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Elba Ramalho volta à bem sucedida receita no CD 'Vambora lá dançar'



Elba Ramalho alcançou o auge de sua popularidade na década de 1980, quando discos como ‘Coração brasileiro’ (1983), ‘Do jeito que a gente gosta’ (1984) e ‘Fogo na mistura’ (1985) venderam milhares de cópias graças a sucessos como ‘Banho de cheiro’, ‘Toque de fole’, ‘Ai que saudade de ocê’, ‘Do jeito que a gente gosta’ e ‘De volta pro aconchego’. Alçada ao panteão das grandes intérpretes brasileiras, Elba viu seu canto estridente de ave do sertão repercutir nas programações das rádios, então menos segmentadas e menos caretas. Ao lançar seu trigésimo primeiro álbum, ‘Vambora lá dançar’ (Saladesom Record), a cantora paraibana volta àquela bem sucedida receita, no repertório que reúne forró bem animado, xote romântico, maracatu e bumba-meu-boi estilizados, embalados pelos arranjos de Zé Américo Bastos e Cezinha do Acordeom. Baixaria eletrônica, sintetizadores e guitarras interagem com sanfona, zabumba e triângulo, criando uma sonoridade interessante e convidativa.
Transitando por uma zona confortável, explorando mais as regiões graves, cada vez mais distante do canto rasgado de outrora, Elba permanece imbatível quando o assunto é levantar a poeira do salão. A discípula de Marinês (1935 – 2007) se sai muito bem nas animadas ‘Não chora, não chora não’ (Petrúcio Amorim), ‘Deitar e rolar’ e ‘Tu de lá, eu de cá’, assinadas pelo casal de compositores Antônio Barros e Cecéu. O bate-coxa continua firme em ‘Na rede’ (Nando Cordel) e ‘Forró brasileiro’ (Cezinha/ Fábio Simões), faixas que dificilmente serão programadas nas rádios, do eixo Rio-São Paulo, nas quais Elba (ainda) é vista como cantora “regional” – como todas não o fossem.
O xote conseguiu furar o bloqueio – leia-se preconceito dos radialistas contemporâneos – quando se travestiu de forró universitário no final dos anos 1990. Se os grupos surgidos naquela época se perderam na poeira da estrada dos modismos, o gênero musical mais palatável (para esses profissionais) permanece nas programações. Caso de ‘Por que tem que ser assim?’ (Chico Pessoa/ Cezinha), faixa de ‘Vambora lá dançar’ em rotação nas emissoras cariocas. Elba transforma em xote a tristonha ‘Onde Deus possa me ouvir’ (Vander Lee), gravada por Gal Costa no CD ‘Bossa tropical’ (2002), o mesmo da romântica ‘Quando fecho os olhos’ (Chico César/ Carlos Rennó), cujo resultado soa mais satisfatório. Com sinceridade e delicadeza, ela também visita ‘Mucuripe’ (Fagner/ Belchior), contudo sua gravação fica aquém do emocionante registro de Fagner. A leoa nordestina arrasa mesmo nas regravações de ‘Embolar na areia’ (Herbert Azul) e de ‘Frevo meio envergonhado’ (Monique Kessous), de onde vem o verso que nomeia o disco. O romantismo ainda dá o tom em ‘Minha vida é te amar’, que leva a assinatura de Dominguinhos e de Nando Cordel, autores de ‘De volta pro aconchego’, maior sucesso da cantora. O coração brasileiro de Elba Ramalho continua batendo no ritmo do nordeste, do jeito que a gente gosta. Vambora lá dançar?

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