Para comemorar os trinta anos de carreira, contados a
partir da participação no disco ‘Suor no rosto’, de Beth Carvalho, Zeca
Pagodinho deixou de lado a ideia de rever sua obra – como ‘Camarão que dorme a
onda leva’, parceria com Arlindo Cruz e Beto Sem Braço, gravada em dueto com a
madrinha Beth, em 1983. O sambista resolveu dar voz a antigos clássicos no CD/
DVD ‘Multishow ao Vivo — 30 anos —
Vida que segue’. A impecável produção assinada por Max Pierre (áudio) e Joana
Mazzucchelli (vídeo) lançada pela gravadora Universal Music impressiona. O time
de convidados especiais e a bonita cenografia assinada por May Martins contribuem
para a beleza do projeto que mantém o artista em sua zona de conforto.
Embora tenha momentos
inspirados, como ‘Gosto que me enrosco’ (Sinhô, 1929), número que conta com a
participação especial dos virtuoses Yamandú Costa (violão 7 cordas) e Hamilton
de Holanda (bandolim), ‘Mascarada’ (Zé Keti/ Elton Medeiros, 1965) e ‘Só o ôme’
(Edenal Rodrigues, 1968), nos quais Zeca confirma a evolução vocal detectada no CD
‘Vida da minha vida’ (2010), o roteiro de
‘Multishow ao Vivo — 30 anos — Vida que segue’ soa preguiçoso. Nem as
espertas divisões de Pagodinho disfarçam a obviedade na escolha de músicas como
‘Foi um rio que passou em minha vida’ (Paulinho da Viola, 1970), com as ilustres presenças de Paulinho da Viola e da Velha Guarda da Portela, e ‘Aquarela
brasileira’ (Silas de Oliveira, 1964), icônico samba do Império Serrano. Outra
portelense convidada é Marisa Monte, que rebobina ‘Preciso me encontrar’
(Candeia’, 1976) sem a força de sua primeira gravação, no disco MM (1989). Nem
sempre o recurso de ralentar uma canção significa ganho de intensidade
interpretativa. Em contrapartida, o ancestral ‘Batuque na cozinha’, lançado por
João da baiana em 1968, contagia o anfitrião e o convidado Leandro Sapuchay
graças ao arranjo sincopado.
Acertando ainda em
outros momentos, como ‘Opinião’ (Zé Keti, 1964) e ‘Pimenta no vatapá’ (Claudio
Jorge/ João Nogueira, 1976), o intérprete Zeca Pagodinho festeja seus merecidos
trinta anos de sucesso. Vamos torcer para que os festejos animem também o boêmio
compositor do Irajá. Quem sabe ele reaparece no próximo trabalho?
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