Após dar voz a outros autores em ‘Ária’
(2010), Djavan volta a interpretar sua própria obra em ‘Rua dos amores’, álbum
lançado pela Luanda Records, com distribuição da Universal Music. Primeiro
disco de inéditas desde ‘Matizes’ (2007), ‘Rua dos amores’ é o resultado de um intenso momento autoral do artista alagoano: além das treze músicas, Djavan também assina a produção e os arranjos do
disco. Evidenciando a sofisticação melódica e o senso rítmico que fazem o
compositor dispor das palavras de um jeito peculiar, o vigésimo-primeiro CD de
Djavan traz (re)conhecidas características de sua obra, como os elementos
jazzísticos, realçados por excelentes músicos como Carlos Bala (baterista),
Marcelo Mariano (baixo), Torquato Mariano (guitarra/ violão) e Paulo Calasans
(teclado).
O romantismo que inspirou sucessos como
‘Pétala’ (1982) e ‘Oceano’ (1989) dá o tom da trilha sonora desta “Rua”, por
onde também passa a crítica política (‘Pode esquecer’). Mas são os diversos
estágios do amor – desde o seu surgimento (‘Quinze anos’ e ‘Reverberou’) até o seu
fim (‘Já não somos dois’) – o mote das demais faixas, com resultados quase
sempre satisfatórios, ainda que a poesia de ‘Anjo de vidro’ e
‘Triste é o cara’, por exemplo, não empolgue à primeira audição. Certamente o balanço
de ‘Acerto de contas’ e o suingue de ‘Pecado’ cairão no gosto dos fãs mais
saudosos dos sambas tão habituais no início da carreira do artista.
Escolhida para divulgar o disco, a
tristonha ‘Bangalô’ apresenta sonoridade bluesy
que remete a ‘Outono’, faixa do CD ‘Coisa de acender’ (1992), embora não
alcance o envolvente resultado desta. O bissexto discurso feminino de ‘Ares
sutis’ quase passa despercebido, mas versos como “Jamais usei/ sapatos tão
peculiares/ andei vestida por colares mis” o entregam.
Gravada por Maria Bethânia em seu
‘Oásis’, a balada romântica ‘Vive’ é o destaque de ‘Rua dos amores’. Prolongando
determinados versos, atenuando o papo reto da discussão amorosa, Djavan destila
elegância e sofisticação. O belíssimo arranjo contribui para o clima sedutor da
faixa. O ar jazzístico típico faz de ‘Quase perdida’ uma canção atemporal na
obra do artista. Quase vinheta, impregnada pela sinuosa guitarra de Torquato
Mariano, a faixa-título encerra o álbum em clima de sublimação da cantada
amorosa, como se fosse a depuração da pop ‘Eu te devoro’ (1998).
Sem ter os achados radiofônicos de ‘Malásia’
(1996) ou a força conceitual de ‘Milagreiro’ (2001), ‘Rua dos amores’ se impõe
pela unidade obtida por Djavan, cantor e compositor que, ao se aproximar dos 40
anos de carreira, também se garante como belo harmonizador e músico
excepcional.
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