Fã confessa da obra de Fátima Guedes, a
cantora e compositora Fhernanda Fernandes apresentou na noite de 28 de novembro
de 2012, no Teatro Rival Petrobrás, na Cinelândia (RJ), o show baseado no CD
‘Passional – As canções de Fátima Guedes’, recém-lançado pela gravadora Joia
Moderna. Apresentadas ao grande público no mesmo Festival MPB/Shell, em 1980,
as artistas tem em comum a elevada carga dramática que caracteriza determinada
época da MPB.
Vertidas para tango, samba-canção e blues pelos
novos arranjos de Felipe Poli, ‘Cara a máscara’ (1979), ‘Passional’ (1979) e
‘Não te amo mais’ (1985) encontram na encorpada voz de Fhernanda a intérprete
adequada. Seu timbre límpido de contralto também valoriza a mais recente ‘E
agora?’ (2003), embora careça de um pouco mais de intensidade em ‘Tanto que
aprendi de amor’ (1980), canção impecavelmente gravada por Alcione no CD
‘Promessa’ (1991).
Outro bom momento da noite, o dueto com
Fátima Guedes em ‘Dor medonha’ (1980), transformada em fado pelo bandolim de
Pedro Braga, ratificou a oportuna homenagem de Fhernanda. Gravada por Maria Bethânia no disco ‘25 anos’
(1990), ‘Flor de ir embora’ teve sua melancolia mantida pelo bonito arranjo e
pela sentimental interpretação de Fhernanda, o que não se repetiu em
‘Desacostumei de carinho’, eternamente vinculada a voz de Nana Caymmi.
‘Paladar’ (1980) e ‘Franqueza’ (1981) são exemplos que confirmam a vocação de Fátima
Guedes para transformar em música as famosas discussões do relacionamento
amoroso – terreno movediço no qual muitas compositoras atuais vêm edificando suas
obras sem, contudo, mostrarem a habilidade de Fátima em fugir do lugar-comum. Sua
forte assinatura musical se impõe até mesmo na parceria (É sério’, 1999) com
outro artista de obra singular como Djavan. Presentes no CD, as intensas
‘Celeste’ (1981) e ‘Absinto’ (1983) também integram o roteiro do show.
Fhernanda mostrou ainda fases distintas de
sua produção autoral nos números ‘Capitão de mim’ (com Luly Linhares, 2007),
‘Definitivamente’ (com Isolda, 2001) e ‘Gosto de hortelã’ (com Isolda, 1991),
acompanhada pelo caloroso público presente no tradicional teatro do Rio de
Janeiro. Ao aceitar o convite/desafio do
DJ Zé Pedro para lançar um novo disco enfatizando seu lado de intérprete, Fhernanda
Fernandes acertou na escolha do repertório, valorizado por sua boa técnica e
pela dose (quase sempre) exata de emoção. Contando mais de trinta anos de
carreira, a artista carioca vive um especial momento que se reflete no
palco.
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