Lançado em março deste ano, ‘O micróbio do samba’ (Sony Music) reúne doze composições (dez inéditas) da gaúcha Adriana Calcanhotto sobre o gênero musical que deu régua e compasso à música popular brasileira, sobretudo a cariocas e baianos. Mesmo carregando o tal micróbio citado pelo conterrâneo Lupicínio Rodrigues (1914 – 1974), a música de Adriana não animará rodas, nem será batucada nos quintais e esquinas da cidade.
Auxiliada por Alberto Continentino (baixo) e Domenico Lancelotti (bateria e percussão), Adriana (voz, violão, piano, guitarra, cuíca, caixa de fósforos e bandeja) altera o samba um tanto assim, filtrando seu universo característico através da ambiência pretensamente descolada e elegante que permeia a produção musical contemporânea. As participações de músicos como Davi Moraes, Moreno Veloso e Rodrigo Amarante evidenciam esta opção que, certamente desagradará conservadores, podendo reacender antigas discussões. Mesmo estando na base da maioria dos gêneros musicais brasileiros, o samba suscita preconceitos inclusive entre suas variadas turmas.
Pontuadas pela batida bossa-novista do violão de Adriana, as faixas de ‘O micróbio do samba’ poderiam estar perfeitamente inseridas no repertório dos álbuns mais recentes da cantora e compositora, que faz versões interessantes de sambas alheios desde o primeiro CD, ‘Enguiço’ (1990), quando sua música era menos “cabeça” e sua interpretação menos monocórdia.
Em sua distinta batucada, Calcanhotto inverte papéis ainda hoje bem delineados no mundo do samba. O faixas como ‘Pode se remoer’ (um axé light) e ‘Tá na minha hora’ (“te deixo a geladeira cheia e sem promessa/ que findo o carnaval eu tô de volta”) ou se finge dominada em ‘Mais perfumado’ (“ele acredita que me engano/ pensa que sabe mentir, o homem que eu amo”).
Mesmo distante da reverência da turma da Lapa, o samba de Adriana ecoa o bairro boêmio em uma das melhores faixas do disco, ‘Beijo sem’, espécie de carta de princípios das liberadas frequentadoras da noite carioca, gravado por Teresa Cristina e Marisa Monte (para quem foi composto), em 2009 – ano em que Simone gravou o ótimo 'Certas noites' (Dé Palmeira/ Adriana Calcanhotto), no CD 'Na Veia'. Outro destaque é ‘Vai saber?’, feito por encomenda para Mart’nália, que acabou gravado por Marisa no CD ‘Universo ao meu redor’ (2006). O samba de Adriana ganha colorido especial em outras vozes.
Com ares do Recôncavo Baiano e a participação especial de Moreno Veloso (prato e faca), ‘Você disse não lembrar’ não foge da tristeza atrelada ao gênero, desde que o samba é samba: “Você disse não lembrar/ Do que eu não sei esquecer” constatam os belos versos. Outro bom momento é ‘Já reparô?’, parceria com Dadi, cujo arranjo sincopado roça a tradição.
Elástico, o samba de Calcanhotto compreende a marcha-rancho ‘Tão chic’ e a enfadonha ‘Deixa, gueixa’, mais apropriada ao repertório infanto-juvenil de Adriana Partimpim ou àqueles equivocados concursos que tentam recriar a fase áurea das marchinhas carnavalescas. Com predominante aura cool, o samba de Adriana Calcanhotto atravessa a batucada dos nossos tantãs. Nem melhor nem pior, apenas diferente.
Auxiliada por Alberto Continentino (baixo) e Domenico Lancelotti (bateria e percussão), Adriana (voz, violão, piano, guitarra, cuíca, caixa de fósforos e bandeja) altera o samba um tanto assim, filtrando seu universo característico através da ambiência pretensamente descolada e elegante que permeia a produção musical contemporânea. As participações de músicos como Davi Moraes, Moreno Veloso e Rodrigo Amarante evidenciam esta opção que, certamente desagradará conservadores, podendo reacender antigas discussões. Mesmo estando na base da maioria dos gêneros musicais brasileiros, o samba suscita preconceitos inclusive entre suas variadas turmas.
Pontuadas pela batida bossa-novista do violão de Adriana, as faixas de ‘O micróbio do samba’ poderiam estar perfeitamente inseridas no repertório dos álbuns mais recentes da cantora e compositora, que faz versões interessantes de sambas alheios desde o primeiro CD, ‘Enguiço’ (1990), quando sua música era menos “cabeça” e sua interpretação menos monocórdia.
Em sua distinta batucada, Calcanhotto inverte papéis ainda hoje bem delineados no mundo do samba. O faixas como ‘Pode se remoer’ (um axé light) e ‘Tá na minha hora’ (“te deixo a geladeira cheia e sem promessa/ que findo o carnaval eu tô de volta”) ou se finge dominada em ‘Mais perfumado’ (“ele acredita que me engano/ pensa que sabe mentir, o homem que eu amo”).
Mesmo distante da reverência da turma da Lapa, o samba de Adriana ecoa o bairro boêmio em uma das melhores faixas do disco, ‘Beijo sem’, espécie de carta de princípios das liberadas frequentadoras da noite carioca, gravado por Teresa Cristina e Marisa Monte (para quem foi composto), em 2009 – ano em que Simone gravou o ótimo 'Certas noites' (Dé Palmeira/ Adriana Calcanhotto), no CD 'Na Veia'. Outro destaque é ‘Vai saber?’, feito por encomenda para Mart’nália, que acabou gravado por Marisa no CD ‘Universo ao meu redor’ (2006). O samba de Adriana ganha colorido especial em outras vozes.
Com ares do Recôncavo Baiano e a participação especial de Moreno Veloso (prato e faca), ‘Você disse não lembrar’ não foge da tristeza atrelada ao gênero, desde que o samba é samba: “Você disse não lembrar/ Do que eu não sei esquecer” constatam os belos versos. Outro bom momento é ‘Já reparô?’, parceria com Dadi, cujo arranjo sincopado roça a tradição.
Elástico, o samba de Calcanhotto compreende a marcha-rancho ‘Tão chic’ e a enfadonha ‘Deixa, gueixa’, mais apropriada ao repertório infanto-juvenil de Adriana Partimpim ou àqueles equivocados concursos que tentam recriar a fase áurea das marchinhas carnavalescas. Com predominante aura cool, o samba de Adriana Calcanhotto atravessa a batucada dos nossos tantãs. Nem melhor nem pior, apenas diferente.
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