Integrante do grupo ‘Mulheres que cantam Chico’, cantora, compositora e instrumentista formada pela Escola de Música Villa-Lobos, Gabi Buarque coloca sua doce voz a serviço de variados ritmos em seu disco de estreia. ‘Deixo-me acontecer’ (título retirado do livro ‘Água viva’, de Clarice Lispector) apresenta econômicas nove faixas, oito delas assinadas pela artista carioca (algumas em parceiras), com arranjos e direção musical de Miguel Martins
Apresentada pelos renomados poetas/ letristas da música popular brasileira, Hermínio Bello de Carvalho e Sérgio Natureza, Gabi Buarque trafega com segurança pelas quebradas do samba, coco e maracatu, e aporta com serenidade nas canções. O lirismo do choro ‘Prosa em lá’ (Kalu Coelho/ Gabi), faixa que abre o disco, roça o universo musical do famoso primo distante, Chico Buarque.
Do alto de tenros 28 anos, contrariando os famosos versos de ‘Esses moços’, do gaúcho Lupicínio Rodrigues, Gabi entrega: “Eu, de amores, já sofri/ falo com propriedade”, na bela ‘Sofri sim’, um dos melhores momentos de ‘Deixo-me acontecer’. E a moça acontece ao incursionar, com habilidade, pelo universo essencialmente masculino do samba de breque em ‘Eu sei’. Os arquétipos do gênero musical carioca (o morro, o batuque e seus personagens) rendem, ainda, outro bom instante em ‘Mulato do samba’.
Exibindo ritmo próprio, distante do imediatismo da cena contemporânea, Gabi Buarque entrega ao ouvinte um delicado trabalho, feito sem pressa, com o cuidado inerente a uma artesã.
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