Voz
de muitas águas, Jussara Silveira volta a atravessar o Atlântico em seu novo
álbum ‘Água lusa – Jussara Silveira canta Tiago Torres da Silva’ (Dubas Música/Universal
Music). Após o belo ‘Flor bailarina – Canções de Angola’, no qual interpreta a
música de compositores angolanos, a cantora mergulha nos mares do mais icônico
gênero musical português, o fado. Sereia das mais melodiosas da música popular
brasileira, Jussara derrama sua voz de aparente calmaria sobre os temas do
escritor lisboeta Tiago Torres da Silva, compositor gravado por nomes do
chamado ‘Novo fado’ de Portugal, com o habitual requinte, que permeia sua
irretocável discografia.
Em
vibrantes interpretações, de tons elevados em instantes precisos, Jussara
imprime a esperada carga dramática característica do fado tradicional, que
influencia a música portuguesa contemporânea. A cantora beira a perfeição em ‘O
mar fala de ti’ (Ernesto Leite/Tiago Torres da Silva), acompanhada pelo piano e
o acordeão de Filipe Raposo. Outro momento iluminado é ‘Uma canção por acaso’ (Pedro
Jóia/Tiago Torres da Silva), preciosidade já registrada por Mônica
Salmaso, em participação especial no CD ‘Jacarandá’, de Pedro Jóia; e por Ney
Matogrosso, em ‘Canto em qualquer canto’ (2005).
Reconhecido
guitarrista lusitano em terras brasileiras, Pedro Jóia assina a produção, a
direção e os arranjos, que contribuem para a emocionante viagem musical, que
começa com um pedido de licença aos mais tradicionalistas em ‘Na companhia de
fadistas’ (Fado margaridas)’ (Miguel Ramos/Tiago Torres da Silva): “Sei que não
sou do fado por nascença/ E só posso ser por condição”, canta a mineira criada
na Bahia. ‘Vou num Rio’ (Fado Licas)’ (Armando Machado/Tiago Torres da Silva),
‘Meu amor abre a janela (Fado Santa Luzia) (Armando Machado/Tiago Torres da
Silva) e ‘Sereia’ (Fado menor do Porto) (Jaime Cavalheiro/Tiago Torres da
Silva) seguem a corrente do fado clássico, que ainda ecoa em faixas como
‘Voltarei à minha terra’ (Armandinho/Tiago Torres da Silva) e na contagiante
‘Cantiga do ladrão’ (Rão Kyad/Tiago Torres da Silva).
Inesgotável
fonte de inspiração, o mar, cantado por Jussara nos discos ‘Canções de Caymmi’
(1998) e ‘Entre o amor e o mar’ (2006), é o mote de novo encantamento em ‘O
nome do mar’ (Rui Veloso/Tiago Torres da Silva), faixa em que ela se encontra novamente
na companhia do excelente pianista Filipe Raposo. Os músicos Edu Miranda
(bandolim/baixo acústico) e Ruca Rebordão (percussão) completam o competente
time de músicos recrutados para o álbum.
‘Beijo
alentejano’ (Carlos Gonçalves/Tiago Torres da Silva) reforça a imagem sedutora
das gentes e terras portuguesas, enquanto a delicada ‘Quase a amanhecer’ (Pedro
Jóia/Tiago Torres da Silva) encerra a comovente viagem promovida por Jussara
Silveira, voz singular que lava nossa alma brasileira com sua ‘Água lusa’
Comentários