Em
2013 as paradas de sucesso foram dominadas pela tríade sertanejo-pagode-funk,
não por acaso gêneros musicais que passam por notória simbiose. O estilo de
interpretação oriundo do gospel norte-americano virou modelo ideal entre os
candidatos ao estrelato musical e a indústria fonográfica remanescente repetiu
a receita dos manjados projetos caça-níqueis travestidos de homenagem. Em outra
ponta foram lançados incontáveis CDs de nomes da chamada cena indie, impulsionados pelas facilidades
das tecnologias atuais, principalmente a internet. Dani Black, Toni Ferreira e
Tulipa Ruiz, promissores representantes da nova geração notadamente
influenciada pela MPB, conquistaram mais visibilidade.
Meses
antes da realeza da mesma MPB ter seu brilho embaçado por um inacreditável
flerte com a velha e temível censura, Ney Matogrosso estreou ‘Atento aos
sinais’, impactante espetáculo no qual mirou a produção de alguns dos novos
nomes da cena musical brasileira e, de quebra pescou ‘Roendo as unhas’, pérola
menos conhecida de Paulinho da Viola. Na contramão da cartilha seguida pelas
gravadoras, o consagrado cantor testou em incendiárias apresentações as músicas
que constituem o álbum homônimo lançado em novembro. O fim de ano também trouxe
‘Água lusa’, novo disco de Jussara Silveira. Mineira de nascimento, baiana por
criação, a grande cantora vem construindo luminosa discografia iniciada em
1997, que tem no álbum dedicado às canções portuguesas assinadas por Tiago
Torres da Silva mais uma joia. Registro emocionante, ‘Água lusa’ é rara
conjunção perfeita entre música, intérprete e instrumentistas, como se pode
comprovar em faixas como ‘O mar fala de ti’ (Ernesto Leite/Tiago Torres da
Silva) e ‘Uma canção por acaso’ (Pedro Jóia/Tiago Torres da Silva).
2013 também foi ano em que o ABC do samba esteve em
evidência. Alcione ratificou a eterna alegria do gênero lançando um disco menos
romântico e mais sincopado, Beth Carvalho voltou à ativa depois de longa
ausência causada por problemas de saúde e Clara Nunes foi lembrada pelas três décadas
de sua morte. Zeca Pagodinho festejou seus trinta anos de carreira e Dorina
rendeu homenagem ao saudoso Luiz Carlos da Vila em ótimo CD. Assim como a MPB,
o samba também passou longe das paradas musicais, mas seu nome é também resistência
e, a julgar pelos próximos discos anunciados de artistas novos e antigos, terá
merecido destaque em 2014.
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