Poucos
artistas brasileiros roçaram a unanimidade como Pixinguinha. Um dos expoentes
da chamada música popular brasileira e do choro, gênero musical genuinamente
carioca, Alfredo da Rocha Viana Filho (1897 – 1973) é amado por gerações de
compatriotas. Com certeza, um amor incondicional pelo compositor de ‘Carinhoso’
pautou a escrita de ‘Pixinguinha, o gênio e o tempo’. Editado pela Casa da
Palavra, com patrocínio do NOS (Operador Nacional do Sistema Elétrico), através
da Lei Municipal de Incentivo à Cultura do Rio de Janeiro, o livro é de autoria
de André Diniz – escritor, historiador e chefe da representação do Ministério
da Cultura no Rio de Janeiro e Espírito Santo.
A
linguagem pop recorrente em outras publicações de André, como os Almanaques do
Samba, do Choro e do Carnaval, está lá, norteando a abordagem panorâmica da
vida e obra do biografado. A história segue sem maiores percalços (e
novidades), muitas vezes recorrendo a outros livros sobre Pixinguinha –
principalmente à biografia escrita por Sérgio Cabral em 1997 (editora Lumiar).
Contudo, o final do livro é surpreendente. Talvez o tom coloquial aproxime
leitores menos contumazes, mas ceder à tentação de adivinhar e descrever os
pensamentos de Pixinguinha nos momentos que antecederam sua morte soa folhetinesco
demais.
Ilustrado
por cerca de 150 fotografias, muitas delas inéditas, resultado do minucioso
trabalho de pesquisa feito por Renata Barros e Fabiana Almeida, ‘Pixinguinha, o
gênio e o tempo’ é uma verdadeira viagem iconográfica pelos cenários de um Rio
de Janeiro quase rural, abarcando o final de século XIX e o século XX.
Personagens como Joaquim Callado (1848-1880), João Pernambuco (1883 – 1947),
João da Baiana (1887 – 1974), Heitor Villa-Lobos (1887 – 1959), Donga (1890 –
1974), Noel Rosa (1910 – 1937) e Carmen Miranda (1909 – 1955) dividem as
páginas como os igualmente admiráveis, Vinicius de Moraes (1913 – 1980), Tom
Jobim (1927 – 1994), Elizeth Cardoso (1920 – 1990) e uma belíssima Ângela
Maria. Figuras com as quais Pixinguinha teve contatos e parcerias musicais,
encontros geradores de tramas que estão nos alicerces da música popular
brasileira. As transformações socioculturais provocadas pelo surgimento do
rádio e do cinema falado foram testemunhadas pelo notável compositor,
arranjador e instrumentista que sedimentou o choro.
Há
ainda um CD com gravações de ‘Carinhoso’, ‘Valsa dos Ausentes’, ‘Canção da
Odalisca’ (com a Orquestra Petrobras Sinfônica) e de ‘Lamentos’, ‘Marreco quer
água’ e ‘Querendo Bem’ (com a Orquestra Sinfônica de Recife), arranjadas
conforme os originais escritos por Pixinguinha – o “gênio da raça” para Tom, o
“santo” de Vinicius, Cabral e André Diniz. A lista de devotos, merecidamente,
não para de crescer.
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