Dirigido pelo músico e arranjador Mario
Adnet, o recém-lançado CD ‘Amazônia – Na trilha da floresta’ (Adnet Musica/
Biscoito Fino) reúne canções inspiradas na (ainda) verde região Norte do país.
Seguindo o formato ‘orquestra e convidados’, Adnet mantém o alto padrão musical
de seu trabalho anterior, ‘Vinicius & os maestros’, ao se cercar de
instrumentistas excepcionais. Erudito e popular são harmonizados pela
sonoridade sinfônica do álbum que reproduz musicalmente a suntuosidade das
matas em temas como ‘Trilhas da floresta’ (Mario Adnet) e ‘Prelúdio 17’
(Claudio Santoro). ‘Rio Amazonas’ (Dori
Caymmi/ Paulo César Pinheiro) tem sua caudalosa beleza realçada pelo piano de
Marcos Nimrichter.
Neste clima extremamente delicado, vão
surgindo as vozes de Antônia Adnet, Lenine, Mônica Salmaso, Roberta Sá e
Vicente Nucci, solistas convidados por Mario para o projeto surgido a partir de
um convite do Ibope, em comemoração aos 70 anos de sua fundação. Antônia encara
a clássica ‘Rã’ (João Donato/ Caetano Veloso) com elegante suavidade, enquanto
o igualmente jovem Vicente Nucci defende as difíceis ‘Os rios’ (Claudio Nucci/
Juca Filho) e ‘Saci’ (Guinga/ Paulo César Pinheiro) com correção.
Talvez influenciado pelo reverente arranjo,
Lenine pareça preso ao registro original do maestro soberano em ‘O boto’ (Tom
Jobim), ainda que seus graves soem interessantes. Lançada por Milton Nascimento
no mítico disco ‘Clube da esquina 2’, ‘Canoa, canoa’ (Nelson Ângelo/ Fernando
Brant) não encontrou em Roberta Sá intérprete talhada para sua intensidade
poético-musical. Diante da viçosa produção de ‘Amazônia – Na trilha da
floresta’, o registro soa ainda mais desbotado. Roberta se sai melhor em
‘Amazonas II’ (João Donato/ Arnaldo Antunes/ Péricles Cavalcanti).
Assim como aconteceu em ‘Vinicius & os
maestros’, Mônica Salmaso rouba a cena ao colocar seu refinado canto a serviço
de pungentes interpretações de ‘Borzeguim’ (Tom Jobim) e ‘Uirapuru’ (Waldemar
Henrique). Cantora ímpar no panteão das canoras tupiniquins, Mônica tem o dom
de ressaltar belezas de composições das mais diferentes origens e épocas, sem
distinção.
Coube à tão profética quanto bela ‘Saudades
das selvas brasileiras’, do maestro Heitor Villa-Lobos (1887 – 1959), uma das
principais influências de Adnet, encerrar o belíssimo projeto. Estendendo as
comemorações de seu aniversário, bem que o Ibope poderia levar ‘Amazônia – Na
trilha da floresta’ às salas de aula desse país batizado com nome de árvore.
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