz tamanha invadiu a cena do Vivo Rio na noite de sábado, dia 01 de novembro de 2014, quando Gal Costa apresentou ‘Espelho D’Água’, o elogiado recital em que revigora antigas canções e aponta um futuro próximo, interpretando a inédita canção de Marcelo e Thiago Camelo, que dá nome ao espetáculo e estará em seu esperado novo disco. Acompanhada pelo músico Guilherme Monteiro (violão/ guitarra), Gal desfia o eficiente roteiro, pensado em conjunto com o jornalista Marcus Preto, e dá continuidade à festa paz iniciada a partir de ‘Recanto’, o disco / show que revigorou seu cantar.  Com o famoso brilho agudo musical, citado na música que significativamente abre a noite, ‘Caras e Bocas’ (Caetano Veloso/ Maria Bethânia), e os precisos graves adquiridos com o tempo, a cantora, que completa 70 anos em 2015, faz a alegria de antigos e novos fãs. Caetano Veloso permanece sendo o compositor preponderante, e novamente a musa faz jus ao seu poeta. As intensas interpretações de ‘...

'Enredo', de Martinho da Vila, ganha registro em DVD

Oportunamente lançado antes do Carnaval deste ano, o CD ‘Enredo’ reúne os sambas de enredo assinados por Martinho da Vila para a extinta Escola de Samba Aprendizes da Boca do Mato e para a Unidos de Vila Isabel (clique aqui para ler a resenha). Entre hinos campeões e outros que não chegaram a ser cantados na Avenida, ‘Enredo’ constata a excelência das criações de Zé Ferreira, que mudaram os rumos dos sambas de enredo. Oito meses depois a gravadora Biscoito Fino põe nas lojas o DVD ‘Enredo’, registro audiovisual feito durante as gravações do CD. Dirigido por Sandro Arieta e Tiago Marreiro, o DVD apresenta ilustrações de Matheus Maat.  A conhecida descontração da família Ferreira pode ser vista na abertura do DVD ‘Enredo’, quando o patriarca, rodeado por sua prole musical – Analimar, Juju Ferreirah, Maíra, Mart’nália, Martinho Filho e Tunico, além da neta Dandara – relembra o nascimento dos sambas. O DVD ‘Enredo’ é a cereja deste saboroso bolo musical, feito pelo chef Martinho. ...

Sambabook Zeca Pagodinho é o melhor título da série

Terceiro título da série idealizada e produzida pela Musickeria, distribuído pela Universal Music, o ‘Sambabook Zeca Pagodinho’ reúne composições pouco conhecidas e sucessos do sambista carioca nas vozes de artistas de diferentes latitudes. Editado simultaneamente em dois CDs, DVD e Blu-ray, o ‘Sambabook Zeca Pagodinho’ apresenta a melhor solução para o registro audiovisual entre os três volumes da série, ao colocar os convidados cantando à vera, numa grande sala de ensaio, na Cidade da Música, Barra da Tijuca (RJ). A efetiva e engraçada participação de Zeca, que conta causos sobre uma música e outra, também contribui para o bom resultado final. A direção musical desta vez ficou a cargo de Paulão 7 Cordas. Gilberto Gil não vai além da reverência em ‘Não sou mais disso’ (Jorge Aragão/ Zeca Pagodinho, 1996), enquanto um descontraído Djavan se sai bem melhor em ‘Judia de mim’ (Wilson Moreira/ Zeca Pagodinho, 1986). Roberta Sá canta com correção ‘Mutirão de amor’ (Sombrinha/ Jorge Ara...

'Live in London' eterniza o frescor tropicalista de Gal e Gil

Verdadeira joia atemporal, o CD duplo ‘Gilberto Gil & Gal Costa – Live in London ‘71’, lançado pelo selo Discobertas, do pesquisador musical Marcelo Fróes, eterniza um raríssimo show dos então jovens artistas baianos na City University, Londres, Inglaterra, no dia 26 de novembro de 1971. O registro histórico e surpreendente, encontrado por Fróes, em 1998, foi dividido em dois CDs. No primeiro, Gal, acompanhada por Gil (violão/ vocais), Bruce Henry (baixo), Tutty Moreno (bateria) e Chiquinho Azevedo (percussão), apresenta repertório baseado no show ‘Fa-tal, a todo vapor’, que marcou definitivamente sua carreira naquele mesmo ano, em concorridas noites no Teatro Tereza Raquel, em Copacabana, Rio de Janeiro. Transbordando frescor, a cantora mostra o que é que a baiana tem em vibrantes interpretações de músicas que se tornariam clássicas, como ‘Coração vagabundo’ (Caetano Veloso) e ‘Vapor barato’ (Jards Macalé/ Waly Salomão), esta com pulsação roqueira, graças à batida do violão d...

O Rio boêmio e idealizado de Fafá de Belém

“Todos nós que não nascemos aqui adoraríamos ser cariocas”, afirmou Fafá de Belém na noite de 16 de setembro de 2014, no palco do Theatro Net Rio, em Copacabana, durante a segunda apresentação de seu novo show, ‘Meu Rio de tantos janeiros’. Acompanhada por Cristóvão Bastos (piano), Renato Loyola (contrabaixo) e Ricardo Costa (bateria), a cantora paraense refez o percurso nostálgico-afetivo, entre a Belém natal e o Rio de Janeiro, fugindo do seu repertório habitual. Ainda que sucessos como ‘Foi assim’ (Ruy Barata/ Paulo André), ‘Coração do agreste’ (Aldir Blanc/ Moacyr Luz), ‘Dentro de mim mora um anjo’ (Cacaso/ Sueli Costa) e ‘Sob medida’ (Chico Buarque) sejam relembrados, o show tem como base pérolas musicais encrustadas na história cultural da Cidade Maravilhosa. Sem se importar com a cronologia das canções, Fafá trafega com desenvoltura por roteiro que alinha fossa, samba-canção, bolero e bossa nova, entre outros gêneros. No pot-pourri com os sucessos ‘Ouça’ (Maysa), ‘Meu mundo c...

'Cordas, Gonzaga e afins' reconecta Elba a seus melhores momentos

‘Cordas, Gonzaga e afins’, novo show de Elba Ramalho, chegou ao Rio de Janeiro na noite de 09 de setembro de 2014, no Theatro Net Rio, em Copacabana. Ao revisitar a obra de Luiz Gonzaga (1912 – 1989) e de compositores influenciados pela música do Rei do Baião, a cantora paraibana exibe a energia que marcou seus melhores momentos nos palcos, em 35 anos de carreira. Acompanhada pelo grupo instrumental SaGRAMA, pelo quarteto de cordas Encore, o baterista Tostão Queiroga e o sanfoneiro Marcelo Caldi, Elba apresenta um espetáculo impactante. Patrocinado pelo projeto Natura Musical, ‘Cordas, Gonzaga e afins’ entrelaça números musicais e textos assinados pelo dramaturgo pernambucano Newton Moreno.  Bem costurado, o roteiro foge da obviedade ao alinhar canções menos conhecidas de Gonzagão, como o baião ‘Algodão’ (Luiz Gonzaga/ Zé Dantas) e o maracatu ‘Braia dengosa’ (Luiz Gonzaga/ Guio de Moraes) a clássicos como ‘Qui nem jiló’ (Luiz Gonzaga/ Humberto Teixeira), ‘Olha pro céu’ (Luiz Gon...

Bonde da 'Estação Lapa' não conduz apenas sambistas

A coletânea ‘Estação Lapa’, lançada pelo selo Da Lapa, uma divisão da gravadora Biscoito Fino, alinha gravações de artistas quase sempre ligados à dinâmica cultural responsável pelo ressurgimento da Lapa. Nomes como Casuarina (‘Vaso ruim’, Diego Zangado/ Gabriel Moura), Nilze Carvalho (‘Banho de manjericão’, João Nogueira/ Paulo César Pinheiro), Ana Costa (‘As coisas que mamãe me ensinou’, Leci Brandão/ Zé Maurício) e Empolga às 9 (‘Tinindo trincando’, Moraes Moreira/ Galvão) estão neste bonde musical. Contudo, os consagrados Wilson das Neves (‘Brasão de Orfeu’, Paulo César Pinheiro/ Wilson das Neves), Luiz Melodia (‘Tive sim’, Cartola), Elza Soares (‘Pra que discutir com madame’, Janet de Almeida/ Haroldo Barbosa) e Moacyr Luz & Martinho da Vila (‘Samba dos passarinhos’, Moacyr Luz/ Sereno) também embarcaram na viagem. Até mesmo a mineira Jussara Silveira (‘Dama do cassino’, Caetano Veloso), cantora sem ligações com a música feita na Lapa, surge como passageira. Orquestra Imper...

'Dorival Caymmi - Centenário' é mar de calmaria

‘Dorival Caymmi – Centenário’ é o álbum lançado pela gravadora Biscoito Fino para comemorar os cem anos de nascimento de Dorival Caymmi (1914 – 2008). Com belíssimos arranjos assinados por Dori Caymmi e Mario Adnet, o disco reúne os irmãos Dori, Nana e Danilo com Caetano Veloso, Chico Buarque e Gilberto Gil, além de Adnet, intérprete de ‘A vizinha do lado’ (Dorival Caymmi, 1946). A escalação do elenco estelar tem razões afetivas, Dori quis reunir os dois baianos mais famosos de sua geração, além de Chico Buarque, um dos artistas preferidos de Dorival. Distante das noites de temporal, o mar das canções caymminianas é navegado por sofisticada sonoridade sinfônica. A calmaria dá o tom do CD, elevado somente por uma espetacular Nana Caymmi em ‘Sargaço mar’ (Dorival Caymmi, 1985) e ‘A lenda do Abaeté’ (Dorival Caymmi, 1948). Com sua voz grave, herdada do pai, Dori também se destaca em ‘João Valentão’ (Dorival Caymmi, 1953) e ‘O bem do mar’ (Dorival Caymmi, 1952). A Danilo coube a difícil...

Dorina e Época de Outro relembram a centenária Aracy de Almeida

Por pouco o centenário de Aracy de Almeida (1914 – 1988) não passou batido em sua cidade natal, o Rio de Janeiro. A preferida de Noel Rosa, que chegou a ser chamada de “o samba em pessoa”, ficou conhecida por gerações mais recentes com a jurada ranzinza de um programa de calouros. Seu requintado repertório continua ignorado por muitos, graças ao descaso da indústria fonográfica. Contudo, na noite de 26 de agosto de 2014, outra carioca da gema subiu ao tradicional palco do Teatro Rival Petrobrás para prestar tributo à Dama do Encantado. Acompanhada pelo Conjunto Época de Ouro, a sambista Dorina encarou com valentia o perspicaz roteiro assinado pelo diretor musical, Marcos Fernando. “Estou aqui no tablado/ Feito de ouro e prata”. Os versos de ‘A voz do morto’ (Caetano Veloso) foram a senha para uma noite especial. Entre música da melhor qualidade, trechos que uma entrevista de Aracy deixavam transparecer a autenticidade da artista. Coisa impensável no contexto atual, onde tudo é cal...

Diogo e Hamilton apresentam sua bossa negra em show azeitado

Diogo Nogueira e Hamilton de Holanda apresentaram show baseado no recém-lançado álbum ‘Bossa negra’ (Universal Music) na noite de 25 de agosto de 2014, no Theatro Net Rio, em Copacabana (RJ). Na plateia, artistas como Arlindo Cruz, Beth Carvalho, Caetano Veloso, Jards Macalé e Marcelo D2 comprovavam a tal “miscigenação” citada por Hamilton para definir a bossa feita em parceria com o sambista portelense. A dupla mostrou-se afinada ao apresentar um roteiro que privilegia o repertório do disco e estende a ideia original incluindo Dorival Caymmi (‘Vatapá’) e Geraldo Pereira (‘Sem compromisso’) à seleta lista de autores que constam no projeto. “Bossa negra é Baden Powell, Vinicius de Moraes, Caetano Veloso, Arlindo Cruz, Ary Barroso, João Nogueira, Paulo César Pinheiro, Pixinguinha”, definiu Diogo. Desenvolto, o cantor relembrou ‘Batendo a porta’, de João e PC Pinheiro, senha para a apresentação de ‘Salamandra’, preciosa composição da extinta dupla, que permanecia inédita. Acompanhado...

Alcione faz a eterna alegria de seu público mais fiel

Diante de uma calorosa plateia, que lotou o Vivo Rio na noite de 22 de agosto de 2014, Alcione voltou a apresentar o show ‘Eterna alegria’. No mesmo palco onde estreou a atual turnê, em junho do ano passado, a cantora maranhense deu voz às recentes ‘Eterna alegria’ (Júlio Alves, Ramirez, Carlos Jr./ Alex Almeida), ‘Ogum chorou que chorou’ (Arlindo Cruz) e ‘Eh, eh’ (Djavan/ Zeca Pagodinho), entre outras, e relembrou o clássico ‘Pintura sem arte’ (Candeia). Se as composições de Jorge Aragão saíram de cena, as duas pérolas assinadas por Fátima Guedes felizmente foram mantidas. ‘Tanto que aprendi e amor’ e ‘Sete véus’ são números menos óbvios, em que a voz potente de Alcione arrepia os mais atentos. Para a eterna alegria da maioria, Marrom enfileirou sucessos românticos como ‘Pior é que eu gosto’ (Isolda), ‘Mulher ideal’ (Michael Sullivan/ Carlos Colla) e ‘Você me vira a cabeça’ (Chico Roque/ Paulo Sérgio Valle), além é claro, da matadora ‘A loba’ (Paulinho Rezende/ Juninho Peralva), ...

Com Hamilton de Holanda, Diogo Nogueira surpreende em 'Bossa Negra'

Quando caminhava a passos largos para o pagode romântico e parecia confortavelmente adaptado ao preguiçoso expediente das regravações, que marcam sua relativamente curta discografia, Diogo Nogueira surpreende ao lançar 'Bossa negra' (Universal Music). Dividido com o exímio bandolinista e compositor Hamilton de Holanda, o álbum, que equilibra material inédito e versões de músicas já conhecidas, desvia da rota da obviedade a carreira do filho de João Nogueira (1941 – 2000). Ainda que algumas faixas sejam pra lá de manjadas, como ‘Desde que o samba é samba’ (Caetano Veloso) e ‘Risque’ (Ary Barroso), o repertório soa interessante justamente por tirar Diogo de sua zona de conforto e, também, pelos espertos arranjos. Acompanhados pelos músicos Thiago da Serrinha (percussão) e André Vasconcellos (baixo), Nogueira e Holanda injetam novos timbres e doses de contemporaneidade no samba. Passando ao largo da reverência extremada sem, contudo, cair no experimentalismo radical, a dupla bu...

Rodrigo Maranhão faz ótimo 'Itinerário' na MPB

Em tempos de modernosas invencionices musicais quase sempre esquecíveis, o terceiro disco solo de Rodrigo Maranhão, ‘Itinerário’ (MP,B/ Universal Music), surge como um ótimo disco de MPB. Sim, a sigla, sinônimo da melhor produção musical deste país, felizmente continua inspirando novas gerações. Empunhando seu violão em todas as faixas, o líder do Bangalafumenga enfileira samba de roda, samba-canção, seresta e fado, entre outros gêneros, num álbum sonoramente caprichado. Os excelentes Marcelo Caldi (sanfona/ piano), Nando Duarte (violão 7 cordas) e Pretinho da Serrinha (cavaquinho/ percussão) acompanham Rodrigo nesse ‘Itinerário’ que começa ecoando a “batida que veio de Angola”, na contagiante malemolência de ‘Fuzuê’ (Rodrigo Maranhão). Perspicaz retratista urbano, Maranhão faz instantâneo da musa tijucana, ‘Iara’ (Rodrigo Maranhão/ PC Castilho), que passeia por pontos de notória efervescência cultural suburbana: o baile charme de Madureira, as escolas de samba Portela e Império Se...

Rita Benneditto encanta em seu novo show 'Influências'

Enquanto finaliza seu esperado sexto álbum, ‘Encanto’, previsto para ser lançando em outubro pela gravadora Biscoito Fino, Rita Benneditto volta à cena com um novo show. Em cartaz até hoje, 10 de agosto de 2014, ‘Influências’ renova o repertório da cantora maranhense ao mostrar ao público, que vem lotando o teatro de arena da Caixa Cultural do Rio de Janeiro, algumas de suas inspirações musicais. Rita ilumina, entre outras canções, ‘Vento Bravo’ (Edu Lobo/ Paulo César Pinheiro), ‘Lamento Sertanejo’ (Dominguinhos/ Gilberto Gil), ‘Zumbi’ e ‘Domingo 23’ (Jorge Ben Jor), ‘Traduzir-se’ (Ferreira Gullar/ Fagner) e ‘Oração ao tempo’ (Caetano Veloso) – um dos grandes momentos do show, já no bis. Cantora de voz firme e singular, Benneditto recebe as Caixeiras do Divino da Casa Fanti Ashanti, cantadeiras do Maranhão com quem “aprendeu a cantar” e divide momentos de delicada religiosidade. Na pluralidade da música popular brasileira Rita Benneditto tem um honroso e especial lugar. 

'Corpo de baile' reitera a coerência artística de Mônica Salmaso

Embalados por valsas, modinhas, toadas e outras melodias sentimentais, os quintais de Mônica Salmaso são habitados por curumins, moças donzelas, caboclos, violeiros, peixes e pássaros, enfim, por seres que constituem a riqueza cultural de um país cada vez mais onírico e remoto. Desde a sua estreia fonográfica em 1995, com o disco ‘Afro-sambas’ (Pau Brasil), contendo as famosas composições de Baden Powell e Vinicius de Moraes, Mônica vem depurando seu canto preciso em um repertório personalíssimo. Sem comprometimento com a produção autoral mais recente – ela chegou a gravar músicas de Chico César e Vanessa da Mata –, a paulistana de belo timbre grave segue buscando preciosidades ocultas, ou esquecidas, da música popular brasileira. Aos poucos ela deixou de lado certa brejeirice inicial, aprimorando um rigor estilístico que a coloca num posto único no panteão da MPB. Sua refinada alma lírica se opõe à produção vanguardista atual e ao pop mercantil perseguido pela quase totalidade das ...

Álbum duplo com trilha de musical baseado na obra de Chico impressiona

Com o habitual apuro das edições da gravadora Biscoito Fino, chega às lojas ‘Todos os musicais de Chico Buarque em 90 minutos’. Recriando em estúdio a trilha sonora do festejado musical assinado pela dupla Charles Möeller e Claudio Botelho, o álbum duplo impressiona ao compilar em 40 faixas 44 composições da rica obra autoral de Chico feita para as telas de cinema e televisão e para os palcos. Entre clássicos como ‘Samba do grande amor’ (‘Para viver um grande amor’, 1983), ‘O meu amor’ (Ópera do malandro’, 1977) e ‘Sob medida’ (‘República dos assassinos’, 1979), o fino repertório inclui ainda a menos conhecida ‘Invicta’, da peça ‘Suburbano coração’, de 1989. Criado para celebrar os 70 anos do compositor carioca, completados em julho deste ano, o musical traz atores-cantores incumbidos da árdua tarefa de recriar canções que já mereceram registros definitivos, como ‘Beatriz (‘O grande circo místico’, 1982) e ‘Teresinha’ (‘Ópera do malandro’, 1977). As mulheres se destacam: o canto lím...

'Passado de glória' marca os 80 anos de Monarco com samba nobre

Idealizado para as comemorações das oito décadas de vida do portelense Hildemar Diniz, completadas no dia 17 de agosto de 2013, o CD ‘Passado de glória – Monarco 80 anos’ chega ao público sob o patrocínio do projeto Natura Musical. Alicerçado na poesia e na melodia de outra época, quando o bom samba permanecia na quadra das escolas de samba além do Carnaval, o disco se impõe como item essencial para os amantes do samba genuíno. Tal qual a grandeza da amada agremiação de Oswaldo Cruz, ‘Passado de glória’ reúne uma respeitável turma de bambas. Dos músicos do quilate de Cláudio Jorge (violão de 6), Carlinhos 7 Cordas (violão de 7), Paulão 7 Cordas (violão de 7), Marcelinho Moreira (tamborim, frigideira, caixa), Marcos Esguleba (tantã, pandeiro, tamborim, reco-reco, mola, caixa), Dirceu Leite (clarineta, flauta, pícollo) e Felipe D’Angola (tamborim, surdo, ganzá), passando pelo coro de Ana Costa, Nilze Carvalho, Alfredo Del Penho e Pedro Miranda, às participações especiais, tudo contrib...

'Pássaros urbanos' expõe o canto maduro de Fagner

Raimundo Fagner lançou seu primeiro LP em 1973. ‘Manera, fru-fru, manera’, disco que trazia ‘Canteiros’ (Cecília Meireles/ Fagner) e ‘Mucuripe’ (Belchior/ Fagner), futuros sucessos do jovem cantor e compositor cearense. Gravada por Elis Regina (1945 – 1982) um ano antes e por Roberto Carlos dois anos depois, ‘Mucuripe’ apontava o surgimento de uma nova e promissora leva de artistas nordestinos na cena musical brasileira. Quatro décadas mais tarde, Fagner registra ‘Paralelas’, um dos clássicos do antigo parceiro, em seu 37º disco, ‘Pássaros urbanos’. A tocante faixa assinala o tom romântico da maioria das canções do álbum produzido por Michael Sullivan para a gravadora Sony Music. Coautor de ‘Deslizes’, marco da fase mais popular da carreira de Fagner, Sullivan posiciona ‘Pássaros urbanos’ em algum lugar entre as décadas de 1980 e 1990 – fase áurea da dupla formada com Paulo Massadas – e a sonoridade contemporânea. Não por acaso, ele assina com Anayle Lima a faixa mais fraca do CD, ‘...

Luiz Melodia volta ao samba e outras bossas no CD 'Zerima'

Autor de clássicos do repertório de Gal Costa (‘Pérola Negra’, 1971) e Maria Bethânia (‘Estácio Holly Estácio’, 1972), Luiz Melodia surgiu na década de 1970 como um novo sambista vindo do berço de Ismael Silva (1905 – 1978). Mas o cantor do Morro de São Carlos, bairro do Estácio, logo se mostrou arredio à categorização limitadora, afinal, sua voz, cujo timbre se equilibra entre o cortante e o aveludado, se prestava a voos para além dos terreiros e fundos de quintais cariocas. Como consequência, Melodia dividiu com outros artistas igualmente refratários aos esquemas preconcebidos pelas gravadoras, o título de “maldito” – o que de certa forma pode ter prejudicado sua discografia. A partir da estreia impecável, com o álbum ‘Pérola negra’ (1973), Luiz viu sua carreira fonográfica, volta e meia ser pontuada por regravações e novas tentativas de enquadramentos. Seu primeiro e único disco de ouro veio apenas em 1999, com o CD ‘Acústico ao vivo’ (Índie Records), quando, não por acaso, revis...