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Mostrando postagens de dezembro, 2012

Música, música...

Os mais diferentes estilos da música popular brasileira conviveram intensamente em 2012. Se a televisão buscou a trilha musical popularesca para suas novelas e programas de auditório, o cinema deu ao público pelo menos uma joia: o belíssimo documentário ‘A música segundo Tom Jobim’ .  Chico Buarque e Gal Costa iniciaram as vitoriosas turnês de lançamento dos álbuns ‘Chico’ e ‘Recanto’ . Caetano Veloso continuou apontando “diversas harmonias possíveis sem juízo final” em ‘Abraçaço’ , e uma nova força baiana, Mariene de Castro, chegou ao Rio de Janeiro arrebatando o público em apresentações vulcânicas. O fim do CD, anunciado e garantido por muita gente, foi adiado mais uma vez. Graças aos quase 2 milhões de súditos de Roberto Carlos que, motivados pelo sucesso ‘Esse cara sou eu’, mostraram que o compact disc pode ter vida (mais) longa. A gravadora Joia Moderna pôs na praça novos trabalhos de Célia e Amelinha , além de um belo tributo à obra de Guilherme Arantes , entre outr...

'Pra mim você é lindo' traz Katia B em sua melhor forma

A carioca Katia B chega ao quarto disco de sua bissexta discografia em sua melhor forma, conjugando diferentes vertentes da música popular brasileira – e até mesmo a principal canção de uma opereta iídiche de 1932, cujo verso traduzido dá nome ao disco: Bei Mir Bistu Du Shon  (Sholom Secunda e Jacob Jacobs) – ‘Pra mim você é lindo’. A cantora, que também produziu o CD ao lado de Bernardo Bosísio, ainda exercita o inglês ( Where is your? ) e o francês ( Le temps de I’amour , de Dutronc, Morisse e Salvet) em boas interpretações. Katia B(ronstein) atua em um setor da MPB nem sempre assimilável para o chamado grande público, uma elaborada música eletrônica distante dos clichês sonoros de remixes feitos para tocar no rádio. Ao canto econômico e sedutor, juntaram-se boas composições da artista como a linda ‘Aprendendo a viver’ (c/ Rubinho Jacobina), faixa que abre o disco.  O encanto permanece em ‘O baile’ (c/ Jam da Silva) e em ‘A tua vida é um segredo’, composição pouco co...

As novas mulheres de Péricles Cavalcanti

Concebido pelo DJ Zé Pedro, o CD ‘Mulheres de Péricles’, lançado este mês pela gravadora Joia Moderna, reúne 17 cantoras em 15 composições do artista carioca lançado por Gal Costa no disco ‘Temporada de verão’ (1974), com ‘Quem nasceu?’. A canção volta agora na voz de Laura Lavieri, que se sai bem longe do universo lúdico característico da obra de Marcelo Jeneci. Coprodutora da faixa, ao lado de Marcelo Callado, Nina Becker imprime delicadeza em ‘O céu e o som’, também lançada por Gal em 1974, no disco ‘Cantar’.  Do álbum ‘Caras e bocas’ (1977) vem o reggae ‘Clariô’, que ganha boa versão das cantoras Marietta Vidal e Miarah Rocha, embora a faixa produzida por Bruno Buarque e MAU não chegue perto da vivaz gravação da baiana, sobretudo do registro lançado em compacto duplo, que trazia também ‘Negro amor’. A versão em português assinada por Péricles e Caetano Veloso para It's All Over Now, Baby Blue  (Bob Dylan, 1965) é defendida por Karina Buhr, que acertadamente passa lon...

Na volta de Toni, Cidade Negra lança o fraco 'Hei, afro!'

‘Eu fui, voltei’, avisa Toni Garrido na faixa que abre ‘Hei, afro!’, CD que marca seu retorno ao Cidade Negra. A retórica supostamente engajada do agora power trio não consegue escamotear o festival de clichês assinados por Toni, Bino Farias e Lazão. Versos infantis como “Falar, até papagaio fala/ E garganta é bom com batata e agrião”, de ‘Só pra detonar’, “Se lembra do tempo da escravidão/ (o tempo não mudou) / levanta pra luta, comprar feijão”, da faixa-título, ou ainda “Posso até não ser rico/ dinheiro não é valor”, de ‘Mole de amor’, atestam a falta de criatividade pela qual os músicos passam. O que dizer de “perdemos o tato, depois o contato/ magia e mago estão no poder”, de ‘Contato’ (Toni/ Bino/ Lazão/ Alexandre Carlo)? Tampouco funciona a versão de ‘When love comes knockin’ (At your door)’ (Neil Sedaka/ Carole Bayer Sager), transformada em ‘Ninguém pode duvidar de Jah’. Tentando emular seus melhores momentos, o Cidade Negra mistura reggae e pop inconsistentes, sem alcan...

Bethânia surge bem acompanhada no DVD 'Noite luzidia'

Quando Maria Bethânia resolveu comemorar seus 35 anos de carreira em uma única apresentação no Canecão, a saudosa casa de espetáculos carioca, no dia 04 de setembro de 2001, sua aura de deidade intocável da MPB já estava cristalizada. A despeito das modestas vendagens de seus discos antecedentes, a cantora começava a conquistar um novo público que, junto com antigos fãs, constituíram a grande e fiel colmeia em volta da chamada “abelha rainha”. Saída há pouco tempo da gravadora EMI, por onde lançou o CD ‘Maricotinha’, Bethânia dava os primeiros passos em seu futuro castelo, a gravadora Biscoito Fino. Naquela noite memorável, idealizada pela empresária Maria Luisa Jucá, a baiana parecia genuinamente feliz ao receber artistas de diferentes quilates para relembrar seu passado e pontuar seu presente.   Entre Caetano Veloso (‘De manhã’, 1965), Gilberto Gil (‘Viramundo’, 1968, e ‘Lamento sertanejo’, 1974) e Chico Buarque (‘Sem fantasia’, 1968) seus principais compositores, Maria rece...

Olivia e Francis Hime preservam a delicadeza no CD 'Almamúsica - ao vivo'

Gravado em novembro de 2011 no Teatro Fecap, em São Paulo (SP), ‘Almamúsica – ao vivo’ reproduz no palco o clima intimista do delicado álbum homônimo , lançado por Olivia e Francis Hime no mesmo ano. Dividido em quadros, como são chamados por Francis os elegantes medleys temáticos, o show mantém o formado piano e voz(es). O roteiro visita a obra de Ary Barroso (1903 – 1962), Dorival Caymmi (1914 – 2008) e Vinicius de Moraes (1913 – 1980), entre outros grandes nomes da MPB, e incluiu também composições de artistas contemporâneos ao casal, como Caetano Veloso (‘Desde que o samba é samba’) e Chico Buarque (‘O que será – À flor da pele’). Da lavra de Francis Hime destaca-se ‘Existe um céu’, belíssima parceria com Geraldo Carneiro, já gravada por Simone. Conservando no espetáculo a intimidade que gerou o CD de estúdio, Olivia e Francis acertam novamente em ‘Almamúsica – ao vivo’ (Biscoito Fino).

Paulinho Boca de Cantor cai no forró

No ano do centenário de Luiz Gonzaga (1912 – 1989), a gravadora Biscoito Fino coloca nas lojas ‘Forró do Boca’, álbum que repõe em cena Paulinho Boca de Cantor. O baiano, que fez parte do grupo Novos Baianos, enfileira composições autorais e clássicos como ‘Na base da chinela’ (Jackson do Pandeiro/ Rosil Cavalcanti), ‘O xote das meninas’ (Zé Dantas/ Luiz Gonzaga) e ‘Sabiá’ (Zé Dantas/ Luiz Gonzaga) agrupados em pouts-pourris temáticos. Instrumento com o qual Gonzagão ensinou ao país como se dança o baião – e o xote, o coco e o xaxado, entre outros ritmos nordestinos –, a sanfona passeia pelas 14 faixas do CD de forma burocrática. Embora correto, o canto de Paulinho Boca de Cantor não chega a empolgar. Entre a mediana ‘Xote cardiovascular’ (Carlinhos Vergueiro/ Paulinho Boca/ Carlinhos Marques) e a equivocada ‘Seu preconceito’ (Luiz Caldas/ Paulinho Boca), o álbum carece do reconhecido vigor do velho Gonzaga, a quem a faixa ‘Se Seu Luiz tivesse vivo’ (Luiz Caldas/ Paulinho Boca) é...

Vergueiro volta aos temas autorais no CD 'Vida sonhada'

Após homenagear os ilustres parceiros Adoniran Barbosa (1910 – 1982) e Nelson Cavaquinho (1911 – 1986), Carlinhos Vergueiro coloca seus graves a serviço de temas autorais em ‘Vida sonhada’, álbum lançado pela gravadora Biscoito Fino. Produzido Aluízio Falcão, o CD apresenta bons sambas valorizados pelo piano de Amador Longhini Júnior, como ‘A seu dispor’ (Carlinhos Vergueiro) e ‘Samba da vida’ (Carlinhos Vergueiro/ J. Petrolino).  O ritmo carioca também dá o tom no eficiente ‘Sem refrão’ (Carlinhos Vergueiro/ Dora Vergueiro) e no mediano ‘Passa amanhã’ (Carlinhos Vergueiro/ Afonso Machado/ Dora Vergueiro). ‘Chorar sem fim’ (Carlinhos Vergueiro/ J. Petrolino) é interessante seresta com ares de fado, enquanto ‘Minha cabeça’ (Carlinhos Vergueiro), ‘Mina’ (Carlinhos Vergueiro/ J. Petrolino) e ‘Sempre’ (Carlinhos Vergueiro) trazem ecos da obra de Chico Buarque. A influência do parceiro de música e futebol também é perceptível em ‘Vida sonhada’ (Carlinhos Vergueiro/ J. Petrolino), bo...

Caetano Veloso segue arejando a MPB no CD 'Abraçaço'

“A bossa nova é foda”, sentencia Caetano Veloso na incisiva faixa que abre “Abraçaço”, seu 49º disco, lançado pela gravadora Universal Music. Completando a trilogia iniciada com ‘Cê’ (2006), seguida de ‘Zii e zie’ (2009), Caetano volta à áspera ambiência musical criada juntamente com Pedro Sá (guitarrista), Marcelo Callado (baterista) e Ricardo Dias Gomes (baixista) – a BandaCê – para restabelecer o experimentalismo dos últimos trabalhos, incluindo o (já) icônico álbum ‘Recanto’ (2011), de Gal Costa.  No jogo de palavras e charadas que constituem a ‘A bossa nova é foda’, Caetano provoca o ouvinte em versos como “diz que quando chegares aqui/ que é um dom que muito homem não tem/ que é influência do jazz", enquanto entroniza (uma vez mais) “o bruxo de Juazeiro”, João Gilberto, criador da famosa batida de violão que mudou timbres e rumos da música popular brasileira. Exercitando sua aptidão para a controvérsia, coloca no mesmo saco os célebres Vinicius de Moraes (1913  – ...