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Mostrando postagens de 2012

Música, música...

Os mais diferentes estilos da música popular brasileira conviveram intensamente em 2012. Se a televisão buscou a trilha musical popularesca para suas novelas e programas de auditório, o cinema deu ao público pelo menos uma joia: o belíssimo documentário ‘A música segundo Tom Jobim’ .  Chico Buarque e Gal Costa iniciaram as vitoriosas turnês de lançamento dos álbuns ‘Chico’ e ‘Recanto’ . Caetano Veloso continuou apontando “diversas harmonias possíveis sem juízo final” em ‘Abraçaço’ , e uma nova força baiana, Mariene de Castro, chegou ao Rio de Janeiro arrebatando o público em apresentações vulcânicas. O fim do CD, anunciado e garantido por muita gente, foi adiado mais uma vez. Graças aos quase 2 milhões de súditos de Roberto Carlos que, motivados pelo sucesso ‘Esse cara sou eu’, mostraram que o compact disc pode ter vida (mais) longa. A gravadora Joia Moderna pôs na praça novos trabalhos de Célia e Amelinha , além de um belo tributo à obra de Guilherme Arantes , entre outr...

'Pra mim você é lindo' traz Katia B em sua melhor forma

A carioca Katia B chega ao quarto disco de sua bissexta discografia em sua melhor forma, conjugando diferentes vertentes da música popular brasileira – e até mesmo a principal canção de uma opereta iídiche de 1932, cujo verso traduzido dá nome ao disco: Bei Mir Bistu Du Shon  (Sholom Secunda e Jacob Jacobs) – ‘Pra mim você é lindo’. A cantora, que também produziu o CD ao lado de Bernardo Bosísio, ainda exercita o inglês ( Where is your? ) e o francês ( Le temps de I’amour , de Dutronc, Morisse e Salvet) em boas interpretações. Katia B(ronstein) atua em um setor da MPB nem sempre assimilável para o chamado grande público, uma elaborada música eletrônica distante dos clichês sonoros de remixes feitos para tocar no rádio. Ao canto econômico e sedutor, juntaram-se boas composições da artista como a linda ‘Aprendendo a viver’ (c/ Rubinho Jacobina), faixa que abre o disco.  O encanto permanece em ‘O baile’ (c/ Jam da Silva) e em ‘A tua vida é um segredo’, composição pouco co...

As novas mulheres de Péricles Cavalcanti

Concebido pelo DJ Zé Pedro, o CD ‘Mulheres de Péricles’, lançado este mês pela gravadora Joia Moderna, reúne 17 cantoras em 15 composições do artista carioca lançado por Gal Costa no disco ‘Temporada de verão’ (1974), com ‘Quem nasceu?’. A canção volta agora na voz de Laura Lavieri, que se sai bem longe do universo lúdico característico da obra de Marcelo Jeneci. Coprodutora da faixa, ao lado de Marcelo Callado, Nina Becker imprime delicadeza em ‘O céu e o som’, também lançada por Gal em 1974, no disco ‘Cantar’.  Do álbum ‘Caras e bocas’ (1977) vem o reggae ‘Clariô’, que ganha boa versão das cantoras Marietta Vidal e Miarah Rocha, embora a faixa produzida por Bruno Buarque e MAU não chegue perto da vivaz gravação da baiana, sobretudo do registro lançado em compacto duplo, que trazia também ‘Negro amor’. A versão em português assinada por Péricles e Caetano Veloso para It's All Over Now, Baby Blue  (Bob Dylan, 1965) é defendida por Karina Buhr, que acertadamente passa lon...

Na volta de Toni, Cidade Negra lança o fraco 'Hei, afro!'

‘Eu fui, voltei’, avisa Toni Garrido na faixa que abre ‘Hei, afro!’, CD que marca seu retorno ao Cidade Negra. A retórica supostamente engajada do agora power trio não consegue escamotear o festival de clichês assinados por Toni, Bino Farias e Lazão. Versos infantis como “Falar, até papagaio fala/ E garganta é bom com batata e agrião”, de ‘Só pra detonar’, “Se lembra do tempo da escravidão/ (o tempo não mudou) / levanta pra luta, comprar feijão”, da faixa-título, ou ainda “Posso até não ser rico/ dinheiro não é valor”, de ‘Mole de amor’, atestam a falta de criatividade pela qual os músicos passam. O que dizer de “perdemos o tato, depois o contato/ magia e mago estão no poder”, de ‘Contato’ (Toni/ Bino/ Lazão/ Alexandre Carlo)? Tampouco funciona a versão de ‘When love comes knockin’ (At your door)’ (Neil Sedaka/ Carole Bayer Sager), transformada em ‘Ninguém pode duvidar de Jah’. Tentando emular seus melhores momentos, o Cidade Negra mistura reggae e pop inconsistentes, sem alcan...

Bethânia surge bem acompanhada no DVD 'Noite luzidia'

Quando Maria Bethânia resolveu comemorar seus 35 anos de carreira em uma única apresentação no Canecão, a saudosa casa de espetáculos carioca, no dia 04 de setembro de 2001, sua aura de deidade intocável da MPB já estava cristalizada. A despeito das modestas vendagens de seus discos antecedentes, a cantora começava a conquistar um novo público que, junto com antigos fãs, constituíram a grande e fiel colmeia em volta da chamada “abelha rainha”. Saída há pouco tempo da gravadora EMI, por onde lançou o CD ‘Maricotinha’, Bethânia dava os primeiros passos em seu futuro castelo, a gravadora Biscoito Fino. Naquela noite memorável, idealizada pela empresária Maria Luisa Jucá, a baiana parecia genuinamente feliz ao receber artistas de diferentes quilates para relembrar seu passado e pontuar seu presente.   Entre Caetano Veloso (‘De manhã’, 1965), Gilberto Gil (‘Viramundo’, 1968, e ‘Lamento sertanejo’, 1974) e Chico Buarque (‘Sem fantasia’, 1968) seus principais compositores, Maria rece...

Olivia e Francis Hime preservam a delicadeza no CD 'Almamúsica - ao vivo'

Gravado em novembro de 2011 no Teatro Fecap, em São Paulo (SP), ‘Almamúsica – ao vivo’ reproduz no palco o clima intimista do delicado álbum homônimo , lançado por Olivia e Francis Hime no mesmo ano. Dividido em quadros, como são chamados por Francis os elegantes medleys temáticos, o show mantém o formado piano e voz(es). O roteiro visita a obra de Ary Barroso (1903 – 1962), Dorival Caymmi (1914 – 2008) e Vinicius de Moraes (1913 – 1980), entre outros grandes nomes da MPB, e incluiu também composições de artistas contemporâneos ao casal, como Caetano Veloso (‘Desde que o samba é samba’) e Chico Buarque (‘O que será – À flor da pele’). Da lavra de Francis Hime destaca-se ‘Existe um céu’, belíssima parceria com Geraldo Carneiro, já gravada por Simone. Conservando no espetáculo a intimidade que gerou o CD de estúdio, Olivia e Francis acertam novamente em ‘Almamúsica – ao vivo’ (Biscoito Fino).

Paulinho Boca de Cantor cai no forró

No ano do centenário de Luiz Gonzaga (1912 – 1989), a gravadora Biscoito Fino coloca nas lojas ‘Forró do Boca’, álbum que repõe em cena Paulinho Boca de Cantor. O baiano, que fez parte do grupo Novos Baianos, enfileira composições autorais e clássicos como ‘Na base da chinela’ (Jackson do Pandeiro/ Rosil Cavalcanti), ‘O xote das meninas’ (Zé Dantas/ Luiz Gonzaga) e ‘Sabiá’ (Zé Dantas/ Luiz Gonzaga) agrupados em pouts-pourris temáticos. Instrumento com o qual Gonzagão ensinou ao país como se dança o baião – e o xote, o coco e o xaxado, entre outros ritmos nordestinos –, a sanfona passeia pelas 14 faixas do CD de forma burocrática. Embora correto, o canto de Paulinho Boca de Cantor não chega a empolgar. Entre a mediana ‘Xote cardiovascular’ (Carlinhos Vergueiro/ Paulinho Boca/ Carlinhos Marques) e a equivocada ‘Seu preconceito’ (Luiz Caldas/ Paulinho Boca), o álbum carece do reconhecido vigor do velho Gonzaga, a quem a faixa ‘Se Seu Luiz tivesse vivo’ (Luiz Caldas/ Paulinho Boca) é...

Vergueiro volta aos temas autorais no CD 'Vida sonhada'

Após homenagear os ilustres parceiros Adoniran Barbosa (1910 – 1982) e Nelson Cavaquinho (1911 – 1986), Carlinhos Vergueiro coloca seus graves a serviço de temas autorais em ‘Vida sonhada’, álbum lançado pela gravadora Biscoito Fino. Produzido Aluízio Falcão, o CD apresenta bons sambas valorizados pelo piano de Amador Longhini Júnior, como ‘A seu dispor’ (Carlinhos Vergueiro) e ‘Samba da vida’ (Carlinhos Vergueiro/ J. Petrolino).  O ritmo carioca também dá o tom no eficiente ‘Sem refrão’ (Carlinhos Vergueiro/ Dora Vergueiro) e no mediano ‘Passa amanhã’ (Carlinhos Vergueiro/ Afonso Machado/ Dora Vergueiro). ‘Chorar sem fim’ (Carlinhos Vergueiro/ J. Petrolino) é interessante seresta com ares de fado, enquanto ‘Minha cabeça’ (Carlinhos Vergueiro), ‘Mina’ (Carlinhos Vergueiro/ J. Petrolino) e ‘Sempre’ (Carlinhos Vergueiro) trazem ecos da obra de Chico Buarque. A influência do parceiro de música e futebol também é perceptível em ‘Vida sonhada’ (Carlinhos Vergueiro/ J. Petrolino), bo...

Caetano Veloso segue arejando a MPB no CD 'Abraçaço'

“A bossa nova é foda”, sentencia Caetano Veloso na incisiva faixa que abre “Abraçaço”, seu 49º disco, lançado pela gravadora Universal Music. Completando a trilogia iniciada com ‘Cê’ (2006), seguida de ‘Zii e zie’ (2009), Caetano volta à áspera ambiência musical criada juntamente com Pedro Sá (guitarrista), Marcelo Callado (baterista) e Ricardo Dias Gomes (baixista) – a BandaCê – para restabelecer o experimentalismo dos últimos trabalhos, incluindo o (já) icônico álbum ‘Recanto’ (2011), de Gal Costa.  No jogo de palavras e charadas que constituem a ‘A bossa nova é foda’, Caetano provoca o ouvinte em versos como “diz que quando chegares aqui/ que é um dom que muito homem não tem/ que é influência do jazz", enquanto entroniza (uma vez mais) “o bruxo de Juazeiro”, João Gilberto, criador da famosa batida de violão que mudou timbres e rumos da música popular brasileira. Exercitando sua aptidão para a controvérsia, coloca no mesmo saco os célebres Vinicius de Moraes (1913  – ...

Fhernanda valoriza obra de Fátima Guedes em 'Passional'

Fã confessa da obra de Fátima Guedes, a cantora e compositora Fhernanda Fernandes apresentou na noite de 28 de novembro de 2012, no Teatro Rival Petrobrás, na Cinelândia (RJ), o show baseado no CD ‘Passional – As canções de Fátima Guedes’, recém-lançado pela gravadora Joia Moderna. Apresentadas ao grande público no mesmo Festival MPB/Shell, em 1980, as artistas tem em comum a elevada carga dramática que caracteriza determinada época da MPB. Vertidas para tango, samba-canção e blues pelos novos arranjos de Felipe Poli, ‘Cara a máscara’ (1979), ‘Passional’ (1979) e ‘Não te amo mais’ (1985) encontram na encorpada voz de Fhernanda a intérprete adequada. Seu timbre límpido de contralto também valoriza a mais recente ‘E agora?’ (2003), embora careça de um pouco mais de intensidade em ‘Tanto que aprendi de amor’ (1980), canção impecavelmente gravada por Alcione no CD ‘Promessa’ (1991). Outro bom momento da noite, o dueto com Fátima Guedes em ‘Dor medonha’ (1980), transformada em fado p...

'Memória da flor' expõe a bonita obra de Júnior Almeida

Quarto disco do cantor e compositor alagoano Júnior Almeida, ‘Memória da flor’ (MP’B Discos/ Universal Music) tem apenas dez faixas. Tal economia contribui para realçar a qualidade das composições do artista, que viu seu nome ser falado em 2009, quando Ney Matogrosso gravou ‘A cor do desejo’ (Jr. Almeida/ Ricardo Guima) no elogiado álbum/ show ‘Beijo bandido’. Em junho deste ano foi a vez de Mart’nália registrar ‘Os sinais’ (Jr. Almeida), uma das melhores faixas do CD ‘Não tente compreender’, produzido pelo alagoano Djavan. Assinados pelo baixista Fernando Nunes, os arranjos de ‘Memória da flor’ valorizam as intensas ‘A poesia’ (Danielle Cândido/ Jr. Almeida) e ‘Pequenas misérias’ (Fernando Fiúza/ Jr. Almeida), além da faixa-título, cantada em dueto com Ney Matogrosso. O tom rural/ interiorano que atravessa ‘Catarina’ (Fernando Fiúza/ Jr. Almeida) e ‘Tal sol, tal homem, tal Maria’ (Jr. Almeida), com a participação da cantora Irina Costa, aproxima a música de Júnior da obra de ...

Maria Bethânia entrelaça dramas no show 'Carta de amor'

Na estreia de seu novo show, ‘Carta de amor’, na noite de domingo, dia 18 de novembro de 2012, Maria Bethânia foi dona absoluta da cena. Utilizando todo o seu arsenal de poses e gestos teatrais para compensar certa insegurança com algumas letras lidas em um teleprompte r, como a incisiva 'Não enche' (Caetano Veloso), a baiana arrebatou o público que lotou a casa de espetáculos Vivo Rio, no Aterro do Flamengo (RJ). Semelhante ao imenso tapete que compõe o cenário assinado por Bia Lessa, Bethânia entrelaçou artesanalmente trechos de antigas e recentes apresentações, oferecendo ao público uma noite de ‘Canções e momentos’ (Milton Nascimento/ Fernando Brant) sem sobressaltos. A presença do maestro Wagner Tiso manteve o costumeiro padrão de qualidade dos shows da cantora, ainda que não tenha gerado uma mudança realmente significativa de sonoridade. O que não chega a ser um problema afinal, aos 47 anos de carreira, Maria Bethânia está entronizada no panteão das grandes intérpre...

DVD 'Batuques do meu lugar' celebra a música agregadora de Arlindo Cruz

Ainda garoto, Arlindo Cruz estreou profissionalmente tocando cavaquinho em um disco do mítico portelense Candeia (1935 – 1978). Mais tarde frequentou as rodas do Cacique de Ramos, de onde o samba saiu repaginado pela introdução do banjo, do repique de mão e do tantã. Durante doze anos integrou o Fundo de Quintal, grupo essencial na manutenção do gênero a partir de meados da década de 1980. Após formar dupla com Sombrinha, com quem lançou bons discos que merecem reedição, ele retomou a carreira solo, gravando seu primeiro DVD, ‘Pagode do Arlindo ao vivo’, em 2003. Ao lado dos amigos Zeca Pagodinho e Beth Carvalho, o sambista interpretou sucessos em um pagode de mesa armado na Barra da Tijuca, relembrando a famosa reunião de bambas organizada por ele em Cascadura, no início dos anos 1980. Com uma extensa lista de clássicos do samba carioca em seu currículo, o compositor viu o intérprete finalmente ser reconhecido a partir de 2007 com o lançamento do CD ‘O sambista perfeito’ (Deck),...

Em 'Redescobrir', Maria Rita se entrega à nostalgia de Elis Regina

Fenômeno que atinge diversas manifestações artísticas, o remake ou releitura contemporânea de obras (primas ou não) parece ter atingindo seu ápice. Vista como sintoma de uma hipotética crise criativa, ou causa e efeito da acomodação do público consumidor menos disposto a processar novidades, a releitura seduz igualmente artistas de diferentes gerações e a indústria cultural. O risco e a ruptura com o estabelecido foram banidos do conceito artístico recente em favor de uma aceitação mais abrangente, naturalmente visando ao lucro, ainda que tal atitude seja disfarçada quase sempre como “homenagem”. Recurso comumente empregado no cinema, principalmente nos estúdios de Hollywood, nos quais, além de recontar suas próprias histórias (‘A hora do espanto’ e ‘O vingador do futuro’, citando remakes recentes), são produzidas versões americanas de sucessos estrangeiros (‘O chamado’, ‘Água negra’), a releitura vem ganhando importância também na televisão brasileira. Entre equívocos (‘Gabrie...

A alta voltagem de ‘Lobão elétrico – Lino, sexy & brutal’

Lobão passou boa parte da última década se dedicando à TV, onde exerceu o papel de apresentador de programas na MTV. Mantendo a controvérsia que caracteriza sua carreira artística, lançou em 2010, ‘50 anos a mil’, autobiografia que logo entrou para as listas dos livros mais vendidos. Agora é a vez de chegar às lojas ‘Lobão elétrico – Lino, sexy & brutal’, registro audiovisual de sua mais recente turnê. Gravados em uma única noite em outubro deste ano, em São Paulo, o DVD e o CD lançados pela gravadora Deck trazem uma vigorosa exibição de rock’n’roll tupiniquim que enfileira sucessos como ‘Me chama’ (Lobão, 1984), ‘Decadence avec élegance’ (Lobão, 1985) e ‘Rádio blá’ (Lobão/ Arnaldo Brandão/ Tavinho Paes, 1987). Acompanhado por Duda Lima (baixo/ vocais), Armando Cardoso (bateria) e André Caccia Bava (guitarra/ vocais), Lobão também faz versões incendiárias de ‘Corações psicodélicos’ (Lobão/ Julio Barroso/ Bernardo Vilhena, 1984) e ‘O rock errou’ (Lobão/ Bernardo Vilhena, 19...

Ivete não decepciona seu público com o CD 'Real fantasia'

“Podem vir as congas/ Os timbales e os trompetes”, convida Ivete Sangalo em ‘Delira na guajira’ (Samir/ Fábio Alcântara), faixa de ‘Real fantasia’, seu novo disco lançado pela gravadora Universal Music. O sotaque latino decalcado do ritmo cubano é “novidade” entre os ingredientes do caldeirão de ritmos da cantora. Seguindo a receita testada – e aprovada – por anos, Ivete não arrisca: salsa, merengue, reggae, dance music, samba-rock e até mesmo o original samba-reggae, incrementados pela percussão baiana característica, compõem o inédito e fraco repertório da artista. Após o ambicioso projeto ‘Multishow ao Vivo – Ivete Sangalo no Madison Square Garden’, gravado na famosa casa nova-iorquina, mirando uma possível ascensão internacional (sobretudo nos países de língua anglo-saxônica), Ivete se volta para o público latino-americano. ‘Vejo o sol e a lua’ (Ramon Cruz) e ‘Puxa, puxa’ (Fabinho O´Brian/ Rubem Tavares/ Duller) são impregnadas de latinidade de boutique e banalidade. Ainda nest...

Adriana Partimpim pinta aquarela em tons pastéis

Depois de sua peculiar incursão pelo samba , Adriana Calcanhotto volta a reencarnar Partimpim e lança seu terceiro disco dedicado ao público infantil. O repertório composto predominantemente por regravações – apenas quatro canções são inéditas – recria clássicos, numa espécie de ‘Aquarela brasileira’, célebre série gravada por Emílio Santiago ao longo dos anos 1980/1990. Partimpim recorre à trilha sonora do seriado televisivo ‘Sítio do pica-pau amarelo’, de onde retira as pérolas ‘Passaredo’ (Francis Hime/ Chico Buarque, 1975) e ‘Tia Nastácia’ (Dorival Caymmi, adaptação de 1975). ‘Acalanto’, outra do mestre Dorival, encerra o CD que traz ainda ‘Taj-Mahal’ (Jorge Ben Jor, 1972), ‘Lindo lago do amor’ (Gonzaguinha, 1984), ‘O pato’ (Jayme Silva/ Neusa Teixeira, 1965) e ‘De onde vem o baião’ (Gilberto Gil, 1977), sem que as novas versões justifiquem tais escolhas em um álbum infantil. A bonita ‘Também você’ (João Callado/ Adriana Partimpim) é o destaque entre as inéditas. Parceria d...

Donato dá o tom em 'Felizes trópicos' de Augusto Martins

Lançado pela gravadora Fina Flor, o quinto CD do cantor e compositor carioca Augusto Martins é dedicado a João Donato. O balanço e a bossa perpetrados pelo grande artista acreano dão o tom em ‘Felizes trópicos’. Muito bem acompanhado pela excelente Orquestra Criôla, conduzida pelo saxofonista Humberto Araujo, Augusto passeia com habilidade por repertório predominantemente inédito que enfileira composições autorais medianas e faixas assinadas por Moacyr Luz (‘Mistura crioula’), Francis Hime e Celso Viáfora (‘Bantu-tupi’), Fred Martins e Marcelo Diniz (‘Refém’) e Júlio Dain (‘Big bang’). A participação de Paulinho Moska na faixa ‘Vai por mim’ (Humberto Araújo/ Augusto Martins) não atenua clichês de versos como “Agora é tudo ou nada” ou “A vida é um jogo/ A sorte está lançada”. Embora sem brilhantismos, a junção entre o samba e o cordel, proposta em ‘Sambordel’ (Fred Martins/ Augusto Martins) soa mais interessante. Não por acaso, os melhores momentos de ‘Felizes trópicos’ levam a ru...

'Bonito': A delicadeza pop de Daniel Lopes

“Eu quero ser cool/ mas não levo jeito”, cantava um sarcástico Daniel Lopes no CD de estreia do Les Pop, trio formado pelo cantor e compositor carioca, Rodrigo Maranhão e Thiago Antunes. Ironias à parte, o estilo ambicionado pelo artista dá o tom em ‘Bonito’, seu segundo disco solo, lançado pela gravadora Coqueiro Verde. A delicada textura do álbum produzido em parceria com Maycon Ananias realça a ambiência cool, distante do irresistível pop-rock do Les Pop, mas igualmente sedutora. A participação da Orquestra Filarmônica de Praga contribui para a aura apurada de ‘Bonito’. Daniel se aproxima da produção mais tradicional da MPB, como comprova a bonita faixa ‘Distância’ (Daniel Lopes/ Omar Salomão), que conta com a afetuosa participação de Milton Nascimento. Generoso, Lopes divide os vocais com as parceiras Luiza Souto e Talita Castro, em ‘Coldest heart’ e ‘Medo de avião’ respectivamente. O dueto com a cantora Lia Sabugosa em ‘Visão do mesmo’ (Juliana Didone/ Daniel Lopes) soa mais...

'Rua dos amores' evidencia a sofisticação de Djavan

Após dar voz a outros autores em ‘Ária’ (2010), Djavan volta a interpretar sua própria obra em ‘Rua dos amores’, álbum lançado pela Luanda Records, com distribuição da Universal Music. Primeiro disco de inéditas desde ‘Matizes’ (2007), ‘Rua dos amores’ é o resultado de um intenso momento autoral do artista alagoano: além das treze músicas, Djavan também assina a produção e os arranjos do disco. Evidenciando a sofisticação melódica e o senso rítmico que fazem o compositor dispor das palavras de um jeito peculiar, o vigésimo-primeiro CD de Djavan traz (re)conhecidas características de sua obra, como os elementos jazzísticos, realçados por excelentes músicos como Carlos Bala (baterista), Marcelo Mariano (baixo), Torquato Mariano (guitarra/ violão) e Paulo Calasans (teclado). O romantismo que inspirou sucessos como ‘Pétala’ (1982) e ‘Oceano’ (1989) dá o tom da trilha sonora desta “Rua”, por onde também passa a crítica política (‘Pode esquecer’). Mas são os diversos estágios do amo...

'Tropicália' segue a busca por novas narrativas

“Qual é a cola que juntou essas pessoas todas?”, pergunta, a certa altura, o Mutante Sérgio Dias Baptista, em ‘Tropicália’, documentário dirigido por Marcelo Machado, em cartaz nos cinemas brasileiros. Ao focalizar o movimento multicultural encabeçado por Caetano Veloso e Gilberto Gil no final dos anos 1960, o longa-metragem se apropria da dinâmica tropicalista, liquidificando imagens, música e personalidades, numa narrativa peculiar, distante do didatismo comum às produções do gênero. O trabalho do pesquisador Antônio Venâncio foi essencial. É impactante a sucessão das preciosas imagens que constituem registros de uma época de efervescência cultural que logo seria sabotada pela ditadura militar. Mais ainda o efeito causado pela explosão de cores que toma a tela durante a exibição das raríssimas cenas de Caetano e Gil cantando para uma multidão de pessoas na Ilha de Wight (Inglaterra, 1970). Já exilados, os baianos são apresentados pelo mestre de cerimônias como grandes artistas pr...

Mariene de Castro canta e samba pra valer

Após o consagrador show de lançamento do CD ‘Tabaroinha’, realizado em março de 2012, Mariene de Castro voltou a pisar no palco do Teatro Rival (RJ) na noite de sexta-feira, 14 de setembro (com outro show hoje, sábado), “pra cantar, pra sambar pra valer”. Único momento em que a baiana baixou os tons altos que permearam sua apresentação, a clássica ‘Eu vim da Bahia’ (Gilberto Gil) foi bela novidade do roteiro. Surpresa da primeira noite do show, o sambista Zeca Pagodinho encarou problemas técnicos no som de seu microfone e a potência vocal de Mariene durante o sucesso ‘Ogum’ (Claudemir/ Marquinhos PQD). Não é fácil acompanhar a vibrante artista. ‘Guerreira’ (João Nogueira/ Paulo César Pinheiro) foi cantada após Mariene anunciar a gravação do seu segundo DVD, dedicado à obra de Clara Nunes. O magnetismo e a autenticidade da cantora abalizam o projeto, embora as mesmas qualidades também reafirmem a beleza de seu canto, que não precisa de filtros e facilitadores para chegar ao gran...

Chico César mantém veemência em 'Aos vivos agora'

Em 1994 Chico César gravou seu primeiro CD, ‘Aos vivos’, no econômico formato voz-e-violão, durante três apresentações na Funarte de São Paulo (SP). Lançando um ano depois pela gravadora Velas, o disco se tornou um bem sucedido cartão de visitas do cantor e compositor paraibano. Com as participações especiais de Lenine e do mítico guitarrista Lanny Gordin, ‘Aos vivos’ apresentou ao país um artista inquieto que liquidificava referências e trazia novos sons para a música popular brasileira em músicas como ‘Mama África’ e ‘Á primeira vista’.  A partir daí, Chico viu suas composições serem disputadas por cantoras como Daniela Mercury, que voltou às paradas de sucesso com sua versão de ‘À primeira vista’, Maria Bethânia, que lançou a inédita ‘Onde estará o meu amor’, Elba Ramalho e Zizi Possi, que gravaram simultaneamente o aboio ‘Béradêro’. Quase duas décadas depois, Chico César refaz aquele repertório em ‘Aos vivos agora’, registro audiovisual das três apresentações que aconte...

Tulipa, livre, leve e solta

Dois anos após o promissor álbum de estreia, ‘Efêmera’, Tulipa Ruiz lança seu esperado segundo disco. Disponível para downloads no site oficial da artista, ‘Tudo tanto’ traz 11 composições inéditas assinadas por ela. Ainda que os temas explorados nas canções sejam por vezes intensos, há em ‘Tudo tanto’ uma leveza contagiante. Tulipa exala um frescor inexistente em muitas novatas que já nascem meras cópias de alguma cintilante estrela do vasto céu da MPB. No caso de Tulipa, não há apenas uma influência, há multiplicidade de referências sem que nenhuma delas se sobressaia a ponto de interferir inadequadamente em sua música. Destaque da cena indie , tão característica das novas gerações de músicos, sobretudo de São Paulo, Tulipa faz Música Pop Brasileira contemporânea, verdadeira lufada de ar fresco que poderia arejar as programações musicais das rádios, viciadas nas dores de amores de Anas, Marisas e congêneres. Tulipa imprime outros tons na batida discussão do relacionamento am...

Festejado show de Chico Buarque ganha excelente registro

Sexto registro ao vivo na discografia de Chico Buarque, o CD duplo ‘Na carreira’, lançado pela gravadora Biscoito Fino, perpetua o impecável repertório apresentado na turnê de divulgação do ótimo álbum ‘Chico’ (2011). Gravado durante a festejada temporada do artista na casa de espetáculos Vivo Rio (RJ), em fevereiro de 2012, ‘Na carreira’ enfileira antigas e novas composições do cantor e compositor carioca, cuja presença nos palcos é cada vez mais rara. Buarque reuniu preciosidades espalhadas por seus 45 anos de carreira e, felizmente, as dez belas músicas de ‘Chico’. Há espaço ainda para ‘Tereza da praia’, do mestre e parceiro Tom Jobim (e Billy Blanco), revivida com Wilson das Neves. Além do som excelente, a cargo de Luiz Leme, Fernando Ferrari e Fernando Prado, o refinado projeto gráfico assinado por Fabio Arruda e Rodrigo Bleque também merece destaque.

Vander Lee cai no samba sem deixar o romantismo de lado

“Minas Gerais também balança”, afirmou, de modo gaiato, o cantor e compositor Vander Lee na noite de sábado, 25 de agosto de 2012, no início do show ‘Sambarroco’, no Teatro Rival (RJ). Alinhando composições do recém-lançado CD homônimo, como ‘Boramar’, ‘Sambarroco’ e ‘Lado bamba’ (Vander Lee/ Thiago Delegado), com outras gravadas anteriormente, caso de ‘Passional’ e de ‘Baiana cover’, faixas de ‘No balanço do balaio’ (1999), o romântico Vander Lee explicitou o seu (já) longo flerte com o gênero musical mais identificado com o Rio de Janeiro e a Bahia. Sim, Minas sempre balançou e tem, entre seus expoentes, os notórios compositores Ary Barroso (1903 – 1964) e Geraldo Pereira (1918 – 1935) – este último apropriadamente lembrado por Vander Lee em ‘Falsa baiana’, antepassada de sua ‘Baiana cover’. O bom autor se sobressaiu ao cantor mediano, principalmente nos primeiros números, prejudicados pela dicção linear e pela emissão vocal deficitária do artista, que surgiu meio sem jeito no ...

Áurea Martins, uma senhora cantora

Quatro décadas após o lançamento de seu primeiro disco, ‘O amor em paz’ (1972), como parte da premiação pelo primeiro lugar no programa ‘A grande chance’, em 1969, Áurea Martins chega ao quinto álbum. Editado em CD e DVD pela gravadora Biscoito Fino, ‘Iluminante’ marca o primeiro registro audiovisual da septuagenária cantora escolada nas noites cariocas. “Áurea Martins tem aquela voz que já não existe mais. Voz densa, uterina, insidiosa e doce. As jovens cantoras de hoje são anasaladas, agudas; são gatas, gatinhas, ou então frenéticas. Não existem mais silêncios, suores e lágrimas. Onde ficou o cantar com densidade das moças de hoje?”, pergunta Fernanda Montenegro na apresentação do DVD. Reconhecidamente influenciada por Elizeth Cardoso, Áurea traz na garganta a textura aveludada e a emoção que garantem distinção às canções, seja um clássico de Tom Jobim (1927 – 1994) e Vinicius de Moraes (1913 – 1980) (‘Janelas abertas’, 1958) ou uma balada pop de Herbert Vianna e Paula Tolle...