As fotos da capa e do encarte de ‘Cavaleiro selvagem aqui te sigo’, terceiro disco de Mariana Aydar, dão pistas sobre o conteúdo musical do álbum recém-lançado pela gravadora Universal Music. Travestida de heroína, Joanna D’Arc contemporânea, Mariana aparece em poses que indicam audácia, valentia – talvez inspiradas no tal cavaleiro do título.
Escoltada por seu fiel escudeiro Duani Martins e pelo maestro Letieres Leite, produtores do disco, a moça encara com ânimo o repertório basicamente constituído por regravações, ainda que apresente faixas autorais como a vinheta de abertura ‘A saga do cavaleiro’ (Guilherme Held/ Gustavo Di Dalva/ Letieres Leite/ Duani/ Aydar), que lembra nos primeiros segundos a versão de Fernanda Abreu para outro cavaleiro, ‘Jorge da Capadócia’ (Jorge Ben Jor).
Jazz, tango, xote, carimbó e outros ritmos processados no liquidificador de Letieres, hábil engenheiro da orquestra baiana Rumpilezz, distanciam a cantora do samba, fio condutor de seus outros trabalhos, descortinando paisagens igualmente interessantes. Caso da pouco conhecida ‘Os passionais’ (Dante Ozzeti/ Luiz Tatit), pinçada de ‘Ultrapássaro’, CD lançado por Dante em 2001, e de ‘Não foi em vão’ (Thalma de Freitas), tema da Orquestra Imperial recriado em clima afro-jazzístico.
Embora cante bem, Mariana não chega a emocionar com suas interpretações. Nem mesmo a transposição de ‘Vai vadiar’ (Ratinho/ Monarco) para um tango estilizado, semelhante ao que Marisa Monte fez com ‘Você não serve pra mim’ (Renato Barros) no show ‘Mais’ (1992), consegue imprimir tensão aos versos passionais do samba eternizado por Zeca Pagodinho em 1998.
Ela se sai melhor na estilosa roupagem de ‘Nine out of ten’, reggae tupiniquim lançado por Caetano no disco ‘Transa’ (1972). Já ‘Galope rasante’ (Zé Ramalho) ganha doçura pop que ameniza o sotaque agreste da canção vinculada ao repertório de Amelinha. As inspiradas águas que banham o ‘Porto’ (Romulo Fróes/ Nuno Ramos) parecem necessitar de sereia mais experiente. Que bela versão faria Jussara Silveira!
Acompanhada pela sanfona de Dominguinhos, Mariana rebobina a romântica ‘Preciso do seu sorriso’ (João Silva/ Enok Virgulino), xote do repertório do Trio Virgulino com suavidade. ‘O homem da perna de pau’ (Chico Xavier/ Edson Duarte), forró lançado por Edson Duarte na década de 1980, ganhou arranjo que remete ao tecnobrega paraense, destilando o ecletismo tão comum às interpretes atuais.
Em poucos anos de carreira, Maria Aydar vem se distanciando de outras colegas ao criar uma identidade para o seu trabalho. Ainda que possa investir (mais) em suas interpretações, a cantora paulista acerta ao dar ouvidos ao cavaleiro (nem tão) selvagem, ou melhor, à sua intuição.
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