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'Memória da flor' expõe a bonita obra de Júnior Almeida



Quarto disco do cantor e compositor alagoano Júnior Almeida, ‘Memória da flor’ (MP’B Discos/ Universal Music) tem apenas dez faixas. Tal economia contribui para realçar a qualidade das composições do artista, que viu seu nome ser falado em 2009, quando Ney Matogrosso gravou ‘A cor do desejo’ (Jr. Almeida/ Ricardo Guima) no elogiado álbum/ show ‘Beijo bandido’. Em junho deste ano foi a vez de Mart’nália registrar ‘Os sinais’ (Jr. Almeida), uma das melhores faixas do CD ‘Não tente compreender’, produzido pelo alagoano Djavan.
Assinados pelo baixista Fernando Nunes, os arranjos de ‘Memória da flor’ valorizam as intensas ‘A poesia’ (Danielle Cândido/ Jr. Almeida) e ‘Pequenas misérias’ (Fernando Fiúza/ Jr. Almeida), além da faixa-título, cantada em dueto com Ney Matogrosso. O tom rural/ interiorano que atravessa ‘Catarina’ (Fernando Fiúza/ Jr. Almeida) e ‘Tal sol, tal homem, tal Maria’ (Jr. Almeida), com a participação da cantora Irina Costa, aproxima a música de Júnior da obra de outro nordestino, Geraldo Azevedo. Embora gravado satisfatoriamente, o quase-chorinho ‘Nem uma pétala’ (José Silva Ferreira/ Jr. Almeida) deixa a sensação de que uma voz feminina encheria de (mais) possibilidades – e encantos – a ensolarada letra. Sim, o cantor Júnior Almeida desempenha seu papel com precisão, ainda que não supere o inspirado compositor de tema como ‘O presente’ (Jr. Almeida).
Do primeiro CD, ‘A lua não pertence a ninguém’ (1999), ele regrava ‘Ser-te-ei teu’ (Ricardo Cabús/ Jr. Almeida) e encerra ‘Memória da flor’ com a beleza dos versos “Quando chegaste/ Tinha os olhos de sol se pondo na lagoa/ E então inauguraste em mim/ as miragens fatais”, de ‘Poema nº 8’ (Arriete Vilela/ Jr. Almeida). A poesia e a música de Júnior de Almeida merecem mais vozes e, principalmente mais ouvintes.

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