Pular para o conteúdo principal

Ivete não decepciona seu público com o CD 'Real fantasia'

“Podem vir as congas/ Os timbales e os trompetes”, convida Ivete Sangalo em ‘Delira na guajira’ (Samir/ Fábio Alcântara), faixa de ‘Real fantasia’, seu novo disco lançado pela gravadora Universal Music. O sotaque latino decalcado do ritmo cubano é “novidade” entre os ingredientes do caldeirão de ritmos da cantora. Seguindo a receita testada – e aprovada – por anos, Ivete não arrisca: salsa, merengue, reggae, dance music, samba-rock e até mesmo o original samba-reggae, incrementados pela percussão baiana característica, compõem o inédito e fraco repertório da artista.
Após o ambicioso projeto ‘Multishow ao Vivo – Ivete Sangalo no Madison Square Garden’, gravado na famosa casa nova-iorquina, mirando uma possível ascensão internacional (sobretudo nos países de língua anglo-saxônica), Ivete se volta para o público latino-americano. ‘Vejo o sol e a lua’ (Ramon Cruz) e ‘Puxa, puxa’ (Fabinho O´Brian/ Rubem Tavares/ Duller) são impregnadas de latinidade de boutique e banalidade. Ainda neste clima, os inacreditáveis versos de ‘Dançando’ (Filipe Escandurras/ Márcio Victor/ Tierry Coringa), como “O ritmo me consome/ Vive em meu abdômen”, soam constrangedores até mesmo para quem está acostumada a mandar a galera tirar os pés do chão em suas entusiasmadas apresentações. No quesito “pipoca”, a faixa ‘Real fantasia’ (Magary Lord/ Jorginho/ Codó Lima/ Fábio Alcântara), incrementada pela incendiária guitarra de Armandinho, certamente está credenciada para a próxima folia baiana, assim como a autorreferente ‘No meio do povão’ (Rubem Tavares/ Jorginho), dos versos “Avisa que Ivetinha tá passando/ O povo vai descer pra ver”. O padrão populista se mantém em ‘Balançando diferente’ (Gigi/ Fabinho O’Brian/ Ivan Brasil/ Magno Sant’Anna) e na romântica ‘Essa distância’ (Gigi), faixa de acento disco.
A proximidade de grandes compositores da MPB, como Caetano Veloso e Gilberto, com quem dividiu um especial de TV em dezembro de 2011, parece não seduzir Ivete Sangalo. Talvez por isso ela coloque sua boa voz a serviço de tolices como ‘Só nós dois’ (Ramon Cruz/ Ivete Sangalo) e de baladas açucaradas como ‘No brilho desse olhar’ (Dan Kambaiah/ Davi Salles), ‘Só num sonho’ (Ivete Sangalo/ Radamés Venâncio/ Gigi), ‘Isso não se faz’ (Tonny Carqueija/ Rafael Cavalo/ Ramon Cruz) e ‘Eu nunca amei alguém como eu te amei (Paulo Sergio Valle/ Eduardo Lages). Gravada para a trilha sonora da novela ‘Gabriela’, ‘Me levem embora’ (Dori Caymmi/Jorge Amado) deixa pistas sobre a interessante intérprete que Ivete pode(ria) ser. Ainda assim, a aparente franqueza nas escolhas, aliada ao carisma inegável mantêm a morena no topo da popularidade, afinal Ivete Sangalo sabe falar a língua de um público cada vez maior.

Comentários

Postagens mais visitadas deste blog

Joias musicais de Gilberto Gil são reeditadas

               A Universal Music reabre seu baú de preciosidades. Desta vez, a dona do maior acervo musical do país, traz duas joias do cantor, compositor e violonista Gilberto Passos Gil Moreira, recentemente eleito imortal pela Academia Brasileira de Letras. De 1971, o disco londrino, ‘Gilberto Gil’, reaparece em nova edição em vinil, enquanto ‘Refestança’, registro do histórico encontro de Gil e Rita Lee, de 1977, finalmente ganha versão digital.             Gravado durante o exílio do artista baiano em Londres, o quarto LP de estúdio de Gilberto Gil foi produzido por Ralph Mace para o selo Famous e editado no Brasil pela Philips, atual Universal Music. O produtor inglês também trabalhava com Caetano Veloso, que havia lançado seu primeiro disco de exílio no mesmo ano. Contrastando com a melancolia expressada por Caetano, Gil fez um álbum mais equilibrado, dosando as saudades do Brasil...

50 anos de Claridade

Clara Nunes (1942 – 1983) viu sua carreira deslanchar na década de 1970, quando trocou os boleros e um romantismo acentuado pela cadência bonita do samba, uma mudança idealizada pelo radialista e produtor musical Adelzon Alves. Depois do sucesso do LP ‘Alvorecer’, de 1974, impulsionado pelas faixas ‘Menino deus’ (Mauro Duarte/ Paulo César Pinheiro), ‘Alvorecer’ (Délcio Carvalho/ Ivone Lara) e ‘Conto de areia’ (Romildo/ Toninho Nascimento), a cantora mineira reafirmou sua consagração popular com o álbum ‘Claridade’. Lançado em 1975, este disco vendeu 600 mil cópias, um feito excepcional para um disco de samba, para uma cantora e, sobretudo, para um disco de samba de uma cantora. Traço marcante na trajetória artística e na vida de Clara Nunes, o sincretismo religioso está presente nas faixas ‘O mar serenou’ (Candeia) e ‘A deusa dos orixás’, do pernambucano Romildo e do paraense Toninho Nascimento, os mesmos autores de ‘Conto de areia’. Eles frequentavam o célebre programa no qual Adelzon...

Atrás do Trio Elétrico*

A menos de dois meses do Carnaval, os ensaios técnicos na Marquês de Sapucaí e nas quadras das escolas de samba bombam e os blocos de rua se preparam. Mas existe uma turma de foliões que foge da batucada carioca, preferindo o agito baiano, embalados pelos trios elétricos. “Se você for sozinho vai encontrar muito carioca por lá”, diz o comerciante Roberto Alves, 32 anos, apaixonado pelo Carnaval da Bahia. Para ele, falta a organização na folia do Rio. “Fiquei aqui em 2008 e detestei”, conta o moço que participou de sua primeira micareta (Carnaval fora de época) em 1996, em Belo Horizonte. “Tenho uns cem abadás”, gaba-se Roberto, que já garantiu mais alguns para este ano. Outro carioca, Rodrigo Carvalho, 28 anos, começou a pagar pelos abadás em março do ano passado. “Vou para Salvador há quatro anos seguidos. O clima é ótimo, não é pesado como nas raves”, compara ele, que dividirá um apartamento com 14 amigos durante a folia dos trios. “O mais requisitado é o Me Abraça, o abadá cu...