Dez anos após ‘Pessoal do Ceará’, CD de
caráter revisionista dividido com os conterrâneos Belchior e Ednardo, Amelinha está
de volta com ‘Janelas do Brasil’, álbum que também marca sua estreia na
gravadora Joia Moderna.
Feminina voz do grupo de artistas nordestinos
que imigrou para o Sudeste na década de 1970, Amelinha emplacou sucessos
nacionais como ‘Frevo mulher’ (Zé Ramalho), ‘Foi Deus quem fez você’ (Luiz
Ramalho) e ‘Mulher nova, bonita e carinhosa faz o homem gemer sem sentir dor’
(Zé Ramalho/ Otacílio Batista) em tempos de emissoras de rádio (um pouco) mais
democráticas.
Embora tenha progressivamente desaparecido
dos veículos de comunicação a partir de meados da década de 1980, quando o
canto cortante e teatral de certa paraibana chamou a atenção – e o rock
tupiniquim tomou conta da mídia –, Amelinha permaneceu na memória do público. Intérprete
segura, de timbre docemente agreste, revelada no disco ‘Flor da paisagem’
(1977), ela encara com naturalidade reconfortante o repertório escolhido a dedo
para o seu retorno. Embalada pelos arranjos econômicos do violonista e diretor
musical Dino Barioni, a cantora conjuga momentos afetuosos nas clássicas ‘Terral’
(Ednardo), ‘Galos, noites e quintais’ (Belchior) e ‘Asa partida’ (Fagner/ Abel
Silva), e composições mais recentes – e não menos ternas – como ‘O silêncio’
(Zeca Baleiro) e ‘Felicidade’ (Marcelo Jeneci/ Chico César).
Vinicius de Moraes, com quem Amelinha excursionou
antes de ser conhecida nacionalmente, é lembrado em ‘Algum lugar’ – uma das
parcerias do poeta com a cantora e compositora Marília Medalha registrada no
álbum ‘Encontro e desencontro’ (1972).
Tão diluída pelo voraz mercado fonográfico, a
música sertaneja está presente em dois momentos admiráveis. ‘Planície de prata’
(Almir Sater/ Paulo Simões) e ‘Olhos profundos’ (Renato Teixeira) são
valorizados pelo canto sincero, sem afetação, de Amelinha.
A cantora romântica de ‘Água e luz’ (Ricardo
Magno/ Tavito, 1984) reitera sua boa forma na bonita ‘Quando fugias de mim’
(Alceu Valença/ Emmanoel Cavalcanti) e na singela ‘É necessário’ (Geraldo
Espíndola). Trilhas percorridas em ‘Ponta do Seixas’ (Cátia de França) fazem
ligação com ‘Pra seguir um violeiro’ (Amaro Penna), canção inédita que encerra
‘Janelas do Brasil’, bem-vindo regresso musical de Amelinha proporcionado pela
Joia Moderna. Outro disco a mostrar que há mais (interessantes) timbres no país
das cantoras do que querem nos fazer supor as programações das rádios atualmente.
Comentários