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Condenado à extinção, o CD resiste e proporciona belos momentos


As inevitáveis novidades tecnológicas (principalmente o surgimento do MP3) e os estragos causados pela pirataria fizeram com que a morte do Compact Disc fosse decretada. Mais desprezado pelas novíssimas gerações do público consumidor de música do que pelos artistas igualmente novos, o CD resiste bravamente ao fatal diagnóstico. Ele ainda é um importante meio de divulgação e perpetuação da obra de compositores, músicos e intérpretes, os mais diversos.
O surgimento dos selos musicais, independentes ou não da  grande indústria, contribuiu para a sobrevivência dos CDs. O mais novo no mercado é o 'Nossa música', distribuído pela gravadora Biscoito Fino. Através dele  o CD ‘Assunção de Maria e Geraldo Azevedo’ chegou às lojas no final de 2011 marcando a estreia fonográfica do poeta baiano em dueto com o cantor e compositor pernambucano. Produzido pelo craque Robertinho do Recife, responsável pelos melhores discos de Elba Ramalho na década de 1990, o bonito álbum da dupla apresenta temas caros e – muitas vezes – recorrentes na obra de Geraldo, como as cidades de Petrolina (PE) e Juazeiro (BA), em ‘Na 21’ (Geraldo Azevedo), e o rio São Francisco que as separa, em ‘Bola de gude’ (Assunção Maria).
Morador de Juazeiro desde a infância, Assunção de Maria homenageia o mais famoso cidadão do lugar, o cantor João Gilberto, em ‘Mão, voz, violão’ (parceria com Geraldo Azevedo e Maurício Dias). A delicada sonoridade de faixas como ‘Passarinho solto’ (Assunção de Maria), ‘Presente do céu’ (Assunção de Maria) e ‘Sempre verão’ (Geraldo Amaral/ Geraldo Azevedo) proporciona momentos de verdadeira calmaria para ouvidos menos acostumados à música feita longe das capitais.
A bela apresentação gráfica valoriza o álbum e faz a alegria daqueles que ainda preferem o “disco compacto” e o prazer táctil e visual proporcionado por encartes elaborados, com informações relevantes que nos auxiliam a conhecer a obra. Além, é claro, dos momentos agradáveis de muita música compartilhados com os mais chegados em volta do tocador de CD. Sensações comuns aos apreciadores dos antigos e ressuscitados long plays. Parece que os disquinhos ainda terão muitas horas de alta rotação.

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