Em 2009, um grupo de músicos praticamente
desconhecidos chegou à Copenhague (Dinamarca) para representar a música brasileira
junto ao Comitê Organizador das Olimpíadas de 2016. Nada mal para os rapazes
oriundos de várias regiões do Brasil que se conheceram durante as férias na
paradisíaca cidade baiana de Caraíva.
Durante as apresentações nas noites
dinamarquesas, Alex Souza (violão/ voz), Alexandre Lora (pandeiro/ percussão/
vocal), Douglas Lora (violão 7 cordas), Duda Maia (bandolim), Fábio Luna
(cavaco/ voz/ flauta/ percussão) e Juninho Billy Joe (tantã/ voz/ percussão)
desfiaram o repertório do então recém-lançado CD batizado com o nome da banda, ‘Caraivana’:
‘Noites cariocas’ (Jacob do Bandolim), ‘Tico-tico no fubá’ (Zequinha de Abreu),
‘Naquele tempo’ (Pixinguinha e Benedito Lacerda), ‘Conversa de botequim’ (Noel
Rosa) e ‘Isto aqui o que é (Ary Barroso), entre outros clássicos.
Dois anos depois, o Caraivana lança ‘Ser
feliz’ (Maracaja/ Microservice) apostando em composições autorais. Samba, choro
e xote constituem o ótimo repertório do disco que contagia o ouvinte logo na
primeira audição. É impossível ficar indiferente à rica sonoridade de faixas
como ‘Saruê bengala’, ‘Cidoca’, ‘Coré, coré’, assinadas por Dudu Maia que, com
seu bandolim de dez cordas, vem revigorando o tradicional instrumento do choro.
Tradição e modernidade dialogam com fluidez nas 15 faixas do álbum gravado ao
vivo em estúdio. É notável o prazer desse encontro em faixas como ‘Liberta
coronha’ (Dudu Maia/ Fabio Luna).
As letras, quase ausentes no disco de
estreia, aparecem em faixas como ‘Ser feliz’ (Fabio Luna/ Alex Souza): “Ser
feliz/ aprender que a vida é todo dia/ pode até não ser só alegria/ Escolhi,
prefiro rir do que chorar/ Decidi não ter mais medo de mudar”. Inspirados no
recanto situado ao Sul da Bahia, os versos de ‘Eu nunca me acostumo com a
beleza do mar’ (Fabio Luna) reiteram o clima do CD: “Ser feliz não é um fim/
nem onde chegar/ É como você escolhe caminhar”. Não tem sessão de terapia que
valha! Músico experiente, que já tocou
com bambas como Zeca Pagodinho, Luna também é autor de ‘Muito obrigado’,
verdadeiro samba de enredo da escola do prazer: “Cada dia tá melhor/ nós
estamos com saúde/ e alegria de viver/ vou pra vida com vontade/ E só nos resta
agradecer”.
Por falar em Pagodinho, o delicioso samba
‘Tempo’, outro de Fabio Luna, parece ser sido feito na justa medida para um
disco de Zeca, como bem assinala o jornalista João Pimentel no release de ‘Ser
feliz’.
O brasiliense Alex Souza assina ‘Chora
(brilho no olhar)’ e ‘Capricha na pimenta’ sambas com a cara descompromissada
das melhores rodas de samba e choro onde entram também ‘Trinta e poucos’ e
‘Choro pra jé’, do paulista Douglas Loro. O xote está representado por ‘Neguinha
da pele clara’ (Juninho Billy Joe). Boa música de vários estilos.
Nos momentos mais calmos do CD, o Caraivana
também se sai muito bem, como na linda e dolente ‘Hotel paraíso’ (Dudu Maia/
Alex Souza) e em ‘Teu amor pra sempre’ (Alexandre Lora) que encerra o disco.
‘Ser feliz’ é nome mais do que adequado para o
álbum de uma turma ligada por laços da amizade e pelo prazer de produzir música
festejando o mágico dom de viver.
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