Nascida no Ceará e radicada em São Paulo há 26 anos,
Mona Gadelha está lançando o álbum ‘Praia lírica, um tributo à canção cearense
dos anos 70 ’ ,
pela gravadora Brasilbizz Music. Como o título entrega, a cantora visita
repertório de conterrâneos que fizeram sucesso naquela década, quando eram
chamados de “pessoal do Ceará”.
Acompanhada pelo pianista Fernando Moura, que
também assina os arranjos, Mona empresta sua voz afinada para canções marcantes
como ‘Noturno’ (Caio Silvio/ Graco), eternizada por Fagner, ‘Paralelas’
(Belchior) e ‘Terral’, do mesmo Ednardo que a convidou, ainda menina, para
participar do disco e show ‘Massafeira’, em 1979.
O resultado nem sempre é satisfatório, o
canto suave e correto, porém sem força interpretativa, de Mona não se mostra adequado
em composições que exigem acentuada carga dramática como o tango ‘Retrato
marrom’ (Rodger Rogério/ Fausto Nilo) e a balada ‘Sensual’ (Belchior),
vinculadas ao repertório de Ney Matogrosso.
Os suculentos versos de ‘A manga rosa’
(Ednardo) perdem o gosto no despojado formato voz e piano. O mesmo se dá em
‘Noturno’, indissociável do canto passional de Fagner em seu registro original.
‘Galos, noites e quintais’ carece da veemente interpretação de seu autor,
Belchior, ou de Vanusa, no caso de ‘Paralelas’.
As versões das obscuras ‘La condessa’
(Ribamar Vaz/ Ricardo Bezerra/ Brandão), ‘Lupiscínica’ (Augusto Pontes/
Petrúcio Maia) e ‘Longarinas’ (Ednardo) se revelam mais eficazes, embora os
melhores momentos sejam as duas faixas iniciais. O sentimentalismo de ‘Astro
vagabundo’ (Fagner/ Fausto Nilo) e ‘Flor da paisagem’ (Robertinho do Recife/
Fausto Nilo) se destacam graças aos acertados arranjos de Moura.
O despojamento de ‘Praia lírica’ é seu
principal pecado. Nem sempre menos é mais. Ao encarar corajosamente um
repertório tão significativo, Mona Gadelha tentou levar para praias mais mansas
canções perpetuadas por fortes interpretações, sem conseguir fugir de
inevitáveis comparações. A cantora se sai melhor em ‘Salve a beleza’, disco
lançado no início deste ano, onde interessantes composições autorais como ‘A
dor’ e ‘Desolado samba’ são apresentadas com arranjos mais encorpados e
atraentes.
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