Além de Carmen Miranda, Dalva de Oliveira, Maria Callas, Marília Pera já transformou em muitas outras estrelas da música brasileira e internacional ao longo de sua longeva e gloriosa carreira. Ela estreou nos palcos em 1948 interpretando a filha da atriz francesa Henriette Morineau na peça ‘Medéia’, de Eurípedes. Para as gerações que a conhecem apenas por seus personagens tragicômicos em novelas globais, ou ainda pela histriônica interpretação de ‘120... 150... 200 km por hora’ (Erasmo Carlos/ Roberto Carlos) no show ‘Elas cantam Roberto’ (2009), durante os festejos pelos 50 anos de carreira do Rei, a reedição do álbum ‘Feiticeira’ recupera/apresenta outros encantos de Marília.
Lançada originalmente no distante ano de 1975, a trilha sonora do espetáculo de mesmo nome, estrelado pela atriz, ganha versão em CD produzida por Thiago Marques Luiz para a gravadora Joia Moderna. Concebido pela Marília e por Nelson Motta (na época, seu marido), com roteiro de Fauzi Arap e do próprio Nelson, a combinação de música, poesia e teatro dirigida por Aderbal Júnior não foi bem aceita pelo público da época. Ainda assim, as canções mereceram registro através da gravadora Som Livre. Produzido por Nelson e Guto Graça Mello, o álbum saiu pela Série Super Luxo, com direito a capa dupla e tratamento gráfico especial, além das participações de futuros nomes de destaque na música popular brasileira. ‘Feiticeira’ marca a estreia em disco de Eduardo Dussek como compositor da marchinha ‘Alô alô Brasil’, inspirada na atriz. A clara e feliz interpretação de Marília nos remete à tradição do teatro de revista. Não obstante, a composição do novato Dussek precede a humorística ‘Canção pra inglês ver’, de Lamartine Babo, genial autor de pérolas musicais que contribuíram para o desenvolvimento do gênero teatral.
Gravado no ano anterior no segundo e derradeiro disco do trio Secos e Molhados, ainda com Ney Matogrosso em sua formação, ‘Não digas nada’, poema de Fernando Pessoa musicado por João Ricardo, recebe sua segunda versão. Como não pensar na influência de Fauzi, diretor de ‘Rosa dos ventos’, show a partir do qual Maria Bethânia passou a declamar poemas do poeta português? Aliás, o bonito bolero ‘A cara do espelho’, encaixar-se-ia perfeitamente no repertório do álbum ‘Talismã’, lançado por Bethânia em 1980. Walter Franco, então no auge do sucesso, participa da faixa de abertura, ‘Dança da feiticeira’ (Guto Graça Mello/ Nelson Motta). Luli e Lucina harmonizam a bela ‘Bentevi’.
Talvez a canção mais conhecida de ‘Feiticeira’, ‘Samba dos animais’ (Jorge Mautner) merece interpretação sem floreios de Marília, numa “simplicidade” no cantar perceptível em outros momentos do álbum. Outro “maldito”, Jards Macalé também está presente na densa ‘Sem essa’ (com Duda). A soturna ‘O medo’, de um Alceu Valença ainda desconhecido, dá pistas da opressão vivida durante a ditadura militar, assim como ‘Estado de choque’ (Guto Graça Mello/ Nelson Motta), perpassada pelo trompete nervoso de Marcio Montarroyos (1949 – 2007).
Geraldo Azevedo fez a adaptação de ‘A natureza’ (Zé Vicente da Paraíba/ Passarinho do Norte) e participa da faixa tocando violão. Marília aproveita suas habilidades de atriz e dá veracidade ao repente.
Antevendo os frenetics dancing days, ‘Avô do Jabor’ (Nelson Motta) traz a participação do Vímana, conjunto formado por Lobão, Lulu Santos e Ritchie, e a sonoridade embrionária do grupo que, a partir do ano seguinte, convidaria o País a cair na gandaia: As Frenéticas – não por acaso criado por Nelson e que traria em sua formação, Sandra Pera, irmã de Marília.
Enquanto aprimorava a arte de se transformar em outras, Marília Pera registrou em disco sua persona cantora em um momento especial que merece novos olhares. E ouvidos.
Gravado no ano anterior no segundo e derradeiro disco do trio Secos e Molhados, ainda com Ney Matogrosso em sua formação, ‘Não digas nada’, poema de Fernando Pessoa musicado por João Ricardo, recebe sua segunda versão. Como não pensar na influência de Fauzi, diretor de ‘Rosa dos ventos’, show a partir do qual Maria Bethânia passou a declamar poemas do poeta português? Aliás, o bonito bolero ‘A cara do espelho’, encaixar-se-ia perfeitamente no repertório do álbum ‘Talismã’, lançado por Bethânia em 1980. Walter Franco, então no auge do sucesso, participa da faixa de abertura, ‘Dança da feiticeira’ (Guto Graça Mello/ Nelson Motta). Luli e Lucina harmonizam a bela ‘Bentevi’.
Talvez a canção mais conhecida de ‘Feiticeira’, ‘Samba dos animais’ (Jorge Mautner) merece interpretação sem floreios de Marília, numa “simplicidade” no cantar perceptível em outros momentos do álbum. Outro “maldito”, Jards Macalé também está presente na densa ‘Sem essa’ (com Duda). A soturna ‘O medo’, de um Alceu Valença ainda desconhecido, dá pistas da opressão vivida durante a ditadura militar, assim como ‘Estado de choque’ (Guto Graça Mello/ Nelson Motta), perpassada pelo trompete nervoso de Marcio Montarroyos (1949 – 2007).
Geraldo Azevedo fez a adaptação de ‘A natureza’ (Zé Vicente da Paraíba/ Passarinho do Norte) e participa da faixa tocando violão. Marília aproveita suas habilidades de atriz e dá veracidade ao repente.
Antevendo os frenetics dancing days, ‘Avô do Jabor’ (Nelson Motta) traz a participação do Vímana, conjunto formado por Lobão, Lulu Santos e Ritchie, e a sonoridade embrionária do grupo que, a partir do ano seguinte, convidaria o País a cair na gandaia: As Frenéticas – não por acaso criado por Nelson e que traria em sua formação, Sandra Pera, irmã de Marília.
Enquanto aprimorava a arte de se transformar em outras, Marília Pera registrou em disco sua persona cantora em um momento especial que merece novos olhares. E ouvidos.
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abs