Chama-se ‘Tempo’ (Independente/ Tratore) o disco que marca a
estreia da cantora e compositora Julia Bosco no mercado fonográfico. Filha de
peixe grande da MPB, Julia opta por linguagem pop contemporânea distante do
estilo inconfundível – e formidável – de seu pai, João Bosco. A produção musical de Plínio Profeta e Fabio
Santanna utiliza teclados sem parcimônia na maioria das treze faixas, todas
assinadas por Fabio, nove delas em parceria com Julia.
O universo abordado pelo casal nem sempre resulta em canções
interessantes, sendo que as melhores são exatamente as primeiras:
‘Desavisados’, ‘Curtição’ e ‘Na oração’, não por acaso assinadas a quatro mãos.
O nível cai nitidamente a partir da metade do disco, quando canções como ‘Play
a fool’ e ‘Carta para uma amiga’ soam enfadonhas.
Em participação especial, Marcos Valle injeta sua habitual
bossa em ‘Curtição’, talvez a mais radiofônica das faixas. Mas o grande momento
do disco é, indiscutivelmente, ‘Oração’.
Adornada pelo luxuoso violão de João Bosco, que ainda recita a estrofe
final, a canção ganhou vocalizes femininos onomatopaicos à moda do artista
mineiro.
Sem
grande extensão ou brilho especial, a voz de Julia se adequa melhor às faixas
mais balançadas, chegando a sugerir semelhanças com Fernanda Abreu em alguns
momentos. Está lançada a semente. Se os frutos virão, o ‘Tempo’ dirá.
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