Pular para o conteúdo principal

Carla Visi reaparece com o CD 'Pura claridade', tributo à Clara Nunes


Com passagens pelas bandas Cia. Clic e Cheiro de Amor, nos anos 1990, a baiana Carla Visi põe sua boa e melodiosa voz a serviço de (mais um) tributo à Clara Nunes (1942 – 1983), neste ano que marca as três décadas da morte da Guerreira. ‘Pura Claridade’ (MHP Música/ Sony Music) apresenta repertório composto por regravações de uma faixa de cada álbum lançado por Clara, além dos sambas ‘Mineira’ (João Nogueira/ Paulo César Pinheiro, 1975) e ‘Um ser de luz’ (João Nogueira/ Mauro Duarte/ Paulo César Pinheiro, 1983). Inspiradas em momentos dolorosamente tão distintos, vida e morte da sambista, as composições respectivamente abrem e encerram o CD.
Com arranjos assinados por Izaias Marcelo, Pezinho, Didi Pinheiro, Jota Moraes e Rildo Hora, ‘Pura claridade’ aproxima a música (perene) de Clara Nunes do samba contemporâneo com seus tantãs e repiques, além do banjo e do cavaco se revezando como instrumentos-guias. Não por acaso, as faixas assinadas pelo experiente Rildo Hora são destaques: ‘Mineira’, ‘Canto das três raças’ (Mauro Duarte/ Paulo César Pinheiro, 1976) e ‘Guerreira’ (João Nogueira/ Paulo César Pinheiro, 1978) – como a conterrânea Mariene de Castro, Carla Visi também “ousa” dar voz à assinatura musical de Clara Nunes. Contudo, a produção de Izaias Marcelo visa claramente à sonoridade (ainda) mais palatável e explicita esta opção ao convocar cantores populares da atualidade para dividir algumas faixas com Carla. Se a nova sertaneja Paula Fernandes soa completamente deslocada – e empostada – em ‘Dia de esperança’ (Jorge Smera, 1966), os pagodeiros Pinha, Thiaguinho, Péricles e Xande de Pilares dão conta do recado em ‘Ê baiana’ (Baianinho/ Fabrício da Silva/ Miguel Pancrácio/ Ênio dos Santos Ribeiro, 1971), ‘Tristeza pé no chão’ (Armando Fernandes Mamão, 1973), ‘Canto das três raças’ e ‘Coração leviano’ (Paulinho da Viola, 1977), nesta ordem. Mas Carla se sai tão bem sozinha em faixas como ‘Foi ele’ (Carlos Imperial, 1969), que inevitavelmente a pergunta surge: precisava destas participações? Melhor é o encontro entre Visi e Daniela Mercury. A eterna rainha da Axé Music muda as divisões de ‘Morena de Angola’ (Chico Buarque, 1980), cujo arranjo mistura ijexá e samba reggae.
Quando foge da obviedade de reler clássicos (imbatíveis) de Clara, como ‘Conto de areia’ (Romildo/ Toninho, 1974), ‘O mar serenou’ (Candeia, 1975) e ‘Nação’ (João Bosco/ Aldir Blanc/Paulo Emílio, 1982), Carla acerta. Além da já citada ‘Foi ele’, a bela morena recria oportunamente ‘Tributo aos orixás’ (Mauro Duarte/ Noca da Portela/ Rubem Tavares, 1972), cujo tema, a saudação às entidades da Umbanda e do Candomblé, seria recorrente durante a carreira musical da mineira, filha de Ogum com Iansã.
Soteropolitana que se lançou em carreira solo com um interessante tributo à obra de Gilberto Gil, ‘Só chamei porque te amo’ (MZA Music, 2001), Carla Visi volta à cena mostrando que neste populoso país das cantoras, algumas injustamente não alcançam ou mantêm a visibilidade merecida.

Comentários

THIAGO BOLS disse…
UMA DAS CRÍTICAS MAIS PERTINENTES QUE LI, CONTUDO DISCORDO EM ALGUNS PONTOS... NÃO VOU ME ATER A OPINIÕES PESSOAIS PQ ISSO NÃO SE DISCUTE, MAS VALE UMA ANÁLISE TÉCNICA... NÃO CONSIGO COMPREENDER COMO FALAR DE SAIR DA OBVIEDADE E ACHAR QUE PAULA FERNANDES DEVERIA ABRIR MÃO DA SUA CARACTERÍSTICA SERTANEJA...ACHEI UMA EXPERIÊNCIA RIQUÍSSIMA MUSICALMENTE, INUSITADA E NEM DE LONGE DESLOCADA...ATÉ POR SE TRATAR DE UM SAMBA CANÇÃO... OQ CASA MUITO BEM COM O ASPECTO LAMENTOSO...CHOROSO DA VOZ DE PAULA FERNANDES. OQ SERIA ENTÃO DE DALVA DE OLIVEIRA E OUTROS QUE CANTAVAM COM A EMISSÃO EXTREMAMENTE ERUDITAS?... OQ SERIA DAKELAS CANÇÕES SEM A BELA IMPOSTAÇÃO? JÁ DANIELA MERCURY, MESMO CONSTRUINDO UMA BOA INTERPRETAÇÃO TRAZENDO A VOZ PARA A REGIÃO DA FALA, BRINCANDO COM O TEMPO DA MÚSICA....MOSTRA UMA VOZ DEFASADA, SEM AGILIDADE E ELASTICIDADE, POUCO SAUDÁVEL E OPACA... SÓ PRA DEIXAR CLARO...NÃO TENHO SE QUER SIMPATIA PELA PAULA FERNANDES, JÁ POR DANIELA MERCURY TENHO MUITO RESPEITO PELA GRANDE ARTISTA. MAS SOU ESTUDANDO DE CANTO ERUDITO...PORTANTO, A VOZ, O TIMBRE... E A SUA SONORIDADE SEMPRE É MEU MAIOR OBJETO DE PESQUISA. DE RESTO, ACHEI A CRÍTICA EXCELENTE!PRINCIPALMENTE QNDO VC DIZ QUE CARLA VISI SE SAIU MUITO BEM SOZINHA E NEM PRECISARIA DOS CONVIDADOS.

Postagens mais visitadas deste blog

Joias musicais de Gilberto Gil são reeditadas

               A Universal Music reabre seu baú de preciosidades. Desta vez, a dona do maior acervo musical do país, traz duas joias do cantor, compositor e violonista Gilberto Passos Gil Moreira, recentemente eleito imortal pela Academia Brasileira de Letras. De 1971, o disco londrino, ‘Gilberto Gil’, reaparece em nova edição em vinil, enquanto ‘Refestança’, registro do histórico encontro de Gil e Rita Lee, de 1977, finalmente ganha versão digital.             Gravado durante o exílio do artista baiano em Londres, o quarto LP de estúdio de Gilberto Gil foi produzido por Ralph Mace para o selo Famous e editado no Brasil pela Philips, atual Universal Music. O produtor inglês também trabalhava com Caetano Veloso, que havia lançado seu primeiro disco de exílio no mesmo ano. Contrastando com a melancolia expressada por Caetano, Gil fez um álbum mais equilibrado, dosando as saudades do Brasil...

50 anos de Claridade

Clara Nunes (1942 – 1983) viu sua carreira deslanchar na década de 1970, quando trocou os boleros e um romantismo acentuado pela cadência bonita do samba, uma mudança idealizada pelo radialista e produtor musical Adelzon Alves. Depois do sucesso do LP ‘Alvorecer’, de 1974, impulsionado pelas faixas ‘Menino deus’ (Mauro Duarte/ Paulo César Pinheiro), ‘Alvorecer’ (Délcio Carvalho/ Ivone Lara) e ‘Conto de areia’ (Romildo/ Toninho Nascimento), a cantora mineira reafirmou sua consagração popular com o álbum ‘Claridade’. Lançado em 1975, este disco vendeu 600 mil cópias, um feito excepcional para um disco de samba, para uma cantora e, sobretudo, para um disco de samba de uma cantora. Traço marcante na trajetória artística e na vida de Clara Nunes, o sincretismo religioso está presente nas faixas ‘O mar serenou’ (Candeia) e ‘A deusa dos orixás’, do pernambucano Romildo e do paraense Toninho Nascimento, os mesmos autores de ‘Conto de areia’. Eles frequentavam o célebre programa no qual Adelzon...

Atrás do Trio Elétrico*

A menos de dois meses do Carnaval, os ensaios técnicos na Marquês de Sapucaí e nas quadras das escolas de samba bombam e os blocos de rua se preparam. Mas existe uma turma de foliões que foge da batucada carioca, preferindo o agito baiano, embalados pelos trios elétricos. “Se você for sozinho vai encontrar muito carioca por lá”, diz o comerciante Roberto Alves, 32 anos, apaixonado pelo Carnaval da Bahia. Para ele, falta a organização na folia do Rio. “Fiquei aqui em 2008 e detestei”, conta o moço que participou de sua primeira micareta (Carnaval fora de época) em 1996, em Belo Horizonte. “Tenho uns cem abadás”, gaba-se Roberto, que já garantiu mais alguns para este ano. Outro carioca, Rodrigo Carvalho, 28 anos, começou a pagar pelos abadás em março do ano passado. “Vou para Salvador há quatro anos seguidos. O clima é ótimo, não é pesado como nas raves”, compara ele, que dividirá um apartamento com 14 amigos durante a folia dos trios. “O mais requisitado é o Me Abraça, o abadá cu...