Doze novas sereias da música popular brasileira foram reunidas pelo DJ Zé Pedro em ‘Literalmente loucas – As canções de Marina Lima’ (gravadora Joia Moderna), álbum no qual as composições (mais ou) menos conhecidas da cantora e compositora carioca ganharam releituras contemporâneas. Sintomaticamente, o projeto conduzido pela jornalista Patrícia Palumbo, apresenta coesão sonora que sublinha a cena musical atual que, apesar da notória procura por sons e texturas inusitados, é pontuada por guitarras de sotaque originário nas décadas de 1970/1980.
Dona de certa marra historicamente atribuída aos conterrâneos de Marina, a paulista Tulipa Ruiz reacende a sensualidade esperta de ‘Memória fora de hora’ (Marina Lima/ Antônio Cícero), de ‘Simples como fogo’ (1979). Com seu canto algo etéreo, Tulipa transforma a faixa de abertura em um dos melhores momentos de ‘Literalmente loucas’, confirmando os merecidos elogios que vem recebendo da crítica especializada. O ótimo arranjo de Gustavo Ruiz (guitarra/ baixo/ programações) também merece destaque. 'Quem é esse rapaz’ (Marina Lima/ Antônio Cícero), de ‘Certos acordes’ (1981), ganha correta gravação de Andreia Dias em faixa de acentuado clima kitsch, graças às guitarras de Arthur Kunz. Carioca radicada em São Paulo, Bárbara Eugênia invoca ecos do BRock oitentista em ‘Por querer (Todas)’ (Marina lima/ Antônio Cícero), de ‘Todas’ (1986). Lembrando em breves momentos, o registro vocal da própria homenageada, a baiana Márcia Castro se apropria de ‘Meu doce amor’ (Marina Lima/ Duda Machado) conduzindo a canção para longe dos cortantes e passionais agudos de Gal Costa em ‘Caras e bocas’ (1977). O ótimo arranjo de ‘Confessional’ (Marina Lima), de ‘Virgem’ (1987), é bela cama sonora para a voz afinada de Karina Zeviani. Descolada cantada amorosa, tão presente na parceria de Mariana e Cícero, ‘Bobagens, meu filho, bobagens’, lançada por Caetano Veloso em ‘Uns’ (1983), ganha versão desbotada de Graziela Medori. Cores não faltam na interpretação de Anelis Assumpção para ‘À meia voz’ (Marina Lima/ Antônio Cícero). Ofuscada pelos sucessos ‘Não sei dançar’, ‘Acontecimentos’, ‘Criança’ e ‘Grávida’, a bela e sensível ‘O meu sim’ (Marina Lima/ Antônio Cícero), de ‘Marina Lima’ (1991), encontrou em Nina Becker a suavidade necessária. Outra faixa de ‘Simples como fogo’ (1979), disco de estreia de Marina, ‘Tão fácil’ (Marina Lima/ Antônio Cícero) é defendida com desenvoltura por Karina Buhr. Outrora censurada, ‘Alma caiada’ (Marina Lima/ Antônio Cícero), gravada por Zizi Possi em ‘Pedaço de mim’ (1979), transforma-se em momento menos interessante do álbum na voz de Iara Rennó. Enquanto Joanna Flor acerta ao fazer samba moderninho em ‘Seu nome’ (Marina Lima/ Antônio Cícero), de ‘Certos acordes’ (1981), a indiferente ambiência eletrônica e a interpretação ralentada de Claudia Dorei diluem a tensão original de ‘O solo da paixão’ (Marina Lima/ Antônio Cícero), faixa de ‘Registros à meia voz’ (1996) – primeiro disco onde Marina expôs publicamente suas perdas vocais. ‘Literalmente loucas – As canções de Marina Lima’ é mais um acerto da gravadora capitaneada por Zé Pedro, reconhecidamente fã das cantoras de todas as épocas. Em diversos níveis de sedução, as neo-sereias da canção brasileira emprestam seu canto para as composições de Marina Lima, autora de joias sempre modernas.
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